15/10/2015
Taiguara Rodrigues afirmou à CPI do BNDES que recebeu o montante ao longo de quatro anos por meio de contratos firmados com a empreiteira
Considerado
uma peça-chave para explicar o envolvimento do ex-presidente Lula com a
empresa Odebrecht, alvo de investigação no esquema de corrupção na
Petrobras, o empresário Taiguara Rodrigues dos Santos, sobrinho do
petista, afirmou à CPI do BNDES nesta quinta-feira que, ao longo de
quatro anos, recebeu de 1,8 milhão a 2 milhões de dólares em contratos
firmados com a empreiteira em Angola.
Taiguara negou a influência do
petista nas obras, mas não convenceu os deputados ao tentar esclarecer
como conseguiu firmar parceria com a gigante nacional.
Conforme reportagem de VEJA revelou,
Taiguara ganhou contratos de obras após o ex-presidente Lula ter
viajado, com dinheiro da Odebrecht, para negociar transações para a
empreiteira.
O empresário é filho de Jacinto Ribeiro dos Santos, o
Lambari, amigo de Lula na juventude e irmão da primeira mulher do
ex-presidente, já falecida. Foi na obra de ampliação e modernização da
hidrelétrica de Cambambe, em Angola, que o sobrinho de Lula, como é
conhecido no meio empresarial, firmou contrato milionário com a
Odebrecht.
O acerto entre as partes foi formalizado no mesmo ano em que a
empreiteira conseguiu no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e
Social (BNDES) um financiamento para realizar esse projeto na África. O
episódio levou o Ministério Público a abrir inquérito para investigar a
suspeita de tráfico de influência de Lula em benefício da empreiteira. O
petista prestou depoimento ao MP nesta quinta-feira para dar
explicações sobre o caso.
Aos deputados, Taiguara admitiu outros
contratos com a Odebrecht, um de 280.000 dólares – não deu detalhes do
serviço prestado -, e outro de 750.000 dólares, para a reforma de uma
casa de alto padrão em Angola.
Questionado pelos membros da CPI,
Taiguara negou as evidências e disse que o ex-presidente teve
“influência zero” nos negócios. Para ele, a relação que mantém com o
ex-presidente e o filho dele, Fábio Luís Lula da Silva, o Lulinha, “não
interfere em nada, nem positivamente nem negativamente”.
O empresário,
por outro lado, não conseguiu comprovar as credenciais que lhe
aproximariam dos contratos milionários com a Odebrecht, a maior
empreiteira da América Latina. Ao detalhar o currículo, Taiguara afirmou
ser vendedor desde os 14 anos e negou ter formação acadêmica. “Com o
passar dos anos, foram aparecendo oportunidades, como a que me fez
chegar aqui, a de trabalhar em Angola”.
“O senhor tinha uma relação de
parentesco com o Lula. Esse era o seu capital. É isso que lhe abriu
portas”, rebateu o deputado Arnaldo Jordy (PPS-PA). “Que razões o senhor
acha que levaria uma gigante como a Odebrecht a contratar a sua
empresa, que ocupava uma parte de um prédio de Santos com cinco
funcionários, jamais teria realizado uma obra em São Paulo para
trabalhar numa obra de ampliação de hidrelétrica em Angola? Me dê essa
receita para que todos nós possamos saber como se consegue um negócio
desses”, continuou o parlamentar. Não houve resposta convincente.
O empresário também confirmou uma
mudança nos seus padrões de vida: de um morador de um apartamento de um
quarto, ele passou a viver em um duplex de 255 metros quadrados em
Santos e a andar de Land Rover. Taiguara, no entanto, tentou novamente
desvincular a influência de Lula na sua ascensão social. Agora, ele
narra estar passando por momentos difíceis: “Nesse período em que eu
estava em um quarto e sala eu estava bem melhor. De meados de 2014 para
cá, com essa queda brusca do petróleo, Angola não tem trabalho. Nossa
empresa está há muito tempo sem contrato”.
O empresário tentou escapar do
depoimento à CPI alegando dificuldades para pagar passagem e hospedagem.
Segundo ele, sua defesa viajou a Brasília arcando os próprios gastos
por uma “gentileza”.
(Via Veja e Agência)
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