quarta-feira, 2 de abril de 2014

General Heleno afirma: “A única saída para o Brasil é a democracia”. É hora de um pouco mais de dinâmica social…



Augusto_Heleno_(2007)


Segundo o site Mídia Inversa, o General Augusto Heleno Ribeiro Pereira, primeiro comandante do contingente inicial da Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti, e ex-comandante Militar da Amazônia, é melhor que os adeptos da Marcha da Família percam de uma vez por todas a esperança de uma “intervenção militar”.


Além de dizer que não pretende ser candidato à Presidência da República, ele afirma que o momento não é de busca de salvadores da pátria, mas da criação de uma verdadeira consciência política dos jovens (aliás, é o que este blog tem falado quase sem parar):


Não há salvadores da pátria. O problema do país é acertarmos em termos de escolha. É algo de formação das pessoas, de muito longo prazo. Nossa democracia está consolidada, mas me preocupa o fato de que a juventude em geral, o que inclui seus melhores quadros, está muito afastada da participação na política. Há muita gente que tem condições intelectuais e de formação e pode contribuir para o país mas não é cooptada pela política. A estrutura atual é perversa, e precisa ser mudada em profundidade.

Sobre os pedidos de “volta dos militares” ao poder, ele é taxativo:

Alguém que pense assim e esteja a meu favor quer, na verdade, me empurrar para o buraco. Ter essa postura é afrontar tudo o que foi conquistado em muitos anos. O único caminho para o país — está comprovado — é a democracia. É inimaginável se controlar a liberdade das pessoas. O único caminho de fortalecimento e desenvolvimento para o Brasil é a democracia.

Sobre um certo Partido Militar Brasileiro, que está sendo fundado, ele diz:


É um absurdo. Quando os militares tiverem vínculo com algum partido político estaremos perdidos. Essa ideia é absurda.


Não sei se o General Heleno estudou a dinâmica social, mas suas reações são bastante lógicas se avaliadas sob este paradigma.



Ele sabe que um partido de militares traria uma pressão excessiva para cima do pessoal da caserna. Não existe um partido de advogados, de médicos e nem de psicólogos. Por que deveria existir um partido de militares? É claro que a criação de um partido militar brasileiro é a senha para que uma parte da direita continue requisitando “intervenção militar”.



Mas por que ele não quer que esse tipo de solicitação esteja associado aos militares? Simplesmente por que ele sabe que já bastou uma ação pela força em 1964 para os militares hoje estarem sendo expostos ao escárnio de diversas formas. Quanto mais solicitações, mais vulneráveis ficam os militares.


Veja a dinâmica: imagine que você queira conquistar sua posição de gerente sênior em uma organização através da demonstração de que você é capaz de ganhar a confiança do time para os principais projetos de mudança e em seguida surja um grupo de adoradores seus dizendo que você “deve matar a facadas” o diretor de sua área. 



Simplesmente todos os seus esforços estão sendo demolidos por uma campanha que não tem absolutamente nada a ver com os seus objetivos. Esse é um motivo pelo qual os militares devem fugir desta “solicitação de intervenção militar” como o diabo da cruz.


Também é fundamental ver que Heleno trata a democracia como fundamental. Qualquer pessoa fazendo um discurso político e que tenha o básico de consciência política deveria fazer o mesmo. 


E aí que se entende por que Heleno pediu que os jovens tivessem mais consciência política. Mas de novo vou analisar a coisa pela ótica da dinâmica social. Precisamos decifrar por que é tão importante falar em nome da democracia.


Imagine que você vá para a balada testar seus dons de sedução e resolva demonstrar para as HBs tamanho nível de confiança que isso exiba para elas que você merece conquistá-las. Agora imagine que um de seus amigos resolve colocar um revólver na cintura e demonstrar que não é justo que elas tenham uma opção. Elas devem sair com ele pela força.


É muito provável que este último seja expulso da balada pelos seguranças. E não vai comer ninguém. E nem merece. Já os outros tem suas chances aumentadas. Simplesmente eles sub-comunicam que (a) se as HBs possuem poder de escolha, e (b) se eles estão confiantes, que (c) eles merecem conquistá-las. Aquele que comunicou o inverso de (a) e (b) na verdade disse que não merece conquistar as HBs. Em tempo: a confiança é um fator primordial para o resultado, portanto o direitista depressivo que se limita a dizer que “acabou tudo, não há esperanças, a esquerda venceu e sempre vencerá” também sub-comunica que não merece resultado algum.


Quando dizemos que o único caminho é a democracia, automaticamente sub-comunicamos que o povo deve ser livre para escolher quem quiser. Da mesma maneira, quando demonstramos a confiança de que podemos (e devemos) vencer em um ambiente democrático, dizemos que quando as pessoas tem escolha, elas deverão naturalmente optar por nós quando estiverem conscientes adequadamente de nossa proposta. 


A partir daí, basta para nós aumentarmos o grau de conscientização da população sobre nossas propostas. Se a população não estiver optando por nós, é que não estamos sendo assertivos o suficiente em nossa conscientização.


Heleno provavelmente não precisou da dinâmica social para entender que o único caminho a ser escolhido é a democracia. O fato é que nunca, por qualquer razão que seja, não há razão para o lançamento de um discurso político que renegue a democracia. Quem quiser fazê-lo automaticamente sub-comunica que não quer resultados políticos. Isso é o mesmo que um treinador de futebol que não dá a mínima para conquistar pontos em jogos.


Porém, a dinâmica social serve para nos dar um norte a respeito do efeito de nossas escolhas e nossas ações. Também serve para mostrar como esses comportamentos muitas vezes podem servir para demolir qualquer prova social que queiramos obter. Podemos também entender o quanto é danoso renegar a democracia e ignorar a soberania do povo.


Não há outra opção na guerra política que não o reconhecimento da democracia como um valor absoluto, assim como na demonstração pública de confiança de que merecemos vencer a contenda.

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