sábado, 15 de fevereiro de 2014

E agora, governador?

Laécio Alencar, assessor de imprensa da Associação dos Praças Policiais e Bombeiros Militares (Aspra)



A população de Brasília enfrenta a pior crise de segurança pública dos últimos dez anos. A onda de violência que tomou conta da nossa capital obrigou o brasiliense a mudar seus hábitos. E a insegurança se agravou ainda mais com a operação tartaruga, realizada desde outubro do ano passado por policiais e bombeiros militares.

A crise está pulverizada em todas as regiões administrativas pela falta de ações efetivas de policiais militares. Quando atendem ao chamado da população, os policiais seguem em viaturas que não ultrapassam o limite de velocidade estabelecido nas vias. Com isso, as vítimas de criminosos esperam um tempo bem maior para serem atendidas.

Enquanto a polícia não atua, os bandidos tomam conta das ruas. Com medo da violência, o brasiliense evita sair de casa. Mas a criminalidade não preocupa apenas a população. 

Donos de postos de gasolina, farmácia e restaurante, comércio de quadras, estão atônitos com tantos roubos e o pedido de demissão de funcionários. Já são mais de 20 mil pedidos de demissão em função da crise na segurança pública, segundo o presidente Associação Comercial do DF (ACDF), Cleber Pires.

PERDAS IRREPARÁVEIS

 

A violência cresceu assustadoramente em 2014. São homicídios, assalto a bancos, a pessoas, ao comércio, furtos diversos e até o surgimento de grupos como a gangue da marcha a ré, que rouba ou furta carros parar arrombar lojas. A gota d'água foi a morte do administrador de empresa Leonardo Almeida Monteiro, de 29 anos.

Ele chegava da academia, por volta das 22h30, e estacionou o carro em frente ao prédio onde morava, em Águas Claras. Foi surpreendido por dois assaltantes. Correu, mas acabou atingido com um tiro no pescoço e morreu na hora. Os bandidos fugiram em um carro roubado, onde um terceiro criminoso os aguardavam. Dois eram menores, um de 16 e outro de 17 anos. A polícia prendeu os menores com a arma do crime. O único adulto, de 18 anos, continua foragido.

Indignada, a população foi para as ruas, em Águas Claras e no Plano Piloto, com faixas e cartazes, cobrar policiamento. O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) resolveu atuar. Entrou com uma ação contra as associações de PMs e bombeiros militares, que insuflaram a categoria a fazer corpo mole e contribuir com a violência, para acabar com a operação. Pediu, ainda, multa diária de R$ 100 mil reais caso a ordem fosse descumprida. A Justiça acatou o pedido e determinou o fim da operação tartaruga.

MOVIMENTO POLÍTICO?

 

O governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, afirma que o movimento é político, organizado por "meia dúzia" de policiais que não falam em nome da PM. Insatisfeito, decretou que não negocia enquanto a categoria não colocar fim ao movimento. Além disso, determinou ao comandante-geral da PM, Anderson Moura, que abra procedimento administrativo para avaliar a conduta ética disciplinar dos envolvidos e puni-los, na forma da lei.

Apesar da proibição judicial e da determinação do comandante-geral, PMs e bombeiros mantêm o movimento. Afinal, a Justiça não tem como provar que a categoria não está trabalhando. Mas, então, o que é a operação tartaruga? Greve, descumprimento de escala de trabalho, abandono do serviço? Não. 

Não é nenhuma dessas alternativas. Se fosse, seria fácil detectá-la. Os envolvidos estariam cometendo ilegalidade e bastaria aplicar-lhes a força normativa jurídica da esfera militar.
A operação tartaruga é a consequência dos desmandos do GDF e da falta de investimento na Segurança Pública. 

É o reflexo da desmotivação policial de circular com viaturas em péssimas condições. Recentemente, por exemplo, um policial caiu do veículo por causa de um defeito na porta. Sem falar que, às vezes, falta combustível e o policial é obrigado a tirar dinheiro do próprio bolso para abastecer as viaturas.
Explicada a situação, fica claro que o descaso com a população e o respeito aos deveres constitucionais precisam ser repensados pelos governantes. 

O aumento da violência não é fruto da operação tartaruga, mas sim um fenômeno social relegado a segundo plano por um Poder Público descompromissado, omisso, corrupto e avalizado por uma sociedade complacente onde cada um só enxerga o próprio umbigo. Isso não resolve. A sociedade precisa acordar.

Chega de mentiras. Chega de tragédias, como as que ocorrem todos os dias sem que a questão se resolva. Brasília não pode continuar com a viver dessa maneira. Chega de fazer da segurança pública uma plataforma eleitoral.

NÚMEROS

 

Cerca das duas mil pessoas são assassinadas anualmente na capital do país. Segundo as autoridades, a maioria está envolvida com a criminalidade e não existem cadeias em número suficientes para confinar todos os marginais. 

Esquecem de dizer, no entanto, que todas as vítimas são serem humanos. Se tivesse escolas públicas suficientes – um dever constitucional – esses criminosos poderiam nunca ter entrado no mundo do crime. 

A operação tartaruga não é a causa, mas um alerta de que as autoridades precisam solucionar o caos social. Já Agnelo, precisa assumir sua responsabilidade de governador e cumprir com as promessas de campanha feitas aos militares na campanha de 2010, quando era candidato ao GDF.

Se Agnelo olhassem com mais atenção para os moradores da cidade que governa, veria a insatisfação do povo com os rumos tomados pelo GDF. Prova disso é que começaram a circular na cidade carros com um adesivo sugestivo: "Por amor a Brasília, fora Agnelo. Impeachmente já!” E, agora, governador? O que o senhor vai fazer?


 Plano Brasília

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