domingo, 20 de abril de 2014

Tesoureiro do PT revela que sua maior preocupação é não deixar indícios.


domingo, 20 de abril de 2014


Réu de um processo de desvio de R$ 170 milhões na Bancoop, que lesou milhares de trabalhadores na venda da casa própria, revela que, para ser tesoureiro do PT, quanto menos transparência, melhor

Responsável pelas contas do PT desde 2010, João Vaccari Neto é conhecido dentro e fora do partido pela discrição. Diz que "tesoureiro famoso não dá certo", afirma que não frequenta empresas públicas para evitar "confusão" e nega qualquer relação entre o partido e a Petrobras. Confira partes da entrevista.

Folha - Desde 2005, quando estourou o mensalão, a tesouraria do PT é área delicada. O que mudou?

Propus mandato de pouca publicidade. Os problemas que tínhamos eram gigantescos. Tesoureiro famoso não dá certo, tem que atuar com discrição e firmeza.

Delúbio errou?

Nunca fizemos qualquer avaliação do ponto de vista da gestão do Delúbio. Acho que ele fez um mandato à luz do seu tempo.

O senhor é procurado por muitos empresários?

Queria que tivesse fila [de empresários], mas não tem. O relacionamento com o empresário é político, para convencê-lo a fazer doações. Ninguém faz fila para doar dinheiro; tem fila de credor [risos].

Em 2014, o cenário é diferente do de 2010. A Petrobras está no meio de uma crise, e há outros fatores. Será mais difícil arrecadar?

Isso é difícil de falar. O ambiente é mais tenso, mas há também uma diferença entre o que se diz e o que, de fato, acontece. Tudo isso gera um conflito e uma desconfiança que dificulta o trabalho de todo mundo, não só o meu.

Deputados dizem que o senhor tinha influência sobre o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa.

Nunca tive relação com ele. Eu o conheço de atividades políticas, mas nunca tive contato. Não frequento órgãos públicos ou empresas estatais porque já sei o tamanho da confusão que isso é.

É um trauma de 2005? Delúbio frequentava o Banco do Brasil...

Não é trauma, só acho que um tesoureiro frequentar empresas públicas passa uma ideia muito ruim, até porque as empresas estatais não contribuem [com o partido].

Parlamentares da base falam, nos bastidores, de um suposto esquema de caixa dois do PT na Petrobras. O senhor sabe disso?

O PT não tem relação com a Petrobras. Nenhuma. Aliás, nunca fui à sede da Petrobras desde que estou como secretário de Finanças do partido. Nunca fui lá por quê? Vai ficar registrado, e depois tem qualquer coisa e estou lá na foto. 
 
Nós temos tido um raio de ação muito firme. As contribuições têm que ser oficiais, ponto. Não aceitamos fonte vedada. A gente faz triagem, verifica se pode aceitar, de quem veio, senão, não doa. Somos muito rígidos, talvez seja fruto das experiências. (Folha de São Paulo)
 

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