Gabriela Grosskopf Antunes
Muita
gente começou a comemorar o 50° aniversário da maior diva dos
quadrinhos argentinos antes do tempo, mas coube ao próprio criador da
menina pôr fim às dúvidas.
(acima, uma parte da mostra sobre Mafalda na Usina del Arte, no bairro da Boca, em Buenos Aires).
“Sua primeira publicação foi no dia 29 de setembro de 1964 na revista Primera Plan”, conforme comunicado na página de Quino, o pai da mocinha, que atribui a confusão a uma sucessão de erros de seus biógrafos.
Na verdade, Mafalda é uma senhora de 54 anos já que, nas tirinhas de Quino, Mafalda começa a contestar o mundo aos 4 anos de idade.
Mafalda por Buenos Aires
Uma praça no bairro portenho de Colegiales, um mural no metrô da Plaza de Mayo, uma estátua da simpática idealista num banquinho em San Telmo atestam o amor argentino por uma de suas filhas mais ilustres, que sonha ser intérprete nas ONU, detesta televisão e apelidou sua tartaruga de estimação de “burocracia”.
Nesta segunda-feira, Mafalda deixa de estar sozinha em seu famoso banquinho nas junções das ruas Chile e Defensa, onde turistas do mundo inteiro fazem fila para uma foto com ela, e ganha a companhia de Susanita e Manolo, personagens recorrentes na obra de Quino.
“Quando a colocamos aqui os vizinhos vinham nos pedir amiguinhos para ela”, explicou o escultor Pablo Irrgang, responsável por dar companhia à musa dos quadrinhos.
Beatlemaníaca e sopa-fóbica
Inquieta, “beatlemaníaca” e “sopa-fóbica”, Mafalda é, segundo as palavras de Joaquín Salvador Lavado Tejón, o Quino, “uma menina que tenta identificar os bons e maus deste mundo”.Um mundo que Quino viu se transformar.
Argentino de Mendonça, filho de imigrantes espanhóis, Quino sentiu os efeitos da fragmentação da Espanha na guerra civil, da segunda guerra mundial e da ditadura militar na Argentina.
E seus personagens não estiveram à margem de todas essas mudanças.
Mafalda, Manolito, Susanita, Felipe, Libertad, Miguelito, Guille personificam protótipos típicos da classe média das décadas de 60 e 70, da esposa dedicada, dos conformistas, aos ingênuos e idealistas, como a própria Mafalda. Como ela mesma dizia, “existem mais problemólogos que solucionólogos”.
Em 1973, por decisão de Quino, a última tirinha da Mafalda foi publicada. Seu humor retumbou por gerações.
Mas ela voltou a aparecer em ocasiões pontuais, como em 2009, quando deu as caras no jornal italiano La Repubblica criticando declarações machistas do então primeiro ministro Silvio Berlusconi. “Não sou uma moça à sua disposição”, dizia a tirinha, juntando-se a milhares de mulheres que se sentiam ultrajadas pelas declarações do primeiro ministro italiano.
(acima, Quino, o pai de Mafalda e sua criatura)
Mas Mafalda continua mais atual do que nunca. “Às vezes até eu me surpreendo como algumas tirinhas de 40 anos atrás continuam se aplicando ao contexto de hoje”, disse Quino em uma entrevista.
Genial e geniosa, Mafalta continua encantando gerações que, nesta segunda-feira, 29, fazem questão de soprar as velinhas com ela.
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