quarta-feira, 23 de abril de 2014

Com promessa de veto a projeto anti-pets em parques, vale o bom senso

O recolhimento de fezes, por exemplo, já é obrigatório, conforme lei distrital de 1998


Matheus Teixeira

Publicação: 23/04/2014 06:03 Correio Braziliense

Marli e o poodle Lala: a professora aposentada acredita que o brasiliense tem mais consciência sobre a limpeza dos cachorros (Daniel Ferreira/CB/D.A Press)
Marli e o poodle Lala: a professora aposentada acredita que o brasiliense tem mais consciência sobre a limpeza dos cachorros

Após o GDF anunciar veto ao projeto de lei aprovado pela Câmara Legislativa que previa a proibição à presença de cães em parques públicos, cabe aos donos honrar o direito de ir e vir com os animais de estimação e mostrar respeito ao próximo. Assim pensa a psicóloga Gabriela Melo, 28 anos, dona do bulldog francês Frederick. E dá o exemplo: ela recolhe a sujeira do cachorrinho toda vez que o leva para passear — o recolhimento de fezes é obrigatório, pela Lei Distrital 2.095/1998.

Gabriela sempre leva um saco plástico e, com o objeto, recolhe as fezes do cachorro. A ideia é se colocar no lugar dos outros. Apaixonada por Frederick, a psicóloga define como “absurdo” o projeto que vetaria o direito de ela passear com o cão nos parques da cidade. O pedido da psicóloga aos outros donos é apenas um: respeito. “É horrível pisar em cocô no meio da rua. Não é com o cachorro que fico brava, não é culpa dele, e sim da pessoa que ignora a sujeira”, diz.

A diretora-geral da Associação Protetora dos Animais (ProAnima), Simone de Lima, afirma ser “muito simples” o recolhimento. Feliz com o veto, ela lembra que o o ato é lei desde 1998. “Tenho notado, nesses anos de trabalho com a ProAnima, uma melhoria, mas ainda é pouco. É muito simples: saiam com um saco plástico, recolham e joguem na lata de lixo mais próxima. Não tem segredo”, explica.

Apesar de não ser o foco principal da organização, a ProAnima participou, logo em seu primeiro ano de existência, em 2003, da Campanha Quadra Limpa, da Prefeitura da 106 Norte. O slogan “Dono legal cata o cocô do seu animal” foi sugerido pela organização. Além disso, deram orientações quanto ao que fazer com as fezes e dicas sobre posse responsável de animais em apartamentos. “Nos 11 anos de ProAnima, notamos uma boa evolução no recolhimento, mas ainda não é a maioria. Para a lei funcionar, é necessário fiscalização e conscientização”, afirma Simone.

A estudante de biomedicina Ana Clara Nogueira, 21, segue as dicas dadas por Simone. Moradora da 303 Norte, ela sempre recolhe as fezes do cão com o saco plástico. “O Conca tem 4 anos, o adotei logo que cheguei a Brasília. Sempre foi assim. Em toda quadra com grama existem caixinhas para recolhimento e sacos de papel para catar”, conta a torcedora do Fluminense e filha de militar. “Mas eu trago a sacola de casa porque com o saco de papel é difícil”, completa.

Responsáveis

Marli Oliveira, 63 anos, mora em Brasília desde 1999. A soteropolitana viveu a maior parte da vida no Rio de Janeiro, até o marido, servidor público, ser transferido para cá. Ela foi a primeira prefeita da 304 do Sudoeste. “Quando cheguei, era tudo barro e lama”, recorda. Hoje, como vice-prefeita e aposentada das tarefas de professora, dedica boa parte do tempo à “fiscalização” da limpeza da quadra, que tem placas com sacolas plásticas para o recolhimento das fezes dos cachorros.

“Em comparação a Salvador e ao Rio de Janeiro, que não têm tanta grama como Brasília e mais pessoas passeiam com cachorros — sem coletar as fezes —, aqui é bem limpo”, diz Marli, ao lado da poodle Lala, de 9 anos. Com as placas colocadas pela Prefeitura há dois anos, a moradora do bloco H notou a conscientização dos colegas de quadra. “Eu fiscalizo tudo. A placa conscientiza e é inibidora. Dá para notar, com o aumento de lixo nas latas e a diminuição de saquinhos, que os moradores se adaptaram bem”, complementa professora aposentada, que também é produtora de chocolates artesanais.

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