sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Governo Agnelo pressionou por retirada de outdoors com críticas feitas a ele pelos policiais

Em gravação, funcionária de empresa de outdoors admite que cancelou publicidade por pressão do Executivo; PMs querem aumento salarial

Gabriel Castro, de Brasília
Governador do DF Agnelo Queiroz na CPI do Cachoeira
O governador Agnelo Queiroz (Ueslei Marcelino/Reuters)


A queda de braço entre policiais militares e o governo do Distrito Federal tem provocado o crescimento constante da violência na capital do país. E, se os PMs agiram de forma irresponsável ao iniciar a chamada Operação Tartaruga para cobrar maiores salários, o governo Agnelo Queiroz (PT) também ultrapassou os limites na tentativa de desarticular o movimento da categoria.

Um áudio obtido pelo site de VEJA confirma uma suspeita: o governo pressionou pela retirada de outdoors pagos pelos militares para criticar o Executivo e defender a Operação Tartaruga. 

Há cerca de dez dias, integrantes da corporação resolveram bancar os anúncios em diversos pontos do Distrito Federal. Mas, em poucas horas, a maior parte das peças foi retirada.

A gravação que esclarece o episódio mostra o diálogo entre um policial militar e uma funcionária da Visuplac, empresa que sofreu pressões do Executivo.

O PM, já ciente do cancelamento, quer saber como pode receber o dinheiro de volta. A funcionária, identificada como Joelma Maria Sousa, se compromete a devolver o dinheiro pago pelo aluguel do espaço. E explica: se publicasse o anúncio dos policiais grevistas, a companhia poderia ter a licença de funcionamento revogada.

"Como o governador está fazendo esse tipo de ameaça, de retirar a licença, a gente fica com medo de perder a licença", diz ela, que se compromete a devolver o dinheiro pago pelo anúncio não publicado.

No diálogo, ela ainda explica ao interlocutor que existem outros pontos em que a peça de propaganda poderia ser publicada - mas somente aqueles que funcionam sem autorização do governo e que, portanto, não estavam sujeitos à revogação da autorização. "Quem não tem a licença, vai perder o quê? Entendeu? No local, a gente não pode correr esse risco", diz a funcionária na gravação.

Os policiais militares, que foram obrigados pela Justiça a interromper a Operação Tartaruga iniciada no fim do ano passado, continuam exigindo do governo vencimentos semelhantes aos da Polícia Civil, onde o salário inicial para um agente é de 7 890 reais. O salário inicial dos soldados da PM se aproxima dos 4.700 reais. A categoria também exige o cumprimento de promessas de campanha de Agnelo, como a reestruturação do plano de carreira.

Procurada pela reportagem de VEJA, Joelma Maria Sousa inicialmente negou que tivesse participado do diálogo. Confrontada com a gravação, preferiu o silêncio. 

O governo do Distrito Federal não comentou.



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