Não há como deixar de lembrar que, junto com o Padrão Felipão, mais um mito criado sei lá por quem caiu por terra nesta Copa: a tal Família Scolari.
Os brasileiros ficaram 45 dias isolados na Granja Comari, na serra de
Teresópolis, um lugar onde mais chove do que faz sol. Lá fugiram da
pressão da imprensa e ficaram prontos para serem acometidos pela
depressão causada pela ausência de filhos, esposas, namoradas e da vida
real, apesar dos intermináveis pagodes para ocupar o vasto tempo de
ócio, causado pela falta de treinamentos. Até psicóloga tiveram que
chamar para uma terapia de choque. Não funcionou.
Sabem o que é acordar
todas as manhãs e ter pela frente o Murtosa, em vez da esposa? Deu no
que deu. Choros infantis na hora do hino, apagão na hora do gol,
paralisia na hora da reação. A Família Scolari virou uma
tragédia, um fracasso, nervos em frangalhos. Ficou sem pai, nem mãe,
todos protegendo todos, ninguém botando o dedo na cara de ninguém na
hora da falha, um bando de ovelhinhas mansas inspiradas nos caracóis do
Davi Luiz ou nas lágrimas pueris do Tiago Silva. Que dupla de zaga!
De outro lado, a Família van Gaal. A Holanda trouxe para o
Brasil, apesar das frequentes mudanças de sede, as famílias reais dos
jogadores. Esposas, namoradas e filhos curtiram a Copa adoidado, nos
oferecendo momentos fascinantes de calor humano, como a filhinha do
atacante Van Persie dizendo, do colo do pai, em plena coletiva: " papai, você está molhando minha saia". E o goleador respondendo: " depois o papai seca".
E o pequeno filho do espetacular Robben sendo consolado pelo pai, após a
derrota nos pênaltis contra a Argentina.
Ou a Senhora Robben pegando o
metrô em Salvador para chegar a Fonte Nova. O que vimos a Holanda fazer
dentro do campo foi muito diferente do que vimos nas apresentações da
seleção brasileira. Garra, coragem, técnica, malícia e genialidade.
Dentro do Mané Garrincha, ontem, foi Robben quem lembrou o mais famoso
driblador brasileiro.
A verdade é que o tempo todo a Família van Gaal foi mais feliz do que a Família Scolari.
Os holandeses nos ensinaram que o futebol é algo real e não um sonho
como imaginavam os nossos imaturos atletas e o nosso arrogante
treinador. E que família é família mesmo e não aquele "um por todos, todos por um"
que comoveu meia dúzia, mas que foi responsável - e muito! - por uma
cumplicidade com o fracasso, que redundou na maior derrota do futebol
brasileiro em todos os tempos.
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