Recebi ontem à noite este vídeo. Prestem atenção!
Por Reinaldo Azevedo
Imediatamente,
tentei repetir a simulação que ali é feita. Já não era mais possível.
Àquela altura, não tinha como ter a certeza de que se tratasse,
realmente, do site da Nike, embora tudo indicasse que sim. Deixei
para a hoje a confirmação. Está confirmado, como se lê em texto abaixo,
publicado no Globo Online. Leiam. Volto em seguida.
A
fornecedora de material esportivo da Seleção Brasileira, Nike, vetou a
venda de camisas personalizadas com as palavras PT, Dilma Rousseff, Lula
e mensalão. Contudo, até quinta-feira, era permitido personalizar
dizeres com os nomes dos candidatos da oposição Aécio Neves e Eduardo
Campos.
A
restrição foi divulgada pelo usuários Twitter @CarlinhosTroll que tentou
escrever “FORA DILMA” e “MENSALÃO” com o número 13 — usado pelo PT — e
foi vetado pelo sistema. Contudo, era permitido comprar uma camisa
personalizada com a expressão “FORA AÉCIO” e “FORA PSDB” até a
quinta-feira. Qualquer frase contendo a sigla “CBF” também era barrada
pelo sistema da personalização.
Após a
viralização de um vídeo na internet mostrando a contradição, o nome do
candidato tucano à Presidência da República e do PSDB também foram
vetados. Na manhã desta sexta-feira, o GLOBO tentou personalizar uma
camisa, mas o sistema não abriu a opção.
Procurada, a fornecedora de
material esportivo informou em nota que “não é filiada a nenhum partido
político, não só no Brasil como no mundo todo”. Informou ainda que “o
sistema do website nike.com, como descrito na própria página, não
permite customizações com palavras que possam conter qualquer cunho
religioso, político, racista ou mesmo palavrões”, e que “sistema é
atualizado periodicamente visando cobrir o maior número de palavras
possíveis que se encaixem nesta regra”.
Voltei
Ok. É evidente que a Nike não é filiada a
nenhum partido político, como diz a nota. Empresas não se filiam a
partidos no Brasil — e, até onde sei, nas democracias mundo afora.
A resposta
da empresa é amplamente insuficiente. Existe um programa por trás da
ferramenta que permitia a personalização das camisetas. E ele permitia
“Fora Aécio” e “Fora PSDB”, mas não “Fora Dilma” e “Fora PT”. Isso quer
dizer que alguém programou para que as palavras “Fora” e “PT” não
pudessem compor uma unidade, mas não viu nada demais em compatibilizar
“Fora” e “PSDB”, por exemplo, o mesmo valendo para Campos.
Diz a
empresa que “o sistema do website nike.com, como descrito na própria
página, “não permite customizações com palavras que possam conter
qualquer cunho religioso, político, racista ou mesmo palavrões”. Isso é
que está escrito lá. Mas o fato é que permitia mensagens hostis à
oposição, mas não ao governismo. Quando há uma flagrante contradição
entre o princípio anunciado e a prática, alguma explicação tem de ser
dada, não?
A questão
é, aparentemente, irrelevante. Só aparentemente. Faz parte do processo
de construção da hegemonia partidária, que busca a uniformização da
opinião e a ditadura do partido único, a naturalização da discriminação
de quem pensa diferente do partido que se pretende majoritário. No site
da Nike, alguém achou que era natural e conforme os princípios vetar as
palavras “Fora Dilma”, mas que não havia impedimento nenhum no “Fora
Aécio”.
A resposta
da Nike me lembra a que recebi, certa feita, de uma empresa de
alimentos. Sou alérgico a gergelim — alergia do tipo que mata mesmo!
Consumi um pão de forma certa feita e fui parar no hospital. Nos
ingredientes, não constava a existência do dito-cujo. Não havia nem
mesmo aquele “este produto pode conter resquícios de…”.
Nada! A empresa
insistia em me dar a seguinte resposta: “Nossos produtos são feitos
seguindo as mais rigorosas normas de etc. etc. etc”. Ah, disso, eu já
sabia. Eu queria saber a razão da minha crise. Acabaram admitindo que,
no processo industrial, o gergelim acabou se imiscuindo no pão que eu
consumira. Vale dizer: era mentira que os produtos fossem feitos
“segundo as mais rigorosas regras etc. etc. etc.”. Quando menos, as
regras não eram rigorosas o bastante para impedir alguém de consumir
involuntariamente algo que poderia matá-lo.
A Nike
continua a dever uma explicação. Quando menos, está convidada a
demonstrar o que há de errado no raciocínio que vai aqui.
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