Joana, a filha do corrupto José Dirceu, em ato a favor do mensaleiro João Paulo Cunha. Privilégios burgueses na fila da Papuda.
Furando a fila dos parentes de detentos, um dos chefes de
inteligência do sistema penitenciário do Distrito Federal, governado pelo
petista Agnelo Queiroz, levou em um carro com placas frias a filha do
ex-ministro José Dirceu para visitar o pai na penitenciária da Papuda.
A Folha acompanhou e fotografou a carona da filha de Dirceu,
Joana Saragoça, anteontem, em um carro utilizado em operações sigilosas de
Estado e conduzido pelo servidor da Sesipe (Subsecretaria do Sistema Prisional)
Wilton Borges.
Com a carona, Joana não enfrentou a longa fila de familiares
de presos, de carro ou a pé, que começa a ser formada no final da tarde do dia
anterior na entrada do presídio. Ela chegou às 8h55 e passou direto pela
entrada de funcionários.
O objetivo dos familiares, ao chegar com antecedência, é
passar o mais rapidamente possível pela série de procedimentos de segurança da
Papuda, que pode durar até duas horas. São cerca de 2.000 pessoas em dia de
visita, que dura de 9h às 16h.
A Folha recebeu a informação de que visitas do gênero
estavam ocorrendo há pouco mais de um mês. A reportagem apurou que ao menos uma
visita ocorreu também numa quarta-feira e gerou mal-estar entre servidores da
Papuda, que a apelidaram de "atendimento a domicílio" para familiares
de Dirceu. Em um primeiro momento, o governo do DF afirmou que não
sabia da carona que facilitou o acesso da filha de Dirceu ao presídio.
GREVE DE FOME
Depois, divulgou nota segundo a qual a carona aconteceu
porque Joana ajudava em uma investigação interna sobre a possibilidade de
Dirceu fazer uma greve de fome em protesto por ainda não ter sido autorizado a
trabalhar fora do presídio. Na quinta-feira passada, reportagem da Folha já afirmava
que, apesar de ter cogitado a medida, Dirceu já a havia descartado.
Segundo o governo, como notícias da greve de fome estavam
"tendo repercussão no presídio", Joana foi "convidada a
colaborar" com a apuração, mas estava "se sentindo insegura" de
ir sozinha ao presídio da Papuda, o que motivou a carona.
Por fim, a Sesipe concluiu que Dirceu não está fazendo greve
de fome. O governo do DF não explicou qual seria o exato risco para o sistema
penitenciário que uma hipotética abstinência alimentar de Dirceu provocaria. A
Vara de Execuções Penais do DF, que usualmente seria comunicada de uma
investigação do gênero, disse não ter "informação sobre esse fato".
TRATAMENTO
O governo não respondeu se Borges já transportou parentes de
outros presos da mesma forma à Papuda. Joana afirmou à Folha que "não
conversa com jornalistas". A assessoria de Dirceu informou que "cabe à Secretaria
de Segurança do DF se posicionar sobre as visitas". Seu advogado, José
Luis de Oliveira Lima, afirmou que só cuida de questões jurídicas.
Desde que foi preso após ser condenado a 7 anos e 11 meses
ao regime semiaberto no processo do mensalão por corrupção ativa, Dirceu foi
acusado, com outros presos do caso, de obter privilégios na Papuda, como comida
diferenciada e até o uso de celular. Esta última acusação contra Dirceu teve
investigação arquivada pelo presídio.
Em parecer encaminhado ao STF, o procurador-geral da
República, Rodrigo Janot, afirmou que "há indicativos bastante
claros" de que os presos do mensalão recebem tratamento diferenciado. (Folha de São Paulo)
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