BLOG do SOMBRA
Fifa também enfrentou protestos no Brasil pelos 'privilégios' que teve para organizar a Copa no país.
Uma importante ONG suíça está pedindo à Fifa e ao Comitê Olímpico Internacional que mudem a forma como fazem negócios no mundo.
A organização beneficente Terre des Hommes (do francês Terra dos
Homens) dedica-se a combater a exploração de crianças em países em
desenvolvimento.
Ela quer, por exemplo, que a Fifa (Federação Internacional do Futebol),
entidade que organiza a Copa do Mundo - um evento avaliado em bilhões
de dólares - passe a seguir as mesmas regras de responsabilidade
corporativa adotadas por outras corporações internacionais...
"Lojas de roupas têm responsabilidade sobre as condições de produção de
seus fornecedores", disse a diretora da Terre des Hommes, Danuta
Sacher, à BBC. "Bem, o mesmo (princípio) deve se aplicar à Fifa e ao seu
'produto comercial' – a Copa do Mundo".
"Devem se assegurar de que a Copa do Mundo está sendo produzida por
eles de forma idônea e segura para crianças e suas famílias",
acrescentou.
'Custo social e financeiro'
De acordo com a Terre des Hommes, no entanto, 170 mil pessoas perderam
suas moradias durante os preparativos para a Copa do Mundo no Brasil, em
consequência de obras para construção ou reforma de estádios ou por
causa de obras de infra-estrutura, como estradas e aeroportos. Segundo o
balanço final do governo brasileiro, foram 35 mil famílias
desapropriadas.
A ONG diz também que milhares de famílias foram retiradas de suas casas
e instaladas, contra sua vontade, em cabanas sem água ou eletricidade. A
entidade alerta que retirar famílias de suas comunidades aumenta
drasticamente os riscos de que caiam na pobreza.
Seu Jerônimo foi um dos desapropriados da Copa em Recife e está brigando na Justiça por indenização
"Se você observar os efeitos de grandes eventos esportivos, (verá que)
eles atingem os mais pobres de maneira desproporcional", disse Sacher.
"Países anfitriões pagam um custo social e também um alto custo
financeiro, o que, por sua vez, acaba tendo um efeito dominó sobre a
quantidade de ajuda social que a nação é capaz de oferecer".
Ela disse que o custo total da Copa do Mundo para os cofres públicos
brasileiros foi estimado entre RS$ 18,5 e RS$ 28,2 bilhões.
Esse valor corresponde, aproximadamente, ao total que o Brasil gastou,
em 2013, com o programa Bolsa Família, que atende a 50 milhões de
pessoas, disse Sacher.
A diretora da ONG disse considerar injusto que a nação anfitriã tenha
de arcar com o custo total da infraestrutura necessária para o evento,
enquanto a Fifa, que se beneficia de isenções de impostos nos países
anfitriões, arrecada bilhões de dólares com o evento.
Outra questão que preocupa a ONG Terre des Hommes é a proibição da
venda, pela população local, de comida, bebida e outros produtos nas
imediações dos estádios. A Fifa exige que organizadores autorizem a
venda apenas de produtos de seus patrocinadores.
Sacher disse que a proibição gera pobreza para dezenas de milhares de
famílias, que são impedidas de ganhar seu sustento, ainda que modesto.
"Estamos pedindo aos organizadores globais que levem em consideração a
situação dos excluídos e pobres quando planejarem seus grandes eventos
esportivos, para garantir que tragam benefícios para todos", ela
acrescentou.
Reação da Fifa
A Fifa, por sua vez, diz que vem trabalhando com a Terre des Hommes
desde 2013 na construção do Football for Hope Centre (Centro Futebol da
Esperança, em tradução livre) em Bujumbura, Burundi. O centro usa o
futebol como forma de dar apoio a crianças de rua e promover seu
convívio com crianças da comunidade local.
A entidade diz reconhecer seu dever "que vai além do jogo, buscando
criar um exemplo de sustentabilidade e responsabilidade corporativa
social para organizações internacionais".
Fifa diz que reconhece sua responsabilidade social além do futebol
A Fifa reitera que trabalha com a ONU e a Unicef, oferecendo apoio
total para ressaltar a importância dos direitos humanos e a educação
para crianças em todo o mundo.
Com relação aos despejos, a entidade diz ter sido "informada de
supostos reassentamentos de indivíduos devido a reformas ou construção
de estádios" e diz ter feito "averiguações junto a autoridades locais". A
Fifa acrescenta: "De acordo com o Ministério dos Esportes brasileiro e
as cidades anfitriãs, a renovação ou construção dos estádios não
provocou remoções forçados".
A Fifa diz que, segundo o governo brasileiro, nas 12 cidades que
sediaram a Copa, ao todo, 35 mil famílias foram retiradas de suas casas e
reassentadas em outros locais "por causa de melhorias gerais de
infraestrutura"
No que diz respeito a impostos, a Fifa diz que a isenção que obteve via
garantias do governo foi, principalmente, para a importação de bens e
serviços como uniformes para voluntários e frotas de carros e ônibus que
permaneceram no país após o torneio.
A entidade diz que subsidiárias como a Fifa Ticketing (responsável pela
venda de ingressos), o Local Organising Committee (comitê local de
organização) e outros prestadores de serviços pagaram imposto segundo a
legislação local. "A Fifa pagou imposto sobre cada ingresso vendido".
A arrecadação adicional de impostos "resultante de investimentos no
evento deverá totalizar RS$ 16 bilhões – portanto, muito (será) maior do
que o investimento público real nos estádios", diz a Fifa.
Sobre vendedores de rua, "principalmente por razões de segurança e
saneamento, o comércio informal que normalmente existe em alguns
estádios" foi "limitado ou restrito" durante a Copa do Mundo, disse a
Fifa. E acrescentou que ela e o comitê organizador ofereceram uma
plataforma para que cidades anfitriãs incluíssem comércio informal
controlado em suas operações nos dias dos jogos.
Obras
A Terre des Hommes iniciou uma campanha para conscientizar o público
sobre as privações que eventos como a Copa do Mundo podem trazer para
crianças pobres e suas famílias.
A ONG disse que planeja se reunir com representantes da Fifa no evento
Soccerex, a grande feira de negócios do futebol que acontece nesta
semana na cidade inglesa de Manchester.
A entidade disse acreditar que pode haver resultados positivos em torno
de grandes eventos esportivos, por exemplo, campanhas promovendo saúde,
prevenção contra a violência ou o fortalecimento da sociedade civil.
Mas para que tenham valor real, esses projetos precisam ser sustentáveis, continuando após o final do evento.
O president da Fifa, Sepp Blatter, disse que, no futuro, a situação de
direitos humanos nos países candidatos a sediar Copas do Mundo será
considerada (no processo de seleção).
A Terre des Hommes já começou a pesquisar possíveis problemas em torno
da Copa do Mundo da Rússia, em 2018 – entre eles, a situação das
crianças de rua no país. A ONG também quer ver mais medidas para evitar
mortes de trabalhadores em obras para a construção de estádios no Catar,
em 2022.
"Queremos saber por que a Fifa - que consegue fazer com que leis
nacionais sejam alteradas para atender às necessidades de seus
patrocinadores – não é capaz de fazer com que as leis do Qatar sejam
mudadas para garantir que trabalhadores não morram construindo
estádios", questiona Sacher.
Um porta-voz da Fifa disse ter pedido várias vezes às autoridades do
Qatar que tomem medidas em relação às condições inaceitáveis de
trabalhadores imigrantes no país.
"Iniciamos uma série de encontros para incentivar discussões sobre
direitos do trabalhador e condições de trabalho com empresas do setor de
futebol e com entidades como grupos de direitos humanos e sindicatos".
Fonte: Por BILL WILSON, BBC News - 16/09/2014 - - 06:50:44
Nenhum comentário:
Postar um comentário