Artigo
no Alerta Total – www.alertatotal.net
Por
Francisca Paris
Se você perguntar
para alguém qual é a sua opinião sobre mentir, certamente ele dirá que é contra
e que não mente. Mas será que é verdade? Claro que há brincadeiras saudáveis em
relação a isso, como as pegadinhas as quais estamos acostumados especialmente no
dia 1º de Abril. O Dia da Mentira surgiu na França e veio para o Brasil em
1848. Em 1º de abril deste ano, veiculou-se em Pernambuco que D. Pedro havia
falecido, informação que era mentirosa e foi desmentida no dia seguinte.
O problema não é
brincar neste dia, mas quando a mentira vira um hábito. Muitos não refletem
sobre a intenção ou o ato propriamente de enganar e acham que uma mentirinha
não faz mal a ninguém. Porém, quando se é pai ou responsável pela educação de
uma criança, é importante analisar quais os efeitos que a falta da verdade
podem provocar, seja ela grande ou pequena.
Infelizmente, a
mentira está arraigada em nosso cotidiano. Ela está cada vez mais presente no
meio político, por exemplo, em que escândalos aparecem quase que diariamente e,
mesmo havendo as provas dos crimes, os culpados insistem em mentir e negar.
Quando não ocultam, transferem a culpa ou até tiram proveito da situação. E,
vendo que conseguem se sair bem, se habituam a isso, aproveitando-se da
conveniência de não ter que encarar a realidade dos fatos.
Mesmo sendo
instruídas a não mentir, observamos que as crianças acabam usando desse
artifício para tentar fugir de um castigo ou uma bronca. E fazem isso porque
seguem os padrões daqueles com quem convivem. Isso significa que de nada
adianta ensinar um pequeno a não mentir se quem o educa faz o contrário. Pais e
responsáveis precisam dar o exemplo, pois os filhos os observam sempre e tendem
a reproduzir as mesmas atitudes tal qual um espelho reflete a imagem a sua
frente.
De acordo com um
estudo feito por um professor de psicologia da Universidade de Massachusetts,
nos Estados Unidos, em geral as pessoas contam três mentiras a cada dez
minutos. A pesquisa revela, ainda, que é comum se recorrer a inverdades para
manter um bom convívio social. Isso acontece, por exemplo, nos diálogos mais
simples, como a clássica sequência: “Oi, tudo bem?”, “Sim, vou bem e você?” e
“Estou bem também, obrigada”.
Essas respostas não significam que o interlocutor
esteja realmente bem, mas a afirmação de que tudo está nos conformes serve para
evitar ter que revelar algo indesejável de sua vida particular ou profissional.
Afinal, ninguém quer ouvir lamúrias logo no começo de uma conversa,
especialmente se elas vierem de alguma pessoa com quem não se tem muita
intimidade.
É claro que não
estou aqui defendendo que todos sejamos os “supersinceros”, porque isso traria
enormes conflitos sociais. Seria realmente difícil conviver se todos dissessem
tudo o que se passa em suas cabeças, sem o menor filtro. Isso, certamente,
traria chateações e tristezas, porque nem todos querem ouvir que aquela roupa
não caiu bem ou que a pessoa é muito irritante ou inoportuna. Isso guardamos
para aqueles com quem temos mais proximidade.
Mas, se a verdade
dói e assusta em um primeiro momento, ela traz alívio e conforto depois. A
mentira não traz refresco para quem a conta, já que ela não se resolve por si
só. Ela também dói, só que de outra maneira, porque sufoca e não permite a
expressão verdadeira. Além de dar muito trabalho, claro! Isso porque muitas
vezes é preciso construir todo um castelo de mentiras para proteger uma única
falsidade, o que desperdiça muita energia e gera um eterno estado de tensão,
porque se cria a necessidade de manipular a tudo e a todos eternamente. É muito
mais fácil falar logo a verdade!
Um dos diferenciais
do ser humano em relação aos animais é a capacidade de conseguir prever as
consequência dos seus atos. Então, ao evitar ser verdadeiro, a pessoa pensa que
está fugindo das sequelas, mas elas aparecerão, cedo ou tarde. Não podemos
deixar que o ludibriar seja parte do cotidiano, pois por pior e mais dura que
seja a verdade, ela deve prevalecer.
O ideal é não
mentir, nem por brincadeira, mas também não sou radical em relação a isso. As
pegadinhas podem ser saudáveis e bacanas, porém é sempre importante lembrar o
quanto o respeito e o cuidado com o outro são essenciais, de forma a evitar que
alguém saia prejudicado. Então não há problemas em “sair da linha” um único dia
se, no restante do ano, se reforçar o mal que se causa ao roubar, fingir e
mentir.
Francisca
Paris é pedagoga, mestra em educação e diretora de serviços educacionais da
Saraiva.
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