Editorial do Estadão prevê dias duríssimos para o país - mas ainda mais
duros para Dilma e o lulopetismo. Que não lhes falte pá de cal:
Surpresos e alarmados com a forte queda nos índices de avaliação da
presidente Dilma Rousseff, o governo e o PT se articulam, não
necessariamente entre si, para recolher os cacos da desastrada atuação
da criatura de Lula em todas as frentes, da política à econômica, obra
que em seu conjunto é tida como a mais grave ameaça concreta, em 12
anos, ao projeto de poder do lulopetismo.
Em apenas dois meses, como revelou pesquisa Datafolha, despencou
quase à metade, de 42% para 23%, o número de brasileiros que consideram
ótimo/bom o governo de Dilma, enquanto aumentou de 24% para 44% o
daqueles que o julgam ruim/péssimo. É o reflexo do choque de realidade
pós-eleitoral para o qual a chefe do governo contribui decisivamente com
a soberba e a teimosia que inspiram suas decisões quase sempre
balizadas por uma bitola ideológica estreita e arcaica. A escalação da
equipe econômica foi, pelo menos até aqui, uma surpreendente exceção a
essa regra.
Ganhar a Presidência por estreita margem de votos nas urnas em
outubro havia sido uma dificuldade desconhecida pelo PT nos três pleitos
anteriores. Pesaram decisivamente no resultado eleitoral a raspa do
tacho da credibilidade do lulopetismo nas camadas mais populares do
eleitorado e também, talvez decisivamente, o despudor com que o
marketing da campanha submeteu os brasileiros ao terrorismo eleitoral,
lançando na conta dos adversários o espectro da fome e do desemprego.
O pior, contudo, vê-se agora, foi a falta de escrúpulos com a qual a
campanha petista mentiu sobre a intocabilidade dos benefícios
trabalhistas, acusando os adversários de planejar o retorno à
estabilidade econômica à custa de conquistas sociais, para no dia
seguinte à posse o governo anunciar "correções" de algumas "distorções"
daqueles benefícios. Hoje, ministros e dirigentes petistas enfatizam a
necessidade de "explicar as medidas do governo".
Mas o que compromete a
credibilidade de Dilma é, menos do que o efeito dessas medidas, o fato
de a então candidata ter mentido sobre elas. Uma grande mentira que se
explicitou no momento em que Dilma cedeu à imposição dos fatos e
contrariou suas próprias convicções ao nomear uma equipe "neoliberal",
sob o comando de Joaquim Levy, para enfrentar o desafio de, desde logo,
botar as contas do governo em ordem.
Acresce a isso, decisivamente, o
escândalo da Petrobrás, que macula indelevelmente personagens
favorecidos por frequentadores e aliados do Planalto e respinga na chapa
vencedora do pleito de 2014, beneficiados por dinheiro de procedência
mais do que duvidosa. Compromete Dilma sua incapacidade de dialogar e de
se articular com os demais protagonistas da cena política -
consequência do voluntarismo de quem se julga onisciente. É conhecida a
falta de disposição de Dilma para o chamado jogo político.
Isso até
poderia ser visto como mérito, quando se leva em conta o nível de
fisiologismo a que o jogo político foi rebaixado durante os oito anos de
Lula, a pretexto de garantir a "governabilidade". Mas Dilma nada fez
para sanear o pântano moral criado por seu mentor. Ao contrário,
serviu-se dele quando conveniente e não será torcendo o nariz, fingindo
que resolve tudo sozinha e deixando o jogo correr que a presidente
conseguirá governar.
A aversão da presidente ao diálogo é tão profunda que nem mesmo com
seu partido ela conversa. Reduziu o núcleo duro do poder a um punhado de
políticos com os quais tem afinidades ideológicas - ou que trocam a
fidelidade à chefe pela possibilidade de desenvolver projetos políticos
ou pessoais próprios. Assim, alijou do seu círculo próximo a corrente
majoritária do PT e aquele que é ainda seu maior símbolo e liderança.
Nesse cenário ameaçador para seu projeto de poder, o PT, Lula à
frente, vai ter de encontrar seu caminho apesar do governo. O escândalo
da Petrobrás, que entra agora na fase mais polêmica, a do indiciamento
dos políticos; a vigorosa reação do maior aliado, o PMDB, à frustrada
tentativa de Dilma de minar seu poder no Congresso; as previsões
pessimistas sobre a recuperação da economia no curto prazo; a corrosão
do apoio popular à presidente e a possível volta das manifestações de
rua - tudo isso anuncia dias difíceis para o País.
Piores ainda para o
PT, e que se tornarão intoleráveis se, finalmente, a oposição decidir
desempenhar o papel para o qual foi eleita.
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