Os deuses parecem estar ao lado do governador Eduardo Campos. Quase ao mesmo tempo em que ele apresentava o primeiro esboço do que será o seu programa de governo caso vença a eleição para a Presidência da República em outubro, um apagão de grandes proporções tomou conta de boa parte do país, deixando mais de 3 milhões de unidades consumidoras sem energia.
O acidente, ainda sem explicação oficial, parecia dar razão a Campos quando ele afirmava que “o governo saiu dos trilhos”. Não se sabe ainda o que ocasionou a falta de luz, mas mesmo o governo dizendo que o caso nada tem a ver com o consumo elevado devido ao calor, fica a sensação de insegurança quanto ao sistema elétrico em si, que vem sofrendo apagões frequentes.
Campos parece querer com sua fala marcadamente oposicionista enfatizar essa insegurança que detecta no cidadão comum: “Não há ninguém que ache que mais 4 anos do que está aí vai fazer bem ao povo brasileiro. Nem eles mesmos.”
O governador pernambucano foi cuidadoso ao centrar suas críticas no governo Dilma, deixando sempre claro a distinção entre ele e o governo Lula, do qual foi Ministro: “Onde vamos temos a clara percepção de que o Brasil parou, de que saiu dos trilhos, que estava avançando no sentido de acumular conquistas e mais do que de repente teve a sensação de freada e de desencontro”.
O Palácio do Planalto assustou-se com o tom elevado das críticas do governador Eduardo Campos, como se ainda esperasse espaço para negociar apoios num segundo turno com o ex-companheiro. A também ex-ministra Marina Silva, na campanha de 2010, comportou-se não como uma candidata de oposição, mas como quem estava acima dos dois partidos hegemônicos, PT e PSDB, considerando-os igualmente nocivos à política brasileira.
Ela continua na mesma, mas não consegue levar Eduardo Campos a essa posição radical de negação da política partidária. Em nome dela, quer que o PSB não apóie o PSDB em São Paulo, mas, no entanto, deseja manter o apoio a seu grupo político no Acre, onde o PT permanece comandando o governo estadual há muitos anos.
Ontem Campos mostrou qual será o nível de seu engajamento na oposição, dando pouca margem a dúvidas sobre qual será sua posição na eventualidade de o senador Aécio Neves vir a ser o representante da oposição num segundo turno. O compromisso que os dois já assumiram de apoio recíproco corresponde à linguagem dura que o governador de Pernambuco utilizou ontem no lançamento de seu pré-programa de governo.
Ao afirmar que “não há justiça social sem desenvolvimento” Campos deixou claro qual será o centro de seu governo, a educação. Em vez de detalhar quais são seus planos para chegar à meta principal, o que certamente constará do programa final que será lançado no meio do ano, depois de seminários e debates, Campos resumiu em uma frase o que quer ver no país de seus sonhos: “Sonho em ver um dia um cidadão da classe média, um empresário, matriculando seu filho na escola pública brasileira”.
A exemplo do que já fez o senador Aécio Neves, virtual candidato do PSDB à Presidência da República, o governador de Pernambuco atacou o inchaço da máquina pública com seus 39 ministérios, atribuindo-o à necessidade de o governo acomodar os diversos partidos aliados: “O Estado não pode ser apropriado pela estrutura, pelos partidos políticos. Esse padrão está esgotado”, afirmou Campos.
A ex-senadora Marina Silva aproveitou a deixa para atribuir “à velha política” a troca de cargos por apoio político, criticando a troca de ministros da Educação que, para ela, foi feita para acomodar aliados pensando na próxima eleição.
O tom elevado das críticas já demonstra que as oposições estarão mais próximas entre si na disputa presidencial do que nunca estiveram.
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