Estranha enfermidade
Estranha conduta noturna. A Academia Americana de Medicina do Sono acaba de reconhecer a sexsomnia como nova doença
O marido estava em cima dela. Ele a acordou e a obrigou a ter relações sexuais. Até aquele momento, ele nunca tinha sido violento. Ela não conseguiu pará-lo. A cena começou a se repetir, sempre depois que dormiam. No dia seguinte de manhã Marcelo não se lembrava de nada. Jorgelina pensou em se separar, enquanto o trauma crescia. Decidiram consultar um médico. Receberam diagnósticos erráticos. Chegaram a um centro de saúde especializado em Medicina do sono. E então Jorgelina ficou sabendo. Marcelo tinha uma doença rara: sexsomnia.
A sexsomnia acaba de ser reconhecida como uma doença pela primeira vez. Em maio deste ano, a Academia Americana de Medicina do Sono (AASMNET) a incluiu em seu catálogo. A enfermidade faz parte do grupo de doenças conhecidas como “parasomnias”, atividades motoras que são realizadas dormindo. O que significa isso? Significa que assim como o sonâmbulo faz movimentos complexos sem consciência, quem tem sexsomnia pode manter relações sexuais muito agressivas sem saber o que está fazendo.
“A primeira recomendação para um casal que está passando por essa situação é que comecem a dormir separados, pelo menos até os episódios se tornarem menos frequentes”, diz ao Clarín a chefe da unidade de Medicina do Sono do Instituto de Neurociências da Fundação Favaloro, Mirta Averbuch, que estuda o assunto. “Acontece a mesma coisa que com o sonâmbulo, o melhor é não acordar o paciente nesse estado. O transtorno é novo, mas existem tratamentos”, afirma.
De qualquer forma, existem poucas pesquisas sobre o assunto. Uma pesquisa canadense mostrou que 8% das pessoas que são atendidas por sonambulismo possuem este mal. O mesmo trabalho mostra que a sexsomnia é mais comum nos homens. “A falta de conhecimento e a vergonha dos pacientes impede que se saiba mais. Não se trata de uma doença relacionada com a epilepsia, como muitos pensam”, diz Averbuch.
O sexólogo León Gindin diz que os casos não chegam aos consultórios e adverte: “É preciso ter cuidado porque muita gente poderia chegar a querer dissimular um abuso sexual se amparando nessa doença. É necessário ser precisos no diagnóstico”.
Averbuch diz que os casos aparecem quando o doente está exposto a um forte estresse. Como acontece com os sonâmbulos, a atividade motora aparece na fase três do sono. O tratamento inclui sedativos derivados da benzodiazepina, que bloqueiam o sono profundo. Também aconselham terapia cognitiva e até cursos de relaxamento
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