quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Dilma hoje depende de Cunha, que também depende de Dilma



Carlos Newton


Como se dizia antigamente, parece que nasceram um para o outro. Tinham tudo para dar certo, mas acabaram fracassando, cada um a seu modo. Ambos se deixaram levar pela vaidade, julgaram-se todo-poderosos, meteram os pés pelas mãos e hoje têm um encontro marcado com a desonra e o clamor público. Seus destinos continuam se cruzando e os dois têm algo em comum no futuro – ambos perderão os mandatos e o poder de que ainda desfrutam, entrando para a História de maneira altamente negativa.



Aparentemente, Dilma Vana Rousseff tinha o perfil ideal. Sua ascensão ao poder parecia história de telenovela. Tinha enfrentado a ditadura militar na luta armada, foi presa e torturada, depois entrou na política e acabou sendo a primeira mulher a ocupar a presidência da República num país da importância do Brasil, tornando-se conhecida como uma das mulheres mais influentes do mundo.



Eduardo Cosentino da Cunha também exibiu perfil semelhante. Ainda jovem, presidiu a Telerj, depois virou pastor evangélico, foi nomeado secretário estadual, elegeu-se suplente na Assembleia do Rio, acabou assumindo uma cadeira, em seguida foi eleito deputado federal e se tornou um dos reis dos bastidores no Congresso. Ganhou tanta força que acabou derrotando o PT e o governo ao assumir a presidência da Câmara, com uma atuação avassaladora.



A FALSA GERENTONA
As aparências enganam. No exercício do poder, Dilma pouco a pouco foi perdendo a fama de gerentona e seu passado aflorou. A única experiência em economia foi levar à falência uma lojinha de R$ 1,99. Entrou no PDT gaúcho pelas mãos do então marido Carlos Araújo, deputado estadual, mas não teve dúvidas em trair Brizola quando seu partido perdeu o governo do Rio Grande. Dilma então bandeou-se para o PT junto com mais de 500 falsos brizolistas. No governo Lula, deu a sorte de ocupar o Ministério de Minas e Energia, depois a Casa Civil e chegou à Presidência da República.



Hoje, está envolvida diretamente na corrupção da Petrobras, devido à recente denúncia do ex-diretor Nestor Cerveró, que recentemente a acusou de participar da negociata de Pasadena. Seu governo vem destruindo a economia do país, a presidente está denunciada por uma série de crimes de responsabilidade e responde também por crimes eleitorais cometidos nas campanhas de 2010 e 2014. Isso foi o que restou dela. Ao invés de se empenhar em recuperar a economia e evitar a desindustrialização, seu único objetivo hoje é permanecer no poder, através de negociatas políticas do mais baixo nível.


O FALSO LÍDER
Eduardo Cunha também estava com a carreira em alta, tendo sobrevivido a uma série de denúncias desde a época que presidiu a Telerj. Quando desmoralizou o PT e o governo, assumindo a presidência da Câmara em fevereiro, sua trajetória voltou a ser vasculhada, de repente lembraram a amizade dele com o famoso Paulo César Farias, que nutria o Caixa 2 do então presidente Collor e acabou assassinado em circunstâncias até hoje misteriosas.



Ao mesmo tempo, foram surgindo as denúncias na Lava Jato, ainda com pouca consistência, e Cunha seguia sua trajetória de poder, como um dos personagens principais da política nacional, até que novas acusações surgiram, apareceram as milionárias contas na Suíça, surgiram os gastos colossais de sua mulher Cláudia Cruz, e todos perceberam que Cunha era um falso líder, apenas mais um dos heróis com pés de barro que infestam a política brasileira.



UM DEPENDE DO OUTRO
Os dois já estão acabados. Curiosamente, porém, hoje um depende do outro. Se Cunha der o sinal verde para o pedido de impeachment, Dilma estará destruída, sua cassação será apenas uma questão de tempo. No desespero, a ainda presidente tenta se reaproximar do arqui-inimigo, manda o ministro Jaques Wagner se entender com Cunha, as negociações estão em pleno andamento.



O problema é que Dilma não tem mais nada a oferecer. Não tem como devolver a Cunha a dignidade perdida nem pode livrá-lo dos inquéritos e processos judiciais que já correm contra ele.



“Se eu derrubar Dilma, vocês me derrubam”, resumiu Cunha aos líderes oposicionistas que o procuraram para pedir que aceite o pedido de impeachment apresentado por Helio Bicudo. Esta é justamente a questão. Resta saber por quanto tempo Cunha vai se equilibrar nesta corda bamba.



Ao proteger Dilma e evitar que ela seja processada na Câmara, Cunha não percebe que está destruindo a economia brasileira, que só tem chance de recuperação quando os petistas forem expulsos do poder. Os meses vão passando e a crise se agrava cada vez mais, sem a menor perspectiva de retomada do desenvolvimento. Mas quem se importa com isso?

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