quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Comandante do Exército falou o que podia e o que devia


Villas Boas disse algumas verdades inquietadoras


Carlos Chagas



Comentários feitos pelo comandante do Exército foram tão ou mais importantes do que as liminares expedidas pelo Supremo Tribunal Federal para limitar a aventura do deputado Eduardo Cunha em torno do impeachment da presidente Dilma. O general Villasboas falou a um grupo de tenentes da reserva, através de videoconferência, na sexta-feira.


Respondendo a diversas perguntas, reconheceu que a crise é política, econômica e moral, mas jamais institucional. Há, no entanto, para ele, o risco de que se transforme em crise social, que diz respeito às forças armadas.



Traduzindo: se houver baderna generalizada, invasões de propriedades públicas e privadas em ritmo preocupante, ataques à autoridade constituída,  violência e desobediência civil, os soldados irão para a rua. Claro que, conforme a Constituição, a pedido de um dos três poderes da União, para garantir a lei e a ordem.



Significa o quê essa advertência? Primeiro, que os militares encontram-se perfeitamente afinados com a democracia. Prontos para assegurá-la, se necessário.


As instituições estão funcionando, disse o general, dando como exemplo a decisão do Tribunal de Contas da União, ao rejeitar as contas da presidente Dilma em 2014.



O problema é que arremedos da crise social já aconteceram, há dois anos. Depredação de instalações do metrô, de agencias bancárias, do comércio e até as fachadas do Congresso e do ministério das Relações Exteriores.


Não havia, ainda, as crises política e econômica, no grau atual, mas, mesmo assim, grupos específicos entregaram-se a excessos. Felizmente, foram espasmos sem grandes consequências, e faz algum tempo que não se repetem. Hoje, o povo vai para a rua, mas em  protestos  ordeiros  e pacíficos. As forças armadas têm colaborado com o poder civil, em especial nas favelas do Rio. Inexiste a menor indicação de que pretendam repetir o passado cada vez mais longínquo.


CRISE SOCIAL
Mesmo assim… Mesmo assim, crescem os sinais da crise social, com a desumana prática das demissões em massa, promovida pelos mesmos de sempre, estimulando movimentos grevistas em ritmo crescente, sob as vistas de um governo incompetente. Aflora um perigo: despertaria sentimentos variados a presença militar para evitar a baderna, vale repetir a Constituição, “a pedido de um dos três poderes”.  



Muita gente exortaria as forças armadas a prosseguir a marcha, ocupando o poder e alegando ser  para evitar sua deterioração. No extremo oposto, grupos que em idos anteriores mobilizaram-se para enfrentar a ditadura poderiam confundir as situações e precipitar-se num confronto injusto.

O comandante do Exército falou o que podia e devia. Talvez venha a ser mal interpretado, não faltando as cassandras de lá  e de cá para distorcer suas palavras.


INICIATIVA POSITIVA
Nem só das tricas e futricas do deputado Eduardo Cunha vive a Câmara. Esta semana foi rejeitada a medida provisória que autorizava as empresas a reduzir em 30% o salário dos trabalhadores, diminuindo também a jornada de trabalho. 


Tirada do saco  de maldades da equipe  econômica  a pretexto  de evitar demissões, a iniciativa  atropela a  Consolidação das Leis do Trabalho, sobrepondo o “acordado” pelo “julgado”.  Qual o patrão que deixaria de colocar o empregado diante da pérfida opção entre  aceitar a redução ou ser mandado embora?


A medida provisória foi derrotada contra o voto da bancada do PT, destacando-se o Vicentinho, ex-presidente da CUT, que para agradar o governo, pregou sua aprovação. Felizmente, quebraram  a cara.

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