segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Manifestação pede impeachment de Dilma, mas imprensa destaca solitário que quer intervenção militar



Lobão na manifestação. Fonte: Folha


Quando falamos em viés de esquerda na imprensa ainda há quem discorde. É muita cegueira mesmo. A eles, recomendo o livro Bias, de Bernard Goldberg, que foi âncora da CBS*. O viés é evidente, e não necessariamente fruto de alguma conspiração gramsciana. A maioria dos jornalistas pende para a esquerda mesmo, e acaba mandando a isenção às favas.

Assim foi na cobertura das manifestações que tomaram as ruas de São Paulo e outras capitais ontem. O maior jornal do país falou que tinham apenas mil pessoas reunidas ali, mas a polícia fala em quase três vezes essa quantidade, e vários leitores presentes garantem que era bem mais.

Mas não foi apenas na magnitude que o esforço voluntário de milhares de trabalhadores foi reduzido pelo filtro jornalístico. O conteúdo também foi deturpado. A imensa maioria pedia impeachment de Dilma, fazendo alusão às declarações do doleiro Youssef, que afirmou que a presidente tinha conhecimento do esquema de corrupção na Petrobras e dele se beneficiou.

O grito generalizado era “Fora PT”. As pessoas estão cansadas de tanta roubalheira, autoritarismo, incompetência. Enfim, cansaram de ter uma quadrilha instalada no Planalto, sugando os recursos públicos e tentando transformar nosso país em uma nova Argentina ou Venezuela. Essas milhares de pessoas se organizaram espontaneamente para protestar.

Mas tinha um gato pingado lá com um cartaz pedindo intervenção militar. Adivinha quem foi fotografado, entrevistado e citado pela imprensa? Isso mesmo! O senhor que quer os militares nas ruas. A manifestação de milhares de pessoas demandando investigação criminal e a saída de uma gestora associada a corruptos e tiranos se transformou em um ato golpista.

Não vou negar que podem existir alguns outros simpáticos ao reclamo do sujeito que deseja tanques nas ruas. Aqui mesmo no blog aparecem tais pedidos de vez em quando. Não chegam a representar mais de 5% dos comentários. Seria certo tomar uma minoria tão ínfima por maioria? Para os jornais com viés de esquerda, parece que sim. Reinaldo Azevedo escreveu sobre o assunto, e disse:
Manifestação reúne ao menos 2,5 mil. Fonte: Folha

No Brasil, é permitido marchar em favor da maconha. A venda e o consumo de maconha são ilegais. Manifestantes são tratados como bibelôs.

No Brasil, é permitido marchar em favor do aborto. O aborto, com as exceções conhecidas, é ilegal. Manifestantes são tratados como pensadores.

No Brasil, é permitido marchar em favor de corruptos condenados pelo Supremo. Manifestantes são tratados como ideólogos.

No Brasil, é permitido marchar em favor da recontagem dos votos e, sim, em favor do impeachment.


O Artigo 5º da Constituição garante tudo isso. Não obstante, manifestantes são tratados como pessoas ridículas e golpistas.

Esse tipo de postura de boa parte da imprensa é realmente absurdo. São sempre dois pesos, duas medidas. Sempre um duplo padrão, que condena a priori tudo aquilo que vem da direita e olha com condescendência aquilo que vem da esquerda, mesmo que venha mascarado e com coquetéis Molotov nas mãos. Há um salvo-conduto para esquerdistas, ainda que criminosos, pois sua causa é vista como justa sempre.

As manifestações da direita foram pacíficas, sem episódios de quebra-quebra, sem violência, sem patrimônio público ou privado depredado. Afinal, ali não tinha vagabundos niilistas, revolucionários que acham que seus “fins nobres” justificam quaisquer meios. Mas a imprensa fez de tudo para colar nos manifestantes a pecha de “golpistas”. É dureza…

O PT será derrotado pelas vias legais, mesmo que alguns tenham receios de que elas já não existem, pois teriam sido adulteradas e manipuladas pelo partido. Não reconheço legitimidade em um partido que fez o que fez para vencer, mas nem por isso acho que já passamos do ponto de derrotá-lo dentro da democracia que ele visa a destruir.

Se ele tiver sucesso nas próximas etapas, se a imprensa for totalmente calada, se o STF se transformar por completo num simulacro de justiça, se, enfim, o Brasil virar mesmo uma Venezuela, aí eu serei o primeiro a pedir intervenção militar. Dos males, o menor. Mas não é hora disso. É muito cedo, e espero que jamais cheguemos lá. O PT, apesar de tudo que fez, do abuso da máquina, das mentiras, da compra de votos, quase foi derrotado este ano, nas urnas! É assim que tem de ser e será.


* Em meu livro Esquerda Caviar, falei desse viés da imprensa com base no ótimo livro de Goldberg:


Não creio, entretanto, que o viés esquerdista na imprensa tenha ligação somente com os interesses monetários ou com a infiltração deliberada de socialistas nas redações. Trata-se de um fenômeno mais abrangente e prosaico. Boa parte dos jornalistas é formada por membros da esquerda caviar, que, para piorar, precisam vender ao público histeria e sensacionalismo.


Essa é também a tese de Bernard Goldberg, jornalista que trabalhou por anos na CBS, vencedor de vários prêmios. Em seu livro Bias, Goldberg sustenta essa visão de que as matérias tendenciosas da imprensa acabam predominando pelo simples motivo de que muitos jornalistas são de esquerda. Ele afirma:


Esse é um dos maiores problemas no grande jornalismo: as elites estão irremediavelmente fora de contato com os americanos comuns. Seus amigos são esquerdistas, assim como eles são. Eles compartilham os mesmos valores. Quase todos pensam da mesma forma sobre as grandes questões sociais do nosso tempo: o aborto, o controle de armas, o feminismo, os direitos dos homossexuais, o meio-ambiente, a oração na escola. Depois de um tempo eles começam a acreditar que todas as pessoas civilizadas pensam da mesma maneira que eles e seus amigos. É por isso que eles não simplesmente discordam dos conservadores. Eles os veem como moralmente deficientes.


Isso explica, por exemplo, a completa falta de sintonia entre a grande imprensa e Ronald Reagan, que foi o presidente mais popular dos últimos tempos nos Estados Unidos. Reagan falava para a maioria, para o americano comum, em linguagem simples e direta, enquanto a imprensa esquerdista ficava chocada e retratava o presidente como um completo imbecil.


Já o líder soviético, Mikhail Gorbachev, era idolatrado pela grande imprensa americana. Enquanto isso, ele idolatrava… Lênin! Está lá em seu livro Perestroika. Gorbachev tentava salvar o comunismo com reformas, enquanto Reagan tentava acabar com aquele regime nefasto. Quem ganhou a estima da imprensa? O comunista!


Rodrigo Constantino

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