sexta-feira, 9 de maio de 2014

É impossível haver Legislativo bom com um estado gigante e tentacular



A boa notícia para o Congresso e, em certa medida, para o Brasil é que os que reprovavam o trabalho do Legislativo em agosto de 2013 eram 42% e, agora, são “apenas” 34%. É claro que não é um número bom e que muita gente por lá dá mau exemplo. Mas não sei se pode ser muito diferente.

Tendo a achar que a ação dos políticos é mal avaliada em todos as democracias do mundo — ainda que as sem-vergonhices em solo nativo possam ser maiores do que as de outros lugares. Especialmente nestes tempos de redes sociais, com todo mundo devidamente armado de seu “meio particular de comunicação”, as chances de expressão de descontentamentos são gigantescas.

Esse é o espírito do tempo. Mas há mais do que isso. Dado o tamanho do estado brasileiro; dado o tamanho do Executivo brasileiro; dados os superpoderes de que dispõe o governo brasileiro, é impossível o Congresso ter uma avaliação muito diferente dessa aí.

Não que o Poder seja apenas vítima. Há, sim, muitos larápios por lá, mas os há em toda parte. O problema é que o Legislativo no Brasil existe para ficar de pires na mão. As relações de troca fazem parte da própria natureza do processo. Quem nomeia os cargos da “estatal X”? O deputado ou senador “Y”. Quem indica a cúpula do “Ministério Tal”? O parlamentar “qual”. E assim por diante. O mesmo se dá com a distribuição de verbas do Orçamento.


Atenção! Não existe Legislativo eficiente com um estado desse tamanho! Ele será sempre um Poder subordinado, a manter com o Executivo uma relação corrompida, ainda que possa não ser, em muitos casos, corrupta. A avaliação do Congresso é sempre ruim, mesmo quando a do presidente da República está nos píncaros da glória. E, no entanto, convenham: o Parlamento que mais envergonha o povo é justamente aquele que vive de joelhos, certo? Aliás, não me parece acidental que a avaliação tenha melhorado um pouco justamente quando o prestígio da presidente não anda lá essas coisas…
 
Por Reinaldo Azevedo

Atuação do Congresso é reprovada por um terço dos brasileiros




Na Folha Online. Comento no próximo post.

 

Pouco mais de um terço dos brasileiros (34%) avalia a atuação do Congresso Nacional como ruim ou péssima. E já foi pior. Em agosto de 2013, na pesquisa anterior do Datafolha sobre o parlamento, a taxa de reprovação alcançava 42%. A redução de oito pontos na má avaliação não significa um aumento do percentual de aprovação do trabalho dos deputados federais e dos senadores. O índice dos que julgam a atuação dos congressistas como boa ou ótima praticamente não mudou. Apenas oscilou de 13% para 14%.


A título de comparação, a presidente Dilma Rousseff tem hoje 35% de avaliação positiva. É o segundo pior índice da petista desde a posse, em janeiro de 2011 -acima apenas dos 30% apurados logo após os protestos de junho de 2013. Mesmo assim, o governo Dilma tem mais que o dobro da aprovação do Congresso. A avaliação do Congresso Nacional varia pouco conforme as regiões do país, o porte do município do entrevistado, sua idade ou religião.


Destoa um pouco entre os mais escolarizados e os mais ricos. No grupo dos que têm ensino superior, a reprovação chega a 45%. Já o índice mais baixo de aprovação está entre os que têm renda familiar mensal acima de 10 salários mínimos, o recorte mais alto da amostra. Nesse universo, só 8% julgam o trabalho dos congressistas como bom ou ótimo. (…)

Por Reinaldo Azevedo

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