Lendo o livro Extinção, de
Thomas Bernhard, deparo com as seguintes passagens que, trocando o lugar
e a época (a Áustria pós-Segunda Guerra), muito se parecem com aquilo
que certo povo enfrenta nos dias de hoje, abaixo da linha do Equador em
um belo país tropical:
Uma natureza sem par e pessoas tão
desinteressadas nessa natureza. Uma cultura outrora tão elevada, disse, e
hoje uma falta de cultura tão bárbara, uma incultura avassaladora. Para
não falar da deprimente situação política. Que criaturas abomináveis
hoje detêm o poder nessa Áustria! Os mais baixos agora estão por cima.
Os mais repulsivos e os mais sórdidos têm tudo nas mãos e estão prestes a
destruir tudo o que seja de valia. Destruidores apaixonados estão em
ação, exploradores implacáveis, envoltos no manto do socialismo.
[...]
Como em geral é espezinhado tudo o
que há de belo. E tudo em nome do socialismo, com a hipocrisia mais
repugnante que se possa imaginar. Tudo o que tenha a mais remota ligação
com a cultura é visto com suspeita e posto em dúvida, até que se
extinga. Estão em ação os assassinos, os agentes da extinção. Estamos às
voltas com agentes da extinção e assassinos, por todo canto eles levam a
cabo sua empresa assassina.
[...]
Que tipo de pessoas elas eram, ainda
faz poucos anos, e que tipo de pessoas são hoje! Em cada um a falta de
caráter arraigou-se como uma doença fatal, a cobiça, a impiedade, a
infâmia, a mentira, a hipocrisia, a abjeção. Hoje essas pessoas fazem de
tudo para impor sua abjeção com a maior impiedade.
[...]
A alma de meus conterrâneos está
arruinada, disse, seu caráter se tornou rasteiro e sórdido, agora reina
por todo o lado somente uma atmosfera maligna, aonde que você vá é
confrontado com esse caráter maligno e sórdido. Você crê falar com uma
pessoa boa, como antes, e constata que se trata da mais sórdida, da mais
baixa, pois a pessoa boa de antes, segundo a viravolta geral de
caráter, se tornou nesse meio tempo sórdida e baixa, que em cada detalhe
dá a entender sua sordidez e baixeza, nem sequer reprime essa sordidez e
baixeza, antes a ostenta abertamente.
[...]
Até agora sempre pensara que esse
dito socialismo fosse uma inofensiva e passageira doença nervosa da
política, dissera a Gambetti, mas na verdade e de fato ele é letal.
[...] Hoje não temos um socialismo verdadeiro, em nenhum lugar do mundo,
só esse socialismo fingido, hipócrita, simulado, você deve saber. Como
também os socialistas de hoje não são verdadeiros, mas hipócritas,
fingidos, simulados. [...] Aqueles que pensaram o verdadeiro socialismo e
nele acreditaram e acreditaram que o houvessem instituído para a
eternidade se revolveriam no túmulo se pudessem ver o que seus
repugnantes sucessores fizeram dele. Se revolveriam no túmulo se
pudessem abrir novamente os olhos e ver isso tudo que hoje, sob a
palavra de honra do socialismo, é mercadejado e difundido entre o povo.
O que acrescentar? Os bufões
latino-americanos, seguidores de Hugo Chávez, são realmente os agentes
da extinção de tudo aquilo que é elevado, que presta, que é cultura,
liberdade, criação. São bárbaros no poder, sedentos por destruição. Que a
força dos defensores da cultura seja maior e consiga resistir ao avanço
dos bárbaros…
Rodrigo Constantino
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