O artigo abaixo, de Luiz Felipe Pondé, intitulado "Diálogo ou secessão" , foi publicado na Folha de São Paulo de hoje.
"A presidente bolivariana reeleita abriu seu novo reinado falando em
diálogo. Gato escaldado tem medo de água fria: seria este o mesmo tipo
de diálogo oferecido à "Veja"? Ou às depredações que a militância
petista fez à Editora Abril? Ou às mentiras usadas contra Marina Silva e
Aécio Neves durante a propaganda política? Ou às perseguições
escondidas a profissionais de diversas áreas que
recusam aceitar a cartilha petista, fazendo com que eles percam o
emprego ou fiquem alijados de concursos e editais?
Sei, muitos ainda negam a ideia de que exista um processo de destruição
da liberdade de pensamento no Brasil. Mas, uma das razões que fazem este
processo ser invisível é porque a maior parte dos intelectuais,
professores, jornalistas, artistas e agentes culturais diversos concorda
com a destruição da liberdade de pensamento no Brasil, uma vez que são
membros da mesma seita bolivariana. O "marco regulatório da mídia", item do quarto mandato bolivariano, é
justamente o nome fantasia para a destruição da liberdade de imprensa no
país.
Diálogo? Sim, contanto que se aceite a truculência petista e seus abusos
de poder. Deve-se responder a este diálogo com uma política de
secessão. Não institucional (como nos EUA no século 19 entre o norte e o
sul), não se trata de uma chamada à guerra, mas sim uma chamada à
continuidade da polarização política.
A presidente ganhou a eleição dentro das regras e, portanto, deve ser
reconduzida a presidência com soberania plena. Mas nem por isso ela deve
se iludir e pensar que representa o Brasil
como um todo: não, ela representa apenas metade do Brasil. A outra foi
obrigada a aceitá-la. Precisamos de uma militância de secessão: que os
bolivarianos durmam
inseguros com o dia seguinte, porque metade do país já sabe que eles não
são de confiança. Que fique claro que a batalha foi ganha pelos
bolivarianos, mas, a guerra acabou de começar, e começou bem.
O Brasil está dividido. Esta frase pode ter vários sentidos. O partido
bolivariano venceu de novo, completando em 2018 16 anos no poder --o que
já dá medo a qualquer pessoa minimamente inteligente ou sem má-fé
política. A divisão do Brasil hoje é fruto inclusive da própria militância bolivariana que insiste em falar em "nós e eles".
O fato da eleição para presidente ter sido decidida por alguns poucos
votos a favor dos bolivarianos não implica que o lado derrotado veja a
vencedora como sua representante legítima, ainda que legal. O PT ensinou
bem ao Brasil o que significa ódio político e agora corre o risco de
provar do próprio veneno. Falo de uma secessão simbólica, e que, creio,
deve ser levada mais a
sério pela intelligentsia (normalmente a favor do projeto bolivariano,
mesmo que, às vezes, com sotaque e afetação francesa ou alemã).
Os intelectuais não estão nem aí pra corrupção. Seu novo slogan é
"rouba, mas faz o social". Não, não estou dizendo que aqueles que
votaram contra o projeto
bolivariano de domínio totalitário do país devam recusar
institucionalmente o resultado das eleições. Estou dizendo que devem
levar a fundo uma política de recusa sistemática da lógica de dominação
petista.
Os bolivarianos virão com sua "democratização das mídias", outro nome
fantasia pra destruir a autonomia institucional, demitir gente
"inadequada", tornar a mídia confiável aos projetos do "povo deles" --o
único que aceitam. Na verdade, fazer da mídia refém do movimento MTSM
(os "trabalhadores sem mídia"). Esta recusa deve ser levada a cabo nas salas de aula das escolas de
ensino médio (onde professores descaradamente pregavam voto na candidata
petista), nas universidades, nos bares, nos empregos, nas redes
sociais.
Dito de outra forma: a polarização do debate deve continuar, e se
aprofundar. Sem trégua. Do contrário, o PT ficará no poder mil anos.
Pacto institucional, governabilidade, vida normal dentro das
instituições democráticas, sim. Mas secessão política cotidiana em todo
lugar onde algum bolivariano quiser acuar quem recusar a cartilha
totalitária petista"
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