sábado, 15 de fevereiro de 2014

A hora e a vez dos partidos políticos


12 de fevereiro de 2014
publicado às 01h19

 
Por Theófilo Rodrigues – do Rio de Janeiro--  Estação da Notícia


Toda ação política possui consequência. Não se mensura uma ação política por sua intenção, mas por seu resultado. É de Weber a clássica distinção entre ética da convicção e ética da responsabilidade – ou seria de Maquiavel e Lênin? 
 
Mas não é necessário recorrer à teoria política. A sabedoria popular já sabe disso há muito tempo como podemos atestar em usuais expressões, afinal “de boas intenções o inferno está cheio”.
 
O homem faz a história, mas não do jeito que quer, diria um Marx. 

O homem é o homem e suas circunstâncias, diria um Ortega y Gasset. De tão óbvio, tudo isso precisa ser repetido à exaustão. Do contrário, há sempre o risco do óbvio passar desapercebido bem diante de nossos olhos.

A morte do jornalista da Band no Rio de Janeiro após ter sido atingido por um rojão atirado por um manifestante adepto da tática black bloc teve um resultado inesperado: a desmoralização e desqualificação das manifestações sociais. 

E esse é um dos maiores prejuízos democráticos que uma sociedade pode ter. O erro ocorreu, mas não houve nenhuma organização política capaz de assumir a responsabilidade.

As manifestações populares, ocupações das ruas e das praças não podem ser desmoralizadas ou desqualificadas. Infelizmente, isso é o que vem ocorrendo a partir do momento em que indivíduos rebeldes e atomizados reunidos apenas por frágeis organizações virtuais ocupam o vazio deixado pelos partidos políticos.

O rebelde não tem causa nem programa, só o revolucionário os possui. Enquanto o rebelde quer acabar apenas com o tirano, o revolucionário pretende pôr fim à tirania. Em determinadas situações rebeldes atomizados podem até ser muitos, mas valem por poucos. Revolucionários organizados podem ser poucos, mas valem por muitos, nos ensina uma velha lei da dialética. 

O revolucionário se organiza e essa organização na sociedade complexa é o partido político.

Nosso desejo por um futuro onde a sociedade civil sobreponha a sociedade política em direção ao desvanecimento do Estado pode estar sempre presente. 

Mas o fato é que ainda hoje as principais organizações políticas capazes de assumir as responsabilidades por transformações ou conservações são os partidos.

Os partidos políticos precisam voltar a ocupar os vazios deixados nas ruas. Os partidos precisam voltar a apresentar suas bandeiras e programas, conquistar e mobilizar adeptos. Pois a vocação do poder – a ética da responsabilidade – está destinada à eles.

Partidos da oposição precisam ir para as ruas desgastar os governos de plantão apontando o que está errado e apresentando o que deve ser feito para melhorar. 

Da mesma forma partidos da situação precisam ocupar as ruas para mostrar como seu projeto de poder está dando certo e que por isso precisa ter continuidade. É ocupando as ruas que os partidos darão direção ao movimento espontaneísta.

A defesa da Política com P maiúsculo está apenas nas mãos dos partidos. Essa é a hora e a vez deles. Pois a história já mostrou que não existe vácuo na política.


Theófilo Rodrigues é cientista político.
Publicado no Correio do Brasil

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