Atualizado em 13 de julho, 2014 - 18:11 (Brasília) 21:11 GMT BBC
Um jornal italiano disse neste
domingo que, em uma entrevista, o papa Francisco admitiu que cerca de 2%
dos clérigos católicos, ou um em cada 50, seriam pedófilos.
Segundo o jornal La Reppublica, o pontífice disse que o abuso sexual de crianças era como uma "lepra" que infecta toda a igreja e pediu que o problema "seja confrontado com toda a severidade que demanda".
No entanto, após a publicação do texto, o porta-voz do papa, Federico Lombardi, disse que a entrevista publicada pelo jornal não correspondia às palavras exatas do papa e que aquilo não era uma entrevista propriamente dita.
O porta-voz afirmou ainda que o jornalista não usou um gravador e que as frases do papa foram baseadas apenas na memória dele, e não na transcrição de uma gravação.
O analista da BBC para assuntos do Vaticano em Roma David Willey disse que é recorrente haver uma ambiguidade planejada nas declarações feitas pelo papa em ocasiões em que não há um discurso pronto.
Willey também questionou o argumento do porta-voz do papa de que não foi uma entrevista: "Desde quando uma entrevista papal não é uma entrevista?"
'Bastão'
Até o momento, o Vaticano vem se recusando a quantificar a extensão dos escândalos de abuso sexual na Igreja Católica. Há estatísticas disponíveis apenas para países desenvolvidos. Em nações em desenvolvimento, há apenas números soltos.Na entrevista, o papa foi citado dizendo que a estimativa de 2% vinha de dados confiáveis fornecidos por conselheiros do Vaticano. Isso representaria cerca de 8 mil padres de um total de 414 mil em todo o mundo.
Apesar de a incidência de pedofilia como um distúrbio psiquiátrico na população em geral não ser precisa, há estimativas que colocam esse número em menos de 5%.
O jornal usou como manchete a frase "Papa afirma: Assim como Jesus, vou usar um bastão contra os padres pedófilos", em mais uma frase contestada pelo porta-voz papal.
No ano passado, Francisco endureceu as leis do Vaticano contra abuso infantil e, no início do mês, pediu perdão para as vítimas dos padres, em seu primeiro encontro com essas pessoas desde que foi escolhido papa.
Muitas das vítimas de abuso criticam a postura do Vaticano em não punir os clérigos de mais alto escalão acusados de abafar os escândalos.
Celibato
Na mesma entrevista ao La Reppublica, o papa teria indicado que haveria margem de manobra na questão do celibato clerical.Questionado sobre o assunto, ele lembrou que a proibição do casamento de religiosos foi adotada 900 anos após a morte de Jesus Cristo e que em algumas igrejas do cristianismo oriental permitem que seus sacerdotes se casem.
Em maio, ele também tratou do assunto, quando disse a jornalistas que o celibato não era um dogma. "É uma regra que eu aprecio muito, mas visto que não é um dogma, a porta está sempre aberta."
O jornal italiano também cita trechos da entrevista em que Francisco teria falado da máfia italiana.
De acordo com o jornalista, o papa admitiu que alguns clérigos o desafiam ao tolerar os mafiosos e, apesar de condenarem os crimes, não denunciam abertamente a ação do crime organizado.
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