sexta-feira, 18 de abril de 2014
Por esses dias, tive o prazer de reler excelente artigo assinado
por Carlos Alberto Sardenberg estabelecendo um comparativo entre os
ex-presidentes do Brasil, General Ernesto Geisel e Luiz Inácio Lula da Silva.
Com texto predominantemente didático e absoluto conhecimento do tema proposto,
Sardenberg nos brindou com uma aula sobre as diferenças que tornaram Geisel e
Lula iguais.
Ainda que louvando o fértil saber do articulista renomado,
me permito a licenciosidade de percorrer a contramão do seu raciocínio e
apontar algumas das diferenças que mantiveram Fernando Henrique Cardoso e Lula
diferentes.
Talvez a única semelhança entre eles se expresse no fato de
ambos terem desfrutado de dois períodos de quatro anos à frente do Executivo
Federal, mas até essa igualdade, beneficiada pelo princípio da naturalidade, se
esvai na decisão do então ministro da Educação, e atual prefeito de São Paulo
inventado por Lula, proclamando que nem sempre o resultado de quatro mais
quatro é oito.
Baseado nesse inovador conceito matemático, entendo ser
perfeitamente honesto presumir que os próprios petistas se incumbiram de
mantê-los diferentes, o que pode ser creditado como uma das maiores
contribuições de Fernando Haddad para o enriquecimento da biografia de FHC.
Vou passar o mais distante possível de qualquer avaliação
individualizando a produção intelectual ou a formação acadêmica, pois seria
pura perda de tempo. Uma eternidade os separa. Acho menos acachapante iniciar
este breve paralelo a que me propus invocando o respeito que devotaram à
instituição Presidência da República.
Se FHC restituiu a esse símbolo nacional sua importância e
sua dignidade depauperadas pelas passagens devastadoras de Geisel, Sarney e
Collor com a postura de chefe de Estado, Lula, no entanto, o remeteu de volta
àquele período sombrio vulgarizando-o com o comportamento de chefe de facção.
As desigualdades poderiam muito bem ser sintetizadas apenas nesse episódio
específico que por si só já seria cabal, mas o exemplo utilizado, como
poderemos constatar, é só uma pequena amostragem.
Se FHC revolucionou as comunicações abrindo o caminho para a
popularização do telefone, até então privilégio reservado aos ricos, e
estruturou o país para ingressar na modernidade da internet que batia à porta,
Lula, por sua vez, acenou com uma bolsa-banda larga que não saiu do papel e, em
nome de uma estranha democratização da informação, buscou o tempo todo censurar
a imprensa.
Se FHC deixou como legado os fundamentos de uma política
econômica vitoriosa que derrotou a inflação estratosférica que prejudicava
somente os mais pobres e cuja estabilidade propiciou a reintegração do Brasil
ao convívio das nações desenvolvidas, além de garantir o retorno dos
investimentos internacionais em praticamente todos os setores da produção,
Lula, como contrapartida, legou à sua sucessora um buraco enorme nas contas
federais que está inviabilizando a administração da presidente Dilma Rousseff e
desacelerando as obras do PAC, festejadas, ressalte-se, somente nas propagandas
oficiais e nos confins do Brasil Maravilha registrado em cartório, território
este habitado apenas pelo lulopetismo delirante.
Se FHC, apesar de algumas derrapadas infelizes,
destacando-se o advento da reeleição, que na minha opinião não deveria ter
acontecido, registre-se, e a infeliz declaração de apoio à liberação do consumo
da maconha, ainda assim é reconhecido até hoje por sua preocupação com os
ditames constitucionais e pelo relacionamento respeitoso com os outros dois
Poderes, Lula, por sua vez, ganhou notoriedade pelo pouco apego à Constituição,
pelo descarado aparelhamento do Judiciário e pela determinação de suprimir o
Legislativo. Se não conseguiu, andou bem próximo disso.
Se FHC se empenhou em criar uma malha de proteção social,
Lula se incumbiu de instalar uma rede de servidão eleitoral.
Concluindo, a diferença entre Fernando Henrique Cardoso e
Luiz Inácio Lula da Silva se revela contundente em todos os aspectos passíveis
de análise, desde o comportamento humano à lisura no desempenho político, passando
pela celebração da ética até ao exercício da competência, culminando no
estadista que FHC foi sem nunca ter reivindicado e que Lula, descartando-se a
vassalagem, sempre quis ser sem jamais ser reconhecido.
Se FHC é criticado por seu muito ter sido pouco, Lula o
contrapõe por seu pouco ter sido muito. Simplificando, é mais edificante saudar
o pouco concreto e realizado do que recorrer à exuberância manipulada do muito,
abstrato e malandro, que se materializa apenas no inferno improdutivo das boas
intenções. Simples. Não para os petistas, é óbvio.
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