Folha de São Paulo
É preciso, ainda, reconhecer uma virtude em Dilma.
Ela até caminha prazenteiramente para o abismo, mas, quando vê o precipício, refuga e não salta, ao contrário de uma Cristina Kirchner ou um Nicolás Maduro. Ainda que muito a contragosto e de forma claudicante, ela agora está fazendo o que é preciso para evitar que a economia se deteriore mais.
Quase a metade dos brasileiros (47%) considera a presidente Dilma
Rousseff desonesta. Para 54%, ela é só falsa. Esses dados, que saíram da
pesquisa Datafolha publicada no fim de semana, devem estar doendo no
fundo da alma da presidente. Exceto no caso de cleptocratas patológicos,
o que move políticos é, em última instância, o desejo de ser amado por
todos.
O baque, porém, é justo. A mandatária nem sequer fingiu guardar um luto
decente antes de começar a adotar as medidas que não só prometera jamais
aplicar como ainda acusara seus adversários de planejar. O problema, é
claro, não está nas medidas, cujo sentido geral é correto, mas no fato
de ter enganado o eleitor. Segundo o Datafolha, 60% consideram que ela
mentiu na campanha.
Seria precipitado, porém, ver aí o colapso do governo Dilma.
Para o bem e para o mal, a raiva é uma emoção quente, que não se sustenta por muito tempo. Logo denúncias envolvendo parlamentares se tornarão públicas e a carga de indignação deve, senão arrefecer, ao menos distribuir-se de modo mais equânime.
Para o bem e para o mal, a raiva é uma emoção quente, que não se sustenta por muito tempo. Logo denúncias envolvendo parlamentares se tornarão públicas e a carga de indignação deve, senão arrefecer, ao menos distribuir-se de modo mais equânime.
É preciso, ainda, reconhecer uma virtude em Dilma.
Ela até caminha prazenteiramente para o abismo, mas, quando vê o precipício, refuga e não salta, ao contrário de uma Cristina Kirchner ou um Nicolás Maduro. Ainda que muito a contragosto e de forma claudicante, ela agora está fazendo o que é preciso para evitar que a economia se deteriore mais.
Crises trazem uma boa dose de sofrimento para a população, mas são
também uma oportunidade para o país avançar institucionalmente. Seria
importante aproveitar uma conjuntura de Executivo e Legislativo
enfraquecidos para aprovar uma agenda de reforma do Estado que reduza o
poder discricionário de autoridades (fonte de corrupção e ineficiência) e
o substitua por rotinas e processos tão impessoais quanto possível. A
Magna Carta, vale lembrar, surgiu de um rei fracassado.
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