No Brasil as coisas são assim: leva muito
tempo até a ficha cair. Mas um dia ela cai! É o que parece estar
acontecendo quando se trata do PT e seu discurso de “nós contra eles”,
tentando monopolizar a ética. Parece até piada de muito mau gosto logo o
PT falar de ética, o partido mais corrupto de todos. Mas até bem pouco
tempo atrás essa falácia colava.
Em sua coluna
de hoje na Folha, Reinaldo Azevedo lança um prognóstico otimista: o PT
começou a morrer. Justamente porque essa blindagem que o partido usa, de
demonizar qualquer crítico de sua gestão como se fosse inimigo do país,
rompeu-se. Chega a ser ridículo alguém apelar para essa tática hoje.
Como diz Reinaldo, “Desta vez, parece, os larápios não vão usar o
relincho ideológico como biombo”. Ele acrescenta:
Há nas ruas,
nas redes sociais, em todo canto, sinais claros de enfraquecimento da
metafísica petista. Percebe-se certo cansaço dessa estridência
permanente contra os adversários, tratados como inimigos a serem
eliminados. Se, em algum momento, setores da sociedade alheios à
militância política profissional chegaram a confundir esse espírito
guerreiro com retidão, vai-se percebendo, de maneira inequívoca, que
aquilo que se apresentava como uma ética superior era e é apenas uma
ferramenta para chegar ao poder e nele se manter.
A arte de
demonizar o outro, de tentar silenciá-lo, de submetê-lo a um paredão
moral seduz cada vez menos gente. Ao contrário: há uma crescente
irritação com os estafetas dedicados a tal tarefa. Se, antes, nas redes
sociais, as críticas ao petismo eram tímidas, porque se temia a polícia
do pensamento, hoje, elas já são desassombradas. E se multiplicam. Os
blogs sujos viraram caricatura. A cultura antipetista está em expansão. E
isso, obviamente, é bom.
Como o próprio Reinaldo reconhece, isso
não é o mesmo que prever a derrota nas urnas em outubro. Está mais
para uma “agitação das mentalidades” que, segundo o autor, “costuma
anunciar as mudanças realmente relevantes”. É o que tenho chamado de
ventos de mudança, claramente perceptíveis em todo lugar.
Há um clima novo no ar, e cada vez mais
gente tem coragem de sair da toca e criticar o modelo ou o método
petista. O senso de moralidade vem despertando muitos que hibernavam
antes. A crise venezuelana ajudou, ao mostrar o destino final do país
caso nada seja feito para impedir o “projeto” do PT.
Fernando Gabeira, em seu artigo
publicado hoje no Estadão, foi por uma linha parecida, ao alertar que
os petistas ainda sonham com uma onipotência que não existe e cuja
sensação era derivada da bonança econômica. Diante da realidade cada vez
menos favorável, o PT tenta controlar os fatos e eliminar a oposição.
Diz Gabeira:
Bom dia,
Cinderela. O mundo mudou. Dilma e o PT não perceberam, no seu sono, que
as condições são outras. Brigar com os fatos num contexto de crescimento
econômico deu a Lula a sensação de onipotência, uma crença do tipo
“deixa conosco que a gente resolve na conversa”. Hoje, em vez de
contestar fatos, o PT estigmatiza a oposição como força do atraso. Ele
se comporta como se a exclusão dos adversários da cena política e
cultural fosse uma bênção para o Brasil. A concepção de aniquilar o
outro não é vivida com culpa por certa esquerda, porque ela se move num
script histórico que prevê o aniquilamento de uma classe pela outra. O
que acabará com os adversários é a inexorável lei da história, eles
apenas dão um empurrão.
Sabemos que a
verdade é mais nuançada. O governo mantém excelentes relações com o
empresariado que financia por meio do BNDES e com os fornecedores de
estatais como a Petrobrás. Não se trata de luta de classes, mas de quem
está se dando bem com a situação contra quem está ou protestando ou
pedindo investigações rigorosas contra a roubalheira, na Petrobrás ou na
Copa.
[...]
Até nas
relações exteriores o viés partidário sufocou o nacional, atrelando o
País aos vizinhos, alguns com sonhos bolivarianos, e afastando-o dos
grandes centros tecnológicos. Contestar esse caminho quase exclusivo é
defender interesses americanos; denunciar corrupção na empresa é ser
contra a Petrobrás; assim como questionar a Copa é torcer contra o
Brasil.
Bom dia, Cinderela, acorde. Em 2014 você pode se afogar nos próprios mitos.
Não é possível enganar todos o tempo
todo. É verdade que o PT distribuiu muito dinheiro – nosso – para
comprar apoio. Também é verdade que sempre contou com uma narrativa
messiânica disseminada por nossos “intelectuais” de esquerda. Mas há uma
clara fadiga do poder. O choque de realidade é brutal. O PT é um
fracasso econômico e um fracasso ainda maior na ética.
Não será possível se proteger de tantos
escândalos e tanta incompetência apelando para sempre ao fator
ideológico ou demonizando seus críticos. Essa estratégia hipócrita
engana cada vez menos gente. São os ventos de mudança, que anunciam o
começo do fim dessa seita chamada PT…
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