terça-feira, 2 de dezembro de 2014

É crescente o número de pessoas que não suporta nem ouvir falar o nome “PT”. Ou: O documento aloprado do partido sobre reforma política

02/12/2014
às 2:25


O PT finge que está podendo e simula não ter entendido direito o recado das urnas. O partido faz de conta que não teve de recorrer às práticas políticas as mais sórdidas para ganhar a eleição neste 2014:  praticou o terrorismo mais desavergonhado contra os miseráveis, atacou os adversários em termos inaceitáveis numa democracia, esmerou-se no estelionato eleitoral como raramente se viu. 


Na reta final do primeiro mandato, Dilma assume o desastre ao nomear Joaquim Levy, um adversário intelectual do petismo, para o Ministério da Fazenda, admitindo que estava mesmo no caminho errado. Muito bem: e como o partido pretende se apresentar ao distinto público no raiar de 2015? Ora, convoca a sua tropa a pressionar o Congresso em favor de plebiscitos e de uma Constituinte exclusiva para fazer a reforma política.

Trata-se de um misto de loucura e cara de pau. No sábado, o partido aprovou um documento em que se lê este trecho notável. Prestem atenção:

“O PT conclama os movimentos sociais a se dirigirem à Câmara de Deputados a fim de convencerem os parlamentares a aprovarem o projeto de Decreto Legislativo encaminhado pela presidenta Dilma de convocação do plebiscito. Do mesmo modo, a aprovação do plebiscito oficial apresentado pela campanha da Constituinte. Além disso, apoia a declaração de inconstitucionalidade do financiamento empresarial às campanhas eleitorais em curso no Supremo”.

Houvesse honestidade de propósitos, seria só uma coleção de asnices. Mas é claro que isso é apenas um pedaço do projeto partidário — já revelado numa resolução — de construção da hegemonia política. Eis ali: os petistas querem que os “movimentos sociais” amestrados pressionem os parlamentares a aceitar a reforma política por intermédio de plebiscitos. É mesmo? E essa consulta consistira exatamente em quê? Defende também a Constituinte exclusiva para fazer as mudanças, como se o país tivesse passado por algum rompimento da ordem institucional.

Ora, ora, ora… O PT venceu a eleição quase no olho eletrônico. Não fossem, reitero, os expedientes asquerosos a que recorreu, teria sido derrotado. Vive o seu pior momento desde 2002. Por que as demais legendas deveriam lhe franquear tais facilidades, permitindo que a reforma política fosse, na prática, conduzida por “movimentos sociais” que nada mais são do que franjas do próprio PT, a exemplo do que se verifica nos movimentos de sem-teto de São Paulo?

Quanto à questão do financiamento de campanha, eis aí, mais uma vez, a estupidez reiterada. Então são as doações que tornam corruptos os diretores que o partido e seus aliados indicam para as estatais? Caso houvesse só o financiamento público, aqueles senhores seriam templos da honestidade?

Então vamos radiografar as propostas do PT:

a: o partido quer uma Constituinte para a reforma política porque, assim, o processo fica refém dos ditos movimentos sociais;

b: os plebiscitos fazem parte dessa mobilização intensa de uma minoria com o objetivo de impor a sua vontade a uma maioria;

c: o financiamento público de campanha jogará a totalidade das contribuições privadas na clandestinidade, e, desse modo, ninguém mais apontará conluio entre partidos e empresas;

d: como o PT está no poder, as doações ilegais para o caixa dois beneficiariam quase que exclusivamente a legenda;

e: responsabilizar as doações legais pela roubalheira absolve moralmente o partido por ter sido o protagonista do mensalão e do petrolão.

Noto, para encerrar, que o esforço do petismo é mesmo para tornar o Congresso irrelevante. 

Financiamento público ou privado de campanha é matéria que diz respeito ao Congresso, não ao Supremo. Os petistas, no entanto, querem que o tapetão da Justiça decida. Convocar uma Constituinte exclusiva para fazer a reforma alija, uma vez mais, o Parlamento da decisão.

O PT finge não ter entendido que é crescente o número de brasileiros que não suportam mais nem ouvir falar no partido.

Por Reinaldo Azevedo

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