Por John Simão
Pois é, senhor Abílio Diniz, acabo de ler
um belíssimo artigo, atribuído à sua pessoa e divulgado na Folha de São Paulo.
Qualquer ser humano, com um mínimo de bom
senso, reconhece o valor de sua grandeza, capacidade e dedicação ao
engrandecimento de seus negócios e, consequentemente, de nosso País.
Em determinados trechos o senhor faz
colocações como: (sic)
“..
vejo a bola rolando quadrada no País do futebol...”;
“É possível que mais gente saia às ruas do
País para protestar contra o torneio do que para apoia-lo”;
“A intenção deste artigo não é desestimular
ninguém a protestar”
“...o Estado Brasileiro deve urgentemente
serviços mais eficientes e mais ética na gestão pública.”
E ainda, com brilhante visão comercial e
realizadora, afirma que:
“Atrairemos mais recursos realizando uma
copa ordeira, que revele um País dinâmico...”
“Mas a bola, afinal, vai rolar”.
“Está na hora de mostrar o nosso amor por
este país - de começar cantando “sou brasileiro, com muito orgulho” e
encerra-la com “we are the champions”“.
Quem se interessar pela leitura da
publicação supra citada, na íntegra, é só acessar o link abaixo. Vale a pena,
boa leitura, bons argumentos, colocações bem feitas, texto bem escrito.
Senhor Diniz, reconheço que suas colocações
são sensatas, equilibradas e, em curto prazo, porém, apenas em curto prazo,
produtivas.
Mas, pensando em longo prazo, certamente um
perfil que o colocou, e às suas corporações, no ponto em que chegaram, sabemos
que, ao mentir ao mundo que estamos bem, estamos apenas colocando a sujeira debaixo
do tapete. Sabemos também que “mentira tem perna curta”.
Concordo totalmente com o senhor quando
afirma que “está na hora de mostrar o nosso amor por este país”.
Porém discordo, também totalmente, de que a
forma de demonstrarmos este amor é fechar os olhos para a caótica situação
brasileira, ignorarmos o sofrimento de nossa gente e festejarmos algum tipo de
vitória, no campo de futebol.
Considero que incentivar a população a
aproveitar o momento, já que vai mesmo haver copa, é algo como dizer a um
filho: - "Júnior, você não deveria ter roubado este aparelho de som, mas
já que roubou, vamos ouvir musica e promover uma festa".
De que valeria o "conselho"?
Em minha visão não temos o que festejar
neste momento que o País vive uma corrupção sem precedentes na historia, mas
sim o que lamentar.
Temos motivos de sobra para chorar, motivos
inúmeros para nos manifestar contra tudo isto que estamos vendo, vivendo e
sofrendo. Não para “correr inocentemente” atrás de uma bolinha lançada em
gramado superfaturado.
Senhor Diniz, sabemos que a corrupção é a
forma mais cruel de crime, uma vez que subtrai violentamente do pobre, para dar
ao rico.
Corruptos e corruptores são verdadeiros
Robin Hood às avessas.
A classe privilegiada, em que, felizmente,
me incluo, porém não no seu nível de competência, capacidade, energia,
produtividade, inteligência, e patrimônio, tem algum conforto.
Ela conta com equipe própria de segurança e
proteção, tem acesso à educação de qualidade em escolas particulares e no
exterior, desfruta de transporte digno tais como veículos blindados com
motoristas ou, no seu caso, helicóptero, possui moradia digna e cuida de sua
saúde em hospitais de primeiro mundo. (Einstein, Sírio, ou mesmo no hemisfério
norte).
Acontece, senhor Diniz, que isto ocorre
porque nós, empresários, temos como nos defender dos impostos, absurdos, uma
vez que os incrementamos no preço final de nossos produtos.
No entanto, os assalariados, trabalhadores
de carteiras assinadas, que se matam no calor de suas moradas sem lajes, que
madrugam para esperar por um ônibus mal cuidado, que se espremem nas filas, que
vêm suas esposas e filhas assediadas, desrespeitadas e espremidas neste imundo
transporte público, que deixam seus filhos em casa sem segurança e sem escola, que
assistem à morte de seus pais abandonados
nos corredores dos hospitais públicos sem nada poder fazer, estes sim, são aqueles que, na verdade, pagam
com seus sofrimento toda esta conta de um governo absurdamente caro.
Pois todos nós pagamos impostos quando
compramos e pegamos nossos produtos nas prateleiras.
Toda a população paga igualmente, todo o
imposto está inserido ali.
Ou a empresa iria à falência, claro!
Alguém tem que pagar a conta, e é a maioria
que paga ao comprar uma lata de óleo e pagar duas, uma para o próprio consumo e
outra para o governo, mas que vai para os governantes.
Tenho pena de ver centenas de mães que, nos
caixas de supermercados, são obrigadas a negar um saquinho de gomas às suas
crianças porque não lhes sobram recursos para mais esta compra.
Tenho pena de toda este gente humilde que,
sem o saber, desperdiça metade de seus insuficientes salários na forma de
tributo a ser dilapidado por uma gentalha que se farta.
Esta gente sofrida, senhor Diniz, merece
nossa compaixão e nosso respeito. Não nossas mentiras ao mundo através de uma
comemoração pífia, vazia, sem sentido e sem significado real.
Desculpe-me a sinceridade, empresário
Abílio Diniz, mas o senhor está sendo simplório e, sem que talvez o sinta, até
mesmo malvado.
Em honra a esta gente humilde e em respeito
à minha dignidade eu me recuso terminantemente a "aproveitar esta
oportunidade" para mentir ao mundo e tirar proveito próprio de toda esta indecência.
Eu estou de luto porque estão matando minha
gente e meu País.
Vou seguir sua recomendação e cantar sim,
“sou brasileiro, com muito orgulho com muito amor”.
Com o orgulho de saber que não estarei
contribuindo para fechar os olhos de nossa gente distraindo-os com futilidade.
E com o amor que me leva a respeitar os
meus compatriotas que vejo extorquidos impiedosamente por governantes cruéis e
desonestos.
O senhor é um empresário de sucesso e
respeito. Homem influente. Por favor, peço-lhe que reflita, visando agir não
apenas como um grande empresário, bom anfitrião e ótimo negociador, mas que procure
servir a seu país nesta hora, como parte integrante da maioria.
Procure tirar um pouquinho os olhos de seu
conforto e se apiede dos injustiçados, afinal, somos todos iguais e irmãos no
amor.
Os estrangeiros irão entender nossa
indignação, talvez parar de rir de nossa gente e quem sabe, até mesmo, passar
nos respeitar como Nação.
Não tenho a honra de possuir seu contato
direto, porém espero que esta mensagem lhe chegue, o faça refletir e a agir com
a retidão que lhe é peculiar e que o momento exige.
A bola está quadrada sim, Sr. Diniz.
Não irei chuta-la...
Não vai rolar!
Sinceramente;
John Simão é Brasileiro, engenheiro e
empresário em São Paulo, SP.
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