04/02/2014 12h32
- Atualizado em
04/02/2014 14h26
Possível candidato à Presidência apresentou diretrizes de governo.
Segundo ele, 'sensação da freada' impôs ao PSB lançar candidatura.
Em evento que lançou diretrizes de seu programa de governo, Eduardo Campos conversa com
deputados (Foto: Zeca Ribeiro/Agência Câmara)
deputados (Foto: Zeca Ribeiro/Agência Câmara)
Possível candidato à Presidência da República nas eleições de outubro, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), afirmou nesta terça-feira (4) ter a "percepção clara" de que o Brasil "parou" e "saiu dos trilhos" do desenvolvimento.
No auditório Nereu Ramos da Câmara dos Deputados, em Brasília, Campos lançou, ao lado da ex-senadora Marina Silva (PSB-AC), as diretrizes para uma eventual gestão na Presidência.
"É possível fazer melhorar o Brasil e fazer com que o país não saia dos trilhos.
Seja em um assentamento rural, periferia no Sudeste ou qualquer cidade na Amazônia Legal que vamos, temos a clara percepção que as pessoas estão vendo que o país parou, saiu dos trilhos que vinha, que com idas e vindas estava avançando", ressaltou o presidente do PSB.
De acordo com Campos, a "sensação" de que o Brasil "freou" impôs ao PSB lançar candidatura própria à Presidência da República. "De repente, houve a sensação da freada.
Essa percepção clara impõe [uma atitude] ao PSB, que ajudou a construir a vitória do governo em 2010, a tomar a decisão unânime e mais dura [de se afastar do PT]", disse.
Mais cedo, nesta terça-feira, o governador pernambucano e Marina Silva entregaram o documento com as diretrizes do governo ao presidente do PPS, deputado Roberto Freire (SP).
O partido oposicionista oficializou, em dezembro, apoio à chapa presidencial do PSB em 2014.
Campos entrou no auditório da Câmara aos gritos de ordem: "Brasil, para frente, Eduardo presidente". A ex-senadora Marina Silva se sentou ao lado do governador e foi aplaudida de pé ao chegar ao Nereu Ramos.
Na plateia, estavam possíveis candidatos a diversos cargos nas eleições de outubro, como a ex-corregedora-geral de Justiça ministra Eliana Calmon, que deve concorrer ao Senado pela Bahia.
Diretrizes
As 12 diretrizes apresentadas por Eduardo Campos e Marina Silva nesta terça-feira estão compreendidas em cinco "eixos: Estado e democracia de alta intensidade; economia para o desenvolvimento sustentável; educação, cultura e inovação; políticas sociais e qualidade de vida; e novo urbanismo e pacto pela vida.
Primeiro eixo (Estado e democracia de alta intensidade): o partido propõe o uso da tecnologia e da mídia digital para ampliar a democracia. Defende ainda o fim de "disputas personalistas", o fim do abuso do poder econômico e a "superação do clientelismo". Para tanto, defende a realização de uma reforma política.
Segundo eixo (economia para o desenvolvimento sustentável): a aliança PSB-Rede Sustentabilidade defende valorizar pequenas e médias empresas, implementar uma economia que produza baixa emissão de gás carbônico (CO2), modernizar a agricultura e "reformular a reforma agrária".
Terceiro eixo (educação cultura e inovação): Campos diz que o foco será a erradicação do analfabetismo, a ampliação da política de cotas e a integração entre educação e cultura, com a abertura de escolas à "diversidade cultural" do país.
Quarto eixo (políticas sociais e qualidade de vida): o partido diz que reforçará o Sistema Único de Saúde (SUS), a atenção básica de saúde e o atendimento a famílias.
Quinto eixo (novo urbanismo e pacto pela vida): o PSB promete melhorar a mobilidade urbana, investindo no transporte coletivo em "todas as suas modalidades". Para resolver o problema da segurança pública, o partido propõe uma "reconciliação" entre a periferia e as áreas centrais das cidades. Para a sigla, o acesso a transporte, cultura e lazer deve contribuir para gerar uma "cultura de paz".
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Fisiologismo
Apesar de o PSB ter ocupado cargos no governo Dilma Rousseff durante quase três anos, o potencial adversário da presidente da República afirmou em seu discurso que o "velho pacto político que mofou" não dará "nada de bom" à sociedade brasileira.
Segundo Campos, nem todos "caem de joelho" em troca de cargos na administração federal. O PSB entregou os postos que ocupava no Executivo após integrantes do PT terem criticado a suposta incoerência de Campos ao censurar um governo do qual ele fazia parte por meio de uma fatia na Esplanada dos Ministérios.
"Sei que não podemos botar cabresto na política, distribuindo cargos, pensando que todos se põem de joelhos. Há aqueles que carregam na consciência a vontade de lutar contra esse estado de letargia que nos comandava", alfinetou o governador de PE.
Campos também criticou a atual administração federal, dizendo não haver "ninguém que ache que mais quatro anos do que está aí fará bem ao povo brasileiro". Além disso, ele afirmou que vai derrotar o governo atual com "ideias" e disse que não vai se "desesperar como aqueles que se agarram à máquina pública com medo de perder as eleições".
Burocracia
Campos ainda defendeu ações para desburocratizar o país. "O Estado brasileiro complica a vida do povo brasileiro", disse. O governador relatou que um empresário contou a ele que tem 200 funcionários só para pagar impostos.
O presidente do PSB também criticou o excesso de documentos necessários para realizar qualquer transação ou registro no Brasil. "Você chega em um órgão público e precisa de 30 documentos. Quando arruma o 30°, o primeiro já venceu", afirmou Campos, arrancado risadas da plateia.
O governador defendeu que a máquina pública seja operada por profissionais competentes, e não por indicações políticas. "O Estado não pode ser apropriado nem pelas elites, nem pelo corporativismo, nem pelos partidos políticos. Tem que ser apropriado pela competência e excelência de servir."
Crescimento
Eduardo Campos criticou ainda o desacelerado crescimento econômico do Brasil, que, segundo ele, tem gerado pioras nos indicadores sociais.
“Se o país passar uma década crescendo a 2%, vai acontecer o que acontece hoje. O analfabetismo crescendo, o país perdendo competitividade, a indústria caindo, e vamos gerar às futuras gerações que país?", questionou.
Educação
O governador de PE destacou ainda que a maior prioridade de um eventual governo do PSB será a educação.
"Se temos que ter uma prioridade, tem que ser a educação. Radicalizar na prioridade é colocar técnica, recursos, colocar o povo próximo da reformulação da política, do controle social sobre as escolas. [É preciso] Ter uma escola em que a comunidade participe", defendeu.
Campos também disse que as políticas sociais são importantes, mas precisam "ser protegidas pela condição econômica". "Senão, é enxugar gelo", disse.
'Mofo'
Marina Silva discursou antes de Campos e afirmou ser possível "reconstruir aquilo que está mofando na política". Antes do discurso da ex-senadora, um poeta resumiu as diretrizes do programa do PSB em verso e prosa. Em seguida, um tocador de pandeiro fez uma apresentação.
"Ver nossas políticas serem cantadas em verso e prosa é demonstração que algo novo e vivo está surgindo", afirmou Marina após as apresentações. Segundo ela, a aliança entre PSB e Rede Sustentabilidade "não é baseada em estrutura, tempo de televisão ou marketing, mas em cima de um programa".
"[Temos como] eixo de sustentação a ideia de que precisamos ampliar as conquistas, mas ao mesmo tempo sem ter uma atitude de complacência com os erros que estão sendo praticados repetidamente", disse.
Para a ex-senadora, que deve concorrer à vice-presidência na chapa de Campos, a "política está insustentável da forma como está sendo operada".
"Cada vez mais, a população quer melhorar a qualidade da sua representação. Cada vez mais, as pessoas querem ampliar sua participação, porque está surgindo no Brasil um novo sujeito político."
Marina reforçou sua plataforma principal de atuação política – a proteção ambiental – e defendeu o surgimento de "um modelo de desenvolvimento capaz de assegurar vida digna, justiça social, mas ao mesmo tempo preservar as bases naturais desse desenvolvimento".
"O entulho da velha política está atrapalhando o Brasil, porque não se discutem propostas, não se discutem ideias, se discute o que fazer para aumentar o tempo de televisão, o que fazer para aumentar o palanque", criticou.
Eduardo Campos e Marina Silva durante evento conjunto do PSB e da Rede na Câmara dos Deputados
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