quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Lula preside o apagão do petismo em São Paulo


Josias de Souza

Marcello Casal/ABr
O PT alcançou em São Paulo algo muito difícil de ser obtido em política: uma hegemonia de fracassos. Passou um vexame histórico na disputa pelo cargo de governador, perdeu a única poltrona de senador que estava em jogo e micou em 14 cadeiras de deputado —oito estaduais e seis federais.


Como se fosse pouco, o PT tomou uma coça na briga presidencial: derrotado em Minas Gerais, o mineiro Aécio Neves obteve em São Paulo quase o dobro dos votos amealhados por Dilma Rousseff—10,15 milhões (44,22%) contra 5,92 milhões (25,82%).

Em reunião prevista para esta quinta-feira (9), dirigentes do PT devem fazer um inventário do estrago. Diz-se que Lula dará as caras. Prevê-se que passará uma carraspana na companheirada. Cobrará sangue, suor, trabalho duro nas ruas e lágrimas para o segundo turno presidencial.

Antes de seguir para o encontro com os correligionários, Lula deveria fazer uma introspecção diante do espelho. Talvez enxergue o reflexo de um culpado. Levando a experiência a sério, perceberá que a pose de eletricista não lhe cai bem. Seu papel é o de presidente do apagão eleitoral.

Lula atravessou no caminho dos nomões do PT paulista o ‘poste’ Alexandre Padilha. Não conseguiu eletrificá-lo. E, na véspera da eleição, passou a conta adiante: “O partido precisa voltar a ocupar as ruas desse país como sempre fizemos. O lugar do PT não é no gabinete, é na rua, conversando com o povo…”

O morubixaba do PT bem sabe: há pouco petista sacudindo bandeira voluntariamente na rua porque aquela velha centelha do olhar dos militantes agora brilha nas ‘boquinhas’, não nas ruas —só no plano federal, há mais de 20 mil dessas 'boquinhas'. Isso sem mencionar os ‘petrobocões’.

Em maio passado, ao discursar no 14ºEncontro Nacional do PT, Lula como que desafiou o partido: “Junto com a eleição da Dilma, nós temos que fazer um processo de recuperação da imagem do PT, mas, sobretudo, precisamos fazer uma campanha para construir uma nova utopia na cabeça de milhões e milhões de jovens brasileiros”.

A certa altura, Lula estabeleceu uma comparação entre o PT que ele fundou em 10 de fevereiro de 1980, e a legenda que ocupa a Presidência da República há 12 anos:

“Nós criamos um partido político foi para ser diferente de tudo o que existia. Esse partido não nasceu para fazer tudo o que os outros fazem. Esse partido nasceu para provar que é possível fazer política de forma mais digna, fazer política com ‘P’ maiúsculo.”

Lula prosseguiu: “Nós precisamos voltar a recuperar o orgulho que foi a razão da existência desse partido em momentos muito difíceis, porque a gente às vezes não tinha panfleto para divulgar uma campanha. Hoje, parece que o dinheiro resolve tudo. Os candidatos a deputado não têm mais cabo eleitoral gratuito. É tudo uma máquina de fazer dinheiro, que está fazendo o partido ser um partido convencional.”

Bingo! Partido rico contrata militantes assalariados. Mas seus dirigentes podem acabar na penitenciária da Papuda, suas arcas um dia acabam secando e seus candidatos, conforme acaba de sinalizar o eleitor paulista, acabam sem votos.

No discurso de cinco meses atrás, Lula dedicou-se a confundir a plateia. Poucos parágrafos depois de ter reduzido o petismo a “uma máquina de fazer dinheiro” ele saiu em defesa da Petrobras:

“Não é possível aceitar gratuitamente a tentativa da elite brasileira de destruir a imagem da empresa que durante tantos anos é motivo de orgulho para o nosso povo”, disse. Hoje, as eleições gerais, inclusive a presidencial, ocorrem sobre um barril sigiloso de óleo queimado. Só vai explodir na cara do eleitor que, desavisado, tiver o azar de entregar o voto a futuros réus.

O Lula de maio também considerou inaceitável a “perseguição” que a mídia golpista faz ao PT. “Há um processo em andamento que chega a ser uma perseguição ao nosso partido”, disse ele. “Parece que é uma coisa pessoal contra o José Dirceu, contra o José Genoino, contra o João Paulo, contra o Delúbio ou contra qualquer companheiro.”

Considerando-se a (i)lógica do discurso de Lula, o PT tornou-se um fiasco em São Paulo porque perdeu a vergonha e o nexo. Ao empurrar Alexandre Padilha para a terceira colocação numa eleição vencida por um Geraldo Alckmin às voltas com um cartel de metrô e com uma crise hídrica, a plateia alerta: se não acordar, o PT será desligado da tomada e submetido a um racionamento de votos.

Aécio prevaleceu sobre Dilma em 88% municípios de São Paulo. Entre eles Santo André, São Caetano do Sul e São Bernardo do Campo, três joias do ABC paulista, berço político de Lula, do PT e da CUT. Lula ainda não se deu conta. Mas, sob o breu das urnas de 2014, seu Palácio de Inverno começou a ser invadido.

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