15/10/2015
Na série de discursos incríveis, ficou difícil escolher o melhor da última terça-feira (13): o de Lula ou o de Dilma.
Falando
a sindicalistas, a presidente se colocou acima do país, ao dizer, “com
toda franqueza”, que ninguém no Brasil “tem força moral, reputação
ilibada e biografia limpa suficientes” para atacá-la.
Quem está a atacá-la, sobretudo, são os
fatos já revelados sobre o seu governo e a estatal cujo Conselho de
Administração ela presidiu de 2003 a 2010.
Nesse interminável primeiro ano de Dilma
2 (ou primeiro mês de Dilma 3, ou primeira semana de Dilma 4), as
sucessivas crises foram seguidas de soluções efêmeras, destruídas
principalmente pela própria presidente.
Assim que ela respira, ela explode.
Depois de obter alívio no STF, saiu das cordas direto para a jugular.
Uma presidente agressiva de um partido agressivo com militância
agressiva e milhares de quadros pendurados na máquina do governo.
Impeachment para o PT é morte. E ele vai
fazer o diabo para impedi-lo. O partidão faz questão de deixar claro
que Dilma não é Collor porque Dilma tem o Lula, tem o PT, tem a
militância, tem a agressividade, tem a história, tem a máquina, tem a
CUT, o MST, o Chico Buarque, o Mujica.
Já Lula disparou o outro discurso incrível do dia no mesmo evento sindical, sintomaticamente depois da fala da presidente.
“Não tem um país no mundo que tenha
feito ajuste e melhorado a economia”, disse o ex-presidente. Tem um país
chamado Brasil que, no ano de 2003, presidido por Lula, fez um ajuste
clássico, duro e bem-sucedido na economia que pavimentou o caminho para
os anos dourados.
O compromisso com a verdade é zero. E isso é um problema moral e ético da maior gravidade.
Dilma 2 nasceu de uma eleição infame que
enganou deliberadamente a população mais carente do país, explorando
sua ignorância como nenhum capitalista ousaria explorar. Mas o discurso
que a elegeu hoje a condena. Só sobrou mentira sobre mentira.
Após a fala inflamada de Lula, os
sindicalistas gritaram o já tradicional “Fora Levy!”, sendo que Levy
significa a política econômica do governo Dilma —o ajuste que a
presidente relutantemente abraçou, mas está louca para largar. Lula, no
discurso, já largou. E toda essa ambiguidade oportunista significa
principalmente que o ajuste será mais lento e mais caro, trazendo ainda
mais sofrimento ao povo.
Ou então significa que o governo vai
tentar dobrar a aposta no populismo e na irresponsabilidade fiscal,
comprometendo ainda mais o futuro do país.
Ninguém sabe o que vai acontecer. O país
sofre com a crise econômica, mas o foco 1, 2 e 3 do governo é a luta
contra o impeachment.
Um dia depois da fala de Lula, Levy foi
ao Congresso e falou que ou se aprova a CPMF ou os programas de
seguridade social estarão ameaçados.
Levy falou a verdade. Gastar dinheiro
que não se tem cria problemas graves, não soluções. Mas nesses tempos
loucos, falar a verdade é um exercício suicida.
(F:sérgio malbergier Via Folha e Agência)
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