Chegam aos meus ouvidos comentários
feitos por leigos em política, que se não votaram no PT, mostram-se ao
menos muito tolerantes com os eleitores de Dilma. Afinal, por que julgar
cada um, não é mesmo? E, vale notar, aquelas críticas feitas pela Veja
são muito “partidárias” (como se a revista tivesse inventado o Petrolão,
não o próprio PT). Por falar nisso, aquele colunista Rodrigo
Constantino é muito radical…
Pessoas que dizem isso votam, pasmem!, no
PSOL! Ou acham Marcelo Freixo um cara razoável. Talvez Jean Wyllys goze
da estima deles. E o radical sou eu! Entenderam? Um liberal clássico
defensor da democracia, do império das leis, do Estado de Direito, e que
por isso mesmo abomina o bolivarianismo petista, esse é o radical. Mas o
PSOL, defensor do socialismo em pleno século 21, da ditadura cubana
carcomida após meio século de poder, esse é moderado.
Tal inversão, que é uma tática deliberada do lado de lá, foi tema de um capítulo sobre o duplipensar em meu livro Esquerda Caviar. Segue um longo trecho, pois o debate é necessário neste país:
Palavras e
expressões fazem diferença na cultura de um povo. Mas mesmo os
americanos não ficaram livres das manipulações de conceitos. A esquerda
lá foi tão eficiente que usurpou até mesmo o termo “liberal”, que passou
a ser associado a políticas claramente antiliberais, que pregam sempre
maior intervenção estatal na vida dos indivíduos.
O líder do
Partido Socialista americano, Norman M. Thomas, em um discurso de
campanha em 1948, declarou que o povo americano jamais adotaria o
sistema socialista de forma consciente. Mas, sob o nome “liberalismo”,
encamparia cada fragmento do programa socialista até que um dia a nação
seria socialista sem saber como aconteceu. Quando vemos que Obama se diz
um “liberal”, temos de reconhecer a capacidade profética do líder
socialista.
No Brasil, o
termo perdeu totalmente seu sentido, e nossos males sempre foram
jogados na conta do tal “neoliberalismo”. Porém, como disse Roberto
Campos, o “Brasil está tão distante do liberalismo – novo ou velho –
como o planeta Terra da constelação da Ursa Maior!” Só mesmo no Brasil
que um partido de esquerda como o PSDB pode ser rotulado de neoliberal.
Recentemente,
talvez por perceber os ventos de mudança e o declínio da esquerda,
chamuscada pelo desgaste no poder, parte da imprensa começou a tentar
criar no país a mesma dicotomia entre liberal e conservador existente
nos Estados Unidos. A Folha, quando fez uma reportagem sobre uma
pesquisa que mostrava que o brasileiro é conservador, colocou a bandeira
do desarmamento como coisa de liberal. Não! Desarmar inocentes não é
uma bandeira liberal, até porque os liberais respeitam o direito
individual de legítima defesa.
Mas a
esquerda caviar adora rótulos sem sentido. Enquanto posa de moderada,
costuma atacar seus oponentes como “extremistas”. O primeiro passo
daqueles que pretendem confundir os indivíduos com seus vagos termos é
jogar tudo no mesmo saco, chamando o conjunto todo de “extremismo” e
pregando um “caminho do meio”. A técnica é conhecida.
Se alguém
escutar uma pessoa afirmando ser igualmente contrária à peste bubônica,
ao estupro e aos sermões de sua sogra, não restará dúvida de que o
objeto do seu verdadeiro ódio seja a sogra, e eliminá-la parecerá o real
objetivo de sua colocação. Afinal, não seria razoável considerar como
males iguais as três coisas, por mais chato que fosse o sermão da sogra.
Da mesma
maneira, quando alguém repete que condena igualmente o comunismo, o
nazismo e o capitalismo, não resta dúvida de que o alvo verdadeiro seja o
capitalismo. O comunismo carrega nas costas algo como 100 milhões de
defuntos, enquanto o nazismo tantos outros milhões. Ambos são
totalitários, depositam no estado todo o poder, partem para fins
coletivistas, transformando os indivíduos em meios sacrificáveis, e
incitam o ódio do preconceito, seja de classe ou de raça.
Em outras
palavras, tanto o comunismo como o nazismo, similares em inúmeros
aspectos, são absolutamente opostos ao capitalismo liberal, que prega a
liberdade individual, entendendo que cada indivíduo é um fim em si.
Enquanto o comunismo e o nazismo trouxeram apenas desgraça, miséria,
terror e morte, o capitalismo trouxe o progresso para os povos e retirou
centenas de milhões da pobreza, o estado natural da humanidade.
Mas os
“moderados” jogam tudo no mesmo saco, sem separar o joio do trigo, e
alegam que são “neutros” ou isentos de ideologias, com o único intuito
de obliterar o verdadeiro significado do termo “capitalismo” e manchá-lo
com as más companhias. A tática deu certo, claro, pois vemos que os
capitalistas morrem de medo de serem acusados de radicais só por
defender o capitalismo, infinitamente superior aos demais.
Ayn Rand
tentou reagir a esse perigo: “A melhor prova do colapso de um movimento
intelectual é o dia em que ele não tem nada mais a oferecer como um
ideal último além da demanda por moderação”.
Rodrigo Constantino
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