Quando falamos em viés de esquerda na imprensa ainda há quem discorde. É muita cegueira mesmo. A eles, recomendo o livro Bias,
de Bernard Goldberg, que foi âncora da CBS*. O viés é evidente, e não
necessariamente fruto de alguma conspiração gramsciana. A maioria dos
jornalistas pende para a esquerda mesmo, e acaba mandando a isenção às
favas.
Assim foi na cobertura das manifestações
que tomaram as ruas de São Paulo e outras capitais ontem. O maior jornal
do país falou que tinham apenas mil pessoas reunidas ali, mas a polícia
fala em quase três vezes essa quantidade, e vários leitores presentes
garantem que era bem mais.
Mas não foi apenas na magnitude que o
esforço voluntário de milhares de trabalhadores foi reduzido pelo filtro
jornalístico. O conteúdo também foi deturpado. A imensa maioria pedia
impeachment de Dilma, fazendo alusão às declarações do doleiro Youssef,
que afirmou que a presidente tinha conhecimento do esquema de corrupção
na Petrobras e dele se beneficiou.
O grito generalizado era “Fora PT”. As
pessoas estão cansadas de tanta roubalheira, autoritarismo,
incompetência. Enfim, cansaram de ter uma quadrilha instalada no
Planalto, sugando os recursos públicos e tentando transformar nosso país
em uma nova Argentina ou Venezuela. Essas milhares de pessoas se
organizaram espontaneamente para protestar.
Mas tinha um gato pingado lá com um
cartaz pedindo intervenção militar. Adivinha quem foi fotografado,
entrevistado e citado pela imprensa? Isso mesmo! O senhor que quer os
militares nas ruas. A manifestação de milhares de pessoas demandando
investigação criminal e a saída de uma gestora associada a corruptos e
tiranos se transformou em um ato golpista.
Não vou negar que podem existir alguns
outros simpáticos ao reclamo do sujeito que deseja tanques nas ruas.
Aqui mesmo no blog aparecem tais pedidos de vez em quando. Não chegam a
representar mais de 5% dos comentários. Seria certo tomar uma minoria
tão ínfima por maioria? Para os jornais com viés de esquerda, parece que
sim. Reinaldo Azevedo escreveu sobre o assunto, e disse:
No
Brasil, é permitido marchar em favor da maconha. A venda e o consumo de
maconha são ilegais. Manifestantes são tratados como bibelôs.
No
Brasil, é permitido marchar em favor do aborto. O aborto, com as
exceções conhecidas, é ilegal. Manifestantes são tratados como
pensadores.
No Brasil, é permitido marchar em favor de corruptos condenados pelo Supremo. Manifestantes são tratados como ideólogos.
No
Brasil, é permitido marchar em favor da recontagem dos votos e, sim, em
favor do impeachment.
O Artigo 5º da Constituição garante tudo isso. Não
obstante, manifestantes são tratados como pessoas ridículas e
golpistas.
Esse tipo de postura de boa parte da
imprensa é realmente absurdo. São sempre dois pesos, duas medidas.
Sempre um duplo padrão, que condena a priori tudo aquilo que vem da
direita e olha com condescendência aquilo que vem da esquerda, mesmo que
venha mascarado e com coquetéis Molotov nas mãos. Há um salvo-conduto
para esquerdistas, ainda que criminosos, pois sua causa é vista como
justa sempre.
As manifestações da direita foram
pacíficas, sem episódios de quebra-quebra, sem violência, sem patrimônio
público ou privado depredado. Afinal, ali não tinha vagabundos
niilistas, revolucionários que acham que seus “fins nobres” justificam
quaisquer meios. Mas a imprensa fez de tudo para colar nos manifestantes
a pecha de “golpistas”. É dureza…
O PT será derrotado pelas vias legais,
mesmo que alguns tenham receios de que elas já não existem, pois teriam
sido adulteradas e manipuladas pelo partido. Não reconheço legitimidade
em um partido que fez o que fez para vencer, mas nem por isso acho que
já passamos do ponto de derrotá-lo dentro da democracia que ele visa a
destruir.
Se ele tiver sucesso nas próximas etapas,
se a imprensa for totalmente calada, se o STF se transformar por
completo num simulacro de justiça, se, enfim, o Brasil virar mesmo uma
Venezuela, aí eu serei o primeiro a pedir intervenção militar. Dos
males, o menor. Mas não é hora disso. É muito cedo, e espero que jamais
cheguemos lá. O PT, apesar de tudo que fez, do abuso da máquina, das
mentiras, da compra de votos, quase foi derrotado este ano, nas urnas! É
assim que tem de ser e será.
* Em meu livro Esquerda Caviar, falei desse viés da imprensa com base no ótimo livro de Goldberg:
Não creio,
entretanto, que o viés esquerdista na imprensa tenha ligação somente com
os interesses monetários ou com a infiltração deliberada de socialistas
nas redações. Trata-se de um fenômeno mais abrangente e prosaico. Boa
parte dos jornalistas é formada por membros da esquerda caviar, que,
para piorar, precisam vender ao público histeria e sensacionalismo.
Essa é também a tese de Bernard Goldberg, jornalista que trabalhou por anos na CBS, vencedor de vários prêmios. Em seu livro Bias,
Goldberg sustenta essa visão de que as matérias tendenciosas da
imprensa acabam predominando pelo simples motivo de que muitos
jornalistas são de esquerda. Ele afirma:
Esse é um
dos maiores problemas no grande jornalismo: as elites estão
irremediavelmente fora de contato com os americanos comuns. Seus amigos
são esquerdistas, assim como eles são. Eles compartilham os mesmos
valores. Quase todos pensam da mesma forma sobre as grandes questões
sociais do nosso tempo: o aborto, o controle de armas, o feminismo, os
direitos dos homossexuais, o meio-ambiente, a oração na escola. Depois
de um tempo eles começam a acreditar que todas as pessoas civilizadas
pensam da mesma maneira que eles e seus amigos. É por isso que eles não
simplesmente discordam dos conservadores. Eles os veem como moralmente
deficientes.
Isso
explica, por exemplo, a completa falta de sintonia entre a grande
imprensa e Ronald Reagan, que foi o presidente mais popular dos últimos
tempos nos Estados Unidos. Reagan falava para a maioria, para o
americano comum, em linguagem simples e direta, enquanto a imprensa
esquerdista ficava chocada e retratava o presidente como um completo
imbecil.
Já o líder
soviético, Mikhail Gorbachev, era idolatrado pela grande imprensa
americana. Enquanto isso, ele idolatrava… Lênin! Está lá em seu livro Perestroika. Gorbachev tentava salvar
o comunismo com reformas, enquanto Reagan tentava acabar com aquele
regime nefasto. Quem ganhou a estima da imprensa? O comunista!
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