quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Do Estado Maquiavélico ao Estado Marginal


 
Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net
Por Carlos Henrique Abrão


Os contrastes mundiais expostos pela globalização elevaram o grau de tensão mundo afora, desde a brutal concentração de riqueza nas mãos de grandes corporações, passando pelos detentores do poder e bilionários excêntricos. O Estado Maquiavélico que tudo podia em torno do fim perseguido, agora se transformou no Estado Marginal que tenta ludibriar, enganar e engodar a população mediante artimanhas e discursos de inclusão e tudo pelo social.

Diferentemente do que se enxerga, nossos governantes foram longe demais. Cogitamos do executivo e do legislativo, já que oposição é para inglês ver, todos estão no mesmo barco alguns com motor e outros a remo. Mas essa a triste realidade de insolvência de empresas, do descalabro e total submissão do jugo do Estado babá, que produziu uma sociedade amorfa e não crítica do momento oportunizado.

Sem vestir camisa ou defender qualquer ideologia o Brasil é um País fora do mapa mundial, com participação minúscula nos negócios, e diante do acordo transpacífico praticamente desaparece com o nanico Mercosul. Adiante, indo direto aos fatos, o crucial problema está na famigerada carta constitucional de 1988 que consagra direitos mas não destaca obrigações.

Explica-se o estado marginal. Ele obriga ao cidadão tudo, desde o seu comportamento na rua, no carro, no trabalho, altos impostos e nenhum serviço público. No entanto,o Estado brasileiro não é detentor de qualquer obrigação, ruas esburacadas e calçadas mutiladas, um completo desserviço, mas quando se trata de cobrar ao indefeso cidadão o estado mostra a sua cara.

Coloca milhares de radares nas ruas, avenidas, estradas e fiscaliza o transito exigindo velocidade máxima sem se obrigar à mínima. Mas porque não multam ao Estado e seus administradores públicos, movem ações e pedem que paguem pelas suas irresponsabilidades, gastos supérfluos, modismos de faixas inócuas, e um repertório do estado marginal à vontade da sociedade.

Não se perquire ou investiga o que deseja o cidadão de bem, já revivemos o velho ditado absolutista "L´Etat c´est moi" que muitos apregoam como se fossem os próprios representantes da população e seus comandos devessem ser obedecidos cegamente. Essa anomia pratica em todo o País a falta de lideranças, de movimentos pacíficos e consistentes, numa evolução silenciosa mas que frutifique para marcar presença e destruir aqueles que matam gerações e destroem sonhos de milhões de brasileiros.
A crise exponencial que atravessamos deixará profundos sulcos e sequelas. A apuração das responsabilidades é inadiável e o dissipar da corrupção do fator estatal indispensável. O paquidérmico estado brasileiro que somente sobrevive mediante arrecadação de impostos, cpmf, e multas, tudo para gasto inútil de cartões corporativos não penaliza somente cidadão de bem, mas empresas que estão arrebentadas pela falta de dirigismo e por uma série canhestra de intervenções no domínio econômico. 

Basta vermos o setor elétrico, de óleo e gás, enfim uma catástrofe,
como se um tsunami passasse pelo Brasil de norte a sul e não soubéssemos reconstruir a destruição que imobiliza a cidadania e coloca em risco eventual ruptura institucional.

Quadro desalentador que erigido no primado maquiavélico passou ao efeito marginal de buscar na delinquência sua razão de ser, de ter e sobreviver. Enquanto a sociedade civil não combater sem tréguas e de forma incessante essa patologia que criminaliza a própria realidade de todos os negócios públicos e privados, viveremos desasosegadamente, em berço não esplêndido e apartados do mundo desenvolvido.

Nascemos para o progresso com ordem. Vivemos a pura recessão e completa desordem. Até quando catilina abutere patienta nostra? O amanhã dirá.

Carlos Henrique Abrão, Doutor em Direito pela USP com especialização em Paris, é Desembargador no Tribunal de Justiça de São Paulo.


Postado por Jorge Serrão às 07:28:00

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