sábado, 15 de fevereiro de 2014

“Eu não subo no palanque do Agnelo”

“Eu não subo no palanque do Agnelo”

Cristovam Buarque descarta candidatura própria ao Buriti e torce por aliança entre os partidos da esquerda MESA REDONDA/ CRISTOVAM BUARQUE

 





As eleições 2014 já estão na pauta obrigatória das conversas dos brasilienses, que aguardam ansiosamente a divulgação oficial dos nomes dos candidatos ao Governo do Distrito Federal. E assim como você e seus amigos, o senador Cristovam Buarque (PDT-DF) também aguarda a definição dos nomes que concorrerão ao Buriti.


Cristovam – que ocupou o cargo entre 1995 e 1999 – torce por uma aliança entre os partidos à esquerda do governador Agnelo Queiroz. De preferência, em torno de um único candidato, como Antônio Reguffe (PDT), Rodrigo Rollemberg (PSB) ou Toninho (PSol). 
 
Segundo ele, a divisão das candidaturas da esquerda poderia trazer uma tragédia para a cidade: Joaquim Roriz (PRTB) e José Roberto Arruda (PR). "Seria muito difícil, para Brasília, explicar isso para o restante do Brasil", lamenta.

 
Confira, a seguir, as opiniões de Cristovam sobre os temas mais importantes do momento, como segurança, educação, construção de creches e, é claro, política.

Plano Brasília: Senador, de forma objetiva, o senhor vai estar no palanque de Agnelo Queiroz?

 

Cristovam Buarque: Não. Não vou estar no palanque de Agnelo Queiroz. Eu quero um outro palanque. Obviamente, não estarei no palanque do Arruda ou do Roriz. Eu gostaria que surgisse um outro palanque, que unisse Reguffe, Rodrigo, Toninho. Tem que ter um palanque alternativo.
 

PB: E desses nomes, quem seria o candidato mais provável a governador?

 

CB: Eu ainda estou torcendo que seja o Reguffe, mas acho que ele está demorando muito para decidir. Também poderia ser o Toninho, junto com o Rodrigo [Rollemberg] ou cada um separado – o que não vai ser bom.

PB: E o senhor, não sairia candidato.

CB: Não.

PB: De jeito nenhum?

 

CB: A gente nunca deve dizer "de jeito nenhum", porque é falta de respeito. Mas não está dentro do que eu acho que seria o melhor para o meu trabalho na política brasileira. Estou há 20 anos em uma campanha nacional pela federalização da educação, por uma revolução educacional. 
 
E a gente nota que as pessoas, agora, começam a falar nisso. Eu já fui governador. Já dei minha contribuição à cidade, de uma maneira muito intensa. 
 
Foram quatro anos, 24 horas por dia, sete dias por semana. Então, não acho que eu seja um nome que deva vir para o governo. E vou fazer tudo para que não seja eu.

PB: O senhor falou em uma possível aliança entre os partidos à esquerda dos candidatos mais prováveis. Sem essa união, PDT, PSB e PSol têm condições de vencer?

 

CB: É possível vencer, sim. Por isso existem dois turnos. No primeiro, você vota em quem pensa mais próximo de você; no segundo, em quem é menos distante. Então, é até bom quando existem muitos candidatos. Mas, a divisão das candidaturas no DF poderia trazer uma tragédia, que seriam Roriz e Arruda no segundo turno. Seria muito difícil, para Brasília, explicar isso para o restante do Brasil. Eu nem vou discutir se a Justiça permitirá ou não que eles sejam candidatos. Mas acho que eles precisam purgar, um pouco mais, a imagem que deixaram. A imagem de corrupção que Brasília passou para o restante do Brasil, por causa deles, exigiria que eles não fossem candidatos.
 

PB: Em relação ao Reguffe, ele adota uma postura meio independente, votando – às vezes – contra às determinações do partido. Como defender uma candidatura assim?

 

CB: O Reguffe sempre foi coerente com aquilo que ele defende. E eu sou a favor da coerência. Eu não confio é naquele político que diz uma coisa e, depois, vota diferente. Em todos os votos que o Reguffe deu – que não foram condizentes com o que o PDT defendia – ele foi coerente com o que ele (Reguffe) defendia. Acho que ninguém vai mudar menos que o Reguffe. Todo mundo sabe o que ele vem defendendo, há muitos anos, que é a questão da ética na política. Se, amanhã, ele não seguir as determinações do partido, será mais provável que o partido tenha mudado do que ele.

PB: Além do Reguffe, existe algum outro nome com potencial para despontar, a médio prazo, como uma liderança política no Distrito Federal?

 

CB: Tem muitos jovens com quem eu converso nas ruas, que têm vontade de fazer política. Rapazes e moças empolgados, já filiados a partidos políticos, que ainda não têm mandato, mas vão se destacar nos próximos anos. Nomes que ainda não são conhecidos, mas que ajudarão a renovar a política do DF. 
 

PB: Qual a sua opinião sobre a gestão do Agnelo?

 

CB: Eu apoiei firmemente a eleição do Agnelo, mas esperava um governo diferente. Esperava um governo mais social e não imaginava que a marca dele seria um estádio. Essa é a marca que ele decidiu deixar para Brasília. 
 
 
O Agnelo não fez questão de ficar com a marca do social, que é a marca que caracteriza um governo de esquerda, como eu fiquei. Eu fiquei com a marca da bolsa escola, da faixa de pedestre, da contratação de professores. Eu queria que, quando viesse a Copa, tivesse uma faixa bem grande no nosso aeroporto: "Você está entrando em um território livre de analfabetismo". Queria que essa fosse a marca do Agnelo.

PB: Outra marca que ele está deixando é a da crise da segurança..

 

“O Agnelo está errando na condução dessa crise [da segurança]. Tanto no comando quanto na maneira de conduzir o diálogo.” Cristovam Buarque
 
 
  CB: Infelizmente... E o Agnelo está errando na condução dessa crise. Tanto no comando quanto na maneira de conduzir o diálogo – que é o que eu chamo de "comandiálogo". O comando exige respeito à hierarquia. Uma coisa que eu me orgulho, no meu governo, é de ter colocado no comando da PM as pessoas da corporação, por ordem de antiguidade. 


Eu não escolhia a pessoa por nome. Tanto que um dos comandantes, na época do meu governo, era primo do Roriz. O Agnelo rompeu com essa hierarquia. Depois, ele deu um aumento de salário bom, mas só para os comandantes. Isso acirrou os ânimos. Então, a crise da segurança tem o fator salarial, mas tem o descontentamento moral da tropa. 


Além disso, o governador precisa perceber que segurança não pode ser um problema apenas da polícia. Segurança é uma questão de bom relacionamento dentro da sociedade, de educação. Às vezes, uma lâmpada elétrica em uma parada de ônibus resolve mais que o PM.

PB: E o que fazer para resolver o problema da segurança na cidade?

 

CB: Quando a gente tem um problema muito sério, tem de chamar toda a equipe para resolver. O Agnelo tinha de reunir todos os secretários do governo e dizer: o problema da segurança é de todos vocês. Não é só do secretário de segurança. O que vamos fazer para resolver? Secretário de educação, o que você vai fazer? Presidente da CEB, o que você vai fazer?

PB: Senador, as pessoas comparam o seu governo com o do Agnelo, dizendo que ambos foram governos do PT que não vão se reeleger. Quais são as semelhanças e as diferenças entre a sua candidatura à reeleição e a do Agnelo?

 

CB: Quando eu fui falar com o governador pelo problema da crise da polícia, a primeira coisa que eu disse foi: "Governador, eu cometi erros no meu governo e o pior deles foi não ter sabido lidar com a greve dos professores. Essa greve dos PMs pode ser a sua greve dos professores". Mas veja que eu perdi em uma época na qual o orçamento era menor, contra um candidato que vinha com a imagem forte, que era o Roriz. 

A situação do Agnelo é outra: ele tem um orçamento de mais de R$ 20 bilhões, somando os recursos do fundo constitucional. Além disso, os adversários mais prováveis do Agnelo, até o momento, estão com a imagem pública desgastada. Tanto o Arruda quanto o Roriz. No meu caso teve, ainda, a questão do debate do segundo turno. 


Eu tentei mostrar que o Roriz estava mentindo ao prometer aumento a todos os servidores públicos. E ele estava mesmo, tanto que não deu o aumento prometido, depois de eleito. Mas não era isso que as pessoas queriam ouvir. Ali, eu perdi voto. Não devia ter batido de frente. E tem mais uma coisa que mudou, a favor ao Agnelo. 
 


O eleitor de hoje já não é o mesmo. Eles não são mais fieis ao Roriz ou ao Arruda. Os pais eram, mas eles não são. Eles tendem a votar em quem fizer a melhor campanha.


A entrevista com Cristovam Buarque foi realizada pelos jornalistas Edson Crisóstomo, da revista Plano Brasília; Guaíra Flor e Tchérena Guimarães, do recém-lançado Portal Plano Brasília, e Yuri Achcar, da TV Record. O encontro ocorreu na terça-feira, 04 de fevereiro, no restaurante Santé, da 413 Norte.
 

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