Publicado em 07/02/15 às 11h05
BLOG BALAIO DO KOTSCHO
Atualizado às 9h30 de 8.2
A velocidade dos acontecimentos e o noticiário das últimas horas, com a
divulgação do novo Datafolha, que mostra o rápido derretimento da popularidade
da presidente Dilma Rousseff, tornaram obsoleto o texto abaixo sobre um
grande debate nacional para discutir a reforma política.
Seria como discutir medidas de prevenção de incêndio numa casa que está
pegando fogo. Não há o menor clima para isso, nem interesse de parte a
parte. Agora é guerra, ninguém quer saber de diálogo nem de debate.
Pelo furor mostrado nos comentários, aqui e em outros sítios que
reproduziram o post do Balaio, a maioria dos leitores só quer uma coisa: o
impeachment de Dilma.
Se depender do Congresso, do Judiciário e da maior parte da mídia, a
presidente e o PT já perderam esta batalha, e não tem retorno. Segundo o
Datafolha, só um em cada quatro brasileiros ainda a apoiam. Tudo
agora é só uma questão de tempo. O resto é passado.
***
Ao final desta medonha primeira semana de fevereiro, em que tanta coisa
negativa aconteceu, elevando a temperatura política a um grau próximo da ebulição,
está na hora de todo mundo baixar a bola e começar a pensar mais no Brasil.
Quais são os planos, projetos, saídas que temos a oferecer? Estamos todos,
afinal, no mesmo barco.
Está na hora de parar de falar em impeachment, como se esse fosse um
evento previsto no calendário, a exemplo do Carnaval e do Natal. Vivemos ainda
numa democracia e a presidente Dilma Rousseff acabou de ser reeleita para
governar o país por mais quatro anos. As próximas eleições estão marcadas para
2018.
Está na hora de acabar com o clima de beligerância insana da
campanha eleitoral, que acabou em outubro, colocou em lados opostos amigos,
parentes e até casais, mas permanece vivo no Congresso Nacional, nos
botecos e nas fábricas, nas ruas e nos saraus, nos almoços de domingo e nos
estádios, em todo canto.
Está na hora de acabar com os donos da verdade e do futuro, que não
ouvem ninguém e querem impor suas razões a todo mundo, sem admitir nenhuma
discussão sobre os diferentes caminhos que temos pela frente e as causas que
nos levaram ao atoleiro no deserto da desesperança, ameaçados de
ficar sem água e sem luz, sem emprego e sem amanhã.
Está na hora de começarmos um grande diálogo nacional, em torno de uma
causa comum, como a reforma política, que não pode ficar só na mão dos políticos.
Onde está a grande sociedade civil que se mobilizou em torno da campanha das
Diretas Já em 1984?
Está na hora de procurarmos interlocutores confiáveis dos
dois lados da arena, pois é preciso admitir neste momento que é difícil
saber o que é pior, se o governo ou o Congresso, a situação ou a oposição,
acabar com esta história de nós contra eles.
Está na hora de reconhecermos que estamos sem alternativas, sem
lideranças, sem ideias novas, sem referências, mas é preciso começar este
diálogo por algum lugar, com o que temos aqui dentro, já que que não dá para
buscarmos soluções prontas lá fora.
Está na hora de deixar as vaidades e as certezas de lado, olhar para a
frente e não pelo retrovisor. Se
Obama e Raul Castro conversaram e
conseguiram chegar a um acordo entre Estados Unidos e Cuba, por que diabos Lula
e FHC, ainda as nossas duas maiores lideranças políticas, não podem pelo menos
tentar um diálogo em torno da reforma política, para dar o exemplo? Será
necessário chamar o papa Francisco para servir de intermediário, como fizeram
Castro e Obama?
Está na hora de pararmos de tratar adversários como inimigos, da
política ao futebol, sermos mais generosos com os que pensam diferente, não
dividirmos o mundo entre aliados incondicionais e traidores safados, termos
a grandeza de admitir nossos próprios erros, em lugar de só busca-los nos
outros.
Está na hora de voltarmos a acreditar nas nossas instituições, por mais
que elas estejam em frangalhos, reconstruindo-as, pois todos temos
responsabilidade pelo país que deixaremos para nossos filhos e netos.
Está na hora de todos fazermos alguma coisa nos limites da nossa
capacidade e não nos deixarmos vencer pelo desânimo, em vez de ficarmos nos
lamentando pelos cantos, buscando culpados, porque isso não vai nos trazer água
de beber nem luz para iluminar nossas esperanças.
Vida que segue.
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