sexta-feira, 9 de maio de 2014

A maçã envenenada da desordem




Fabiane1


Em sua coluna de hoje na Folha, Reinaldo Azevedo comenta sobre o ato bárbaro de linchamento de uma mãe de família inocente por moradores do Guarujá, tudo por conta de boatos que circularam pelas redes sociais. A análise do jornalista vai na mesma linha do que já disse por aqui: não adianta buscar um único culpado ou bode expiatório, quando sabemos que a barbárie sempre fez parte da natureza humana e que a internet é apenas uma nova tecnologia que ou dissemina mais esse tipo de coisa, ou torna a informação sobre seu acontecimento mais universal.


Dito isso, se há alguma coisa que, ainda que não seja a única responsável, sem dúvida é um agravante ou estimulante, esta é a impunidade somada ao clima de desordem e anomia do país. O estado existe para cumprir algumas funções básicas, com escopo limitado. Quando ele se mete a fazer de tudo, inclusive ser empresário e também Robin Hood, naturalmente ele deixará de lado tais funções precípuas.


Temos estado demais no petróleo, e de menos na segurança pública. Estado demais na energia elétrica e de menos em educação (não recursos, mas qualidade). Estado demais no setor bancário e de menos no saneamento. Ou seja, o Brasil possui um estado gigantesco, com enormes tentáculos, mas que é ausente ou incompetente justo nas áreas mais importantes e que poderiam explicar a necessidade de sua existência.


Com mais de 50 mil homicídios por ano e muitos deles sem solução na justiça, o clima de impunidade permeia. Os “tribunais populares” surgem neste vácuo de poder, e muitos começam a acreditar que é legítimo “fazer justiça com as próprias mãos”. A civilização dá lugar à barbárie.


Por fim, como Reinaldo Azevedo reconhece e como já disse aqui também, o próprio governo do PT acaba estimulando isso, ao endossar criminosos sob o manto da “justiça social”. “Não se iludam”, diz Reinaldo, “quem flerta com depredadores do bem público, com invasores da propriedade alheia e com incendiários da ordem democrática – leu bem, presidente Dilma? – está dando uma piscadela a linchadores. É a maçã envenenada da desordem”.


Rodrigo Constantino

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