02/12/2014
às 5:03
Se há
coisa que a gente aprende com o tempo é que o ridículo não tem limites.
O
corpo do ex-presidente João Goulart (1919-1976) foi exumado, como se
sabe, para se investigar se há indícios de que possa ter sido
envenenado.
Depois de
um ano de investigação, a Polícia Federal põe um ponto final ao trabalho
e conclui que não há indícios de envenenamento. Mas também não pode,
por, digamos, manutenção da dúvida decorosa, negar que tenha havido
envenenamento, uma vez que eventuais substâncias letais podem ter
desaparecido no tempo.
Então
ficamos assim: a Comissão da Verdade promove a pantomima, a PF
investiga, não encontra nada — e, porque não encontrou, então a dúvida
continua. Donde se conclui que se procedeu a um exame que só poderia dar
um resultado confiável: positivo. Se dá negativo, é o caso de manter a
hipótese conspiratória.
Jango era
um cardiopata grave e estava longe de ser um paciente disciplinado. O
mais provável é que tenha morrido mesmo de infarto. Ocorre que não se
fez autopsia à época, o que colabora para manter acesa a chama da
conspiração.
Leio na
Folha o seguinte: “Familiares do presidente dizem que o resultado não
encerra as investigações ainda em aberto no Ministério Público Federal e
na Argentina. Apesar do resultado da perícia, as apurações podem
avançar em outras frentes, com a busca de provas testemunhais do suposto
assassinato. ‘Vamos continuar lutando’, afirmou João Vicente Goulart,
filho de Jango.
Então tá.
Quem sabe as provas testemunhais, não é?, quase 40 anos depois, possam
dar aquela certeza que as provas científicas se negam a conferir. Ah,
tenham paciência!
Olhem
aqui, estamos num daqueles casos típicos de um erro lógico já apontado
pela escolástica: “post hoc ergo propter hoc”: depois disso; logo, por
causa disso”. Ou por outra: já que algo aconteceu depois de determinado
evento, esse evento passa a ser causa do acontecido. O exemplo clássico é
este: o galo canta, e o dia amanhece. Sim, o dia amanhece depois que o
galo canta, mas não porque o galo canta.
Vamos ver.
Havia uma ditadura no Brasil. Juscelino morreu num acidente de
automóvel no dia 22 de agosto de 1976. Jango morreu do coração no dia 6
de dezembro do mesmo ano, e Carlos Lacerda, no dia 21 de maio de 1977.
Em nove meses, três líderes civis do Brasil pré-golpe se foram,
justamente o trio que formara a “Frente Ampla” contra o regime militar.
Vejam que
curioso: dos três, o que teve morte mais surpreendente foi Lacerda:
internou-se num dia na Clínica São Vicente para cuidar de uma
desidratação gerada por uma gripe, e estava morto no dia seguinte,
vítima de “endocardite bacteriana”, que é uma infecção no coração.
Curiosamente,
não se levanta a hipótese de que Lacerda também possa ter sido
assassinado. E por que não? “Ah, afinal, ele era um direitista, né?, um
reacionário!” E os progressistas, sabem como é?, só se preocupam quando
morre um dos seus.
Isso tudo não passa de teoria conspiratória, perda de tempo e desperdício de dinheiro.
Por Reinaldo Azevedo
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