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Reeleita, a presidente começa a montar sua nova equipe com reedição dos "três porquinhos", substituto de Mantega e nomes indicados por aliados
Gabriel Castro, de Brasília
Dilma está de folga na Base de Aratu, na Bahia. Quando retornar de viagem, a presidente deve se reunir com aliados para fazer um balanço das eleições. O vice-presidente, Michel Temer, também aguarda um posicionamento da chefe do Executivo para conversar com os aliados sobre a divisão dos cargos. A próxima semana deve ser a hora de avaliar quem se empenhou pela reeleição e quem, na avaliação do governo, não se comprometeu com a aliança.
Como é comum em casos de reeleição, não haverá uma equipe de transição. As trocas na equipe devem ser anunciadas ainda neste ano. A crise econômica e a ameça de crise política não permitem que Dilma espere o início do segundo mandato para anunciar os novos nomes. Hoje, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, está com os dias contados para deixar o cargo. E boa parte dos ministérios é comandada por interinos, já que os titulares deixaram o cargo para disputar as eleições.
Muitos nomes citados como eventuais ministros da presidente são tentativas, do PT e de outros partidos, de emplacar um nome na equipe de Dilma; além disso, a própria presidente costuma surpreender ao escolher seus ministros. Dito isso, é inevitável que as especulações ganhem corpo.
Durante a campanha de 2010, Dilma apelidou de "três porquinhos" o grupo de auxiliares mais próximos a ela: José Eduardo Cardozo, hoje ministro da Justiça, Fernando Pimentel, eleito governador de Minas Gerais e seu ex-ministro, e José Eduardo Dutra, então presidente do PT.
Agora, o trio é outro: Miguel Rossetto, ministro do Desenvolvimento Agrário, Jaques Wagner, ex-governador da Bahia, e Aloízio Mercadante, ministro da Casa Civil. Os três devem estar em postos-chave da administração no próximo mandato: ou na área econômica, ou na "cozinha" da presidente. O mesmo vale para Giles Azevedo, o discreto chefe de gabinete da petista.
Nelson Barbosa, ex-secretário executivo da Fazenda, está ao lado de Henrique Meirelles, ex-presidente do Banco Central, e de Luiz Carlos Trabuco, presidente do Bradesco, na lista de cotados para o Ministério da Fazenda. Mas Aloizio Mercadante é uma alternativa. Esta escolha é a mais sensível para Dilma, porque dela depende o sucesso do governo no esforço para escapar da crise e tirar a economia da estagnação. Os três primeiros nomes foram sugeridos pelo ex-presidente Lula. Mercadante seria uma escolha pessoal da presidente.
Aliados – Feita a avaliação sobre o papel dos aliados na campanha, o PMDB tem mais a perder: em estados importantes como o Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, o partido caminhou com a oposição. Por outro lado, Dilma depende dos peemedebistas para governar.
O partido tem hoje cinco ministérios: Agricultura, Previdência, Minas e Energia, Turismo e Aviação Civil. Para a Agricultura, a candidata mais forte é Kátia Abreu. O atual ocupante do cargo, Neri Geller, é da conta dos peemedebistas da Câmara. Se ele perder o posto para a senadora, os deputados devem cobrar a nomeação de um representante para outra pasta.
Henrique Eduardo Alves chegou a ser cotado para assumir para a Previdência Social, hoje comandada pelo senador peemedebista Garibaldi Alves. Mas ele não deve aceitar a nomeação.
Na pasta das Minas e Energia, o desgastado ministro Edison Lobão não deve sobreviver à reforma. O titular do Turismo é Vinícius Lage, um técnico apadrinhado pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB). A permanência dele também é incerta.
Ainda insatisfeitos pela forma como o PT agiu em alguns estados durante as eleições, os peemedebistas dizem que cabe ao governo dar o primeiro passo nas conversas: "Não estamos tratando disso agora, até porque não cabe. A origem (da negociação) está do outro lado", diz o líder do PMDB, Eduardo Cunha, nome da sigla para presidir a Câmara no ano que vem.
A cúpula do PMDB deve se reunir na semana que vem para traçar uma estratégia comum daqui por diante, o que passa por uma maneira mais "organizada" de decidir quais nomes estarão no governo.
No segundo mandato, a aliança de Dilma tem algumas diferenças em relação a 2011, quando tomou posse pela primeira vez. O PSB está fora do governo. Quase todos os partidos aliados tiveram algum tipo de cisão: parte do PMDB, PP, PR e PDT apoiaram Aécio Neves na disputa. Por outro lado, dois novos partidos entraram na briga pela divisão do bolo: PSD e Pros.
O PSD já tem a pasta da Micro e Pequena Empresa, de peso simbólico e orçamento quase inexistente. Agora que o partido fez parte da coligação presidencial de Dilma, deve ser contemplado com um ministério. O candidato natural é o presidente da sigla, Gilberto Kassab, um sem-mandato que se esforçou para colocar o partido na aliança petista apesar das defecções em alguns estados. Ele é cotado para o Ministério das Cidades.
O líder do PSD na Câmara, Moreira Mendes (RO), diz que o cargo está à altura do partido, que, entre os partidos aliados, tem a maior bancada depois de PT e PMDB. Mas pede mais: "É um ministério importante, relevante, e está à altura do PSD. Mas acho pouco. É preciso ter um espaço proporcional ao tamanho do partido", diz ele.
No Pros, o único nome em jogo é o de Cid Gomes, ex-governador do Ceará. Ele deixou o PSB justamente para manter seu apoio à reeleição de Dilma, e agora pode ser premiado com o Ministério das Cidades.
O PCdoB, que tradicionalmente comanda o Ministério do Esporte, deve continuar tendo seu espaço com Aldo Rebelo – a sigla tem interesse na pasta pelas Olimpíadas de 2006 no Rio de Janeiro.
O mesmo vale para o PDT, que comanda o Ministério do Trabalho. O PR tem nas mãos o Ministério dos Transportes e é outra sigla que tem sido beneficiada com o direito de nomear ministros de forma quase autônoma. Governo novo, equipe nova, mas métodos velhos.
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