05/02/2014
às 18:11
Henrique
Pizzolato tem dupla cidadania, brasileira e italiana. Agora ele já é um
criminoso no Brasil e na Itália. Em dois países. Em dois idiomas.
Pudesse ter uma terceira, vocês já sabem… Que vocação a desse senhor,
não é mesmo? O poeta latino Horário, nascido onde hoje é a Itália, país
em que Pizzolato foi preso, dizia que aquele que cruza o oceano muda de
céu, mas não de espírito. Isso quer dizer, leitor, que a pessoa sempre
leva consigo aquilo que ela essencialmente é.
Pizzolato cometeu no
Brasil os crimes de peculato, corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
Para entrar na Itália, recorreu a documentos e passaporte falsos, usando
o nome de um irmão morto. O Brasil, que já tem movimento de sem-terra,
movimento de sem-teto, movimento do sem sei-lá-o-que, também tem o MSL:
Movimento dos Sem-Limites.
Atenção!
Ele não foi preso pelas autoridades italianas por causa dos R$ 76
milhões desviados do fundo Visanet, do Banco do Brasil, para a
sem-vergonhice mensaleira. Ele foi preso porque recorreu a documentos
falsos para entrar na Itália. Se não tivesse cometido crime nenhum
naquele país, teria continuado livre, leve e solto.
Considerando a
dinheirama viva que estava com ele — 15 mil euros mais US$ 20 mil —, não
parece que estivesse passando por um aperto. Sem contar que este
valoroso senhor jamais deixou de receber a aposentadoria de R$ 25 mil
como ex-funcionário do Banco do Brasil. Isso corresponde a quase 8 mil
euros. Considerando que o salário médio na Itália está na faixa dos 900
euros, dava para levar uma vida boa.
Para ser
preso na Itália por causa do mensalão, seria preciso que a Justiça de lá
abrisse um processo e o condenasse pelos crimes cometidos aqui. A
hipótese é remotíssima. A extradição era improvável porque, afinal, ele
também era um cidadão italiano que não havia cometido crime nenhum por
lá.
Mesmo
agora, preso por ter entrado em solo italiano com documento falso, a
extradição ainda é uma hipótese remota.
E cumpre, sim, lembrar o caso
Cesare Battisti. O Brasil se negou a extraditar o terrorista, embora ele
tivesse sido condenado na Itália pelo assassinato de três pessoas. Será
que, se os italianos se negarem a entregar Pizzolato, estarão apenas se
vingando? Não! Battisti, que também entrou no Brasil com documento
falso, não tinha cidadania brasileira, e Pizzolato tem cidadania
italiana. No caso do terrorista, o Tratado de Extradição vigente entre
os dois países obrigava a entrega; no caso de Pizzolato, não.
O governo
brasileiro diz estudar duas possibilidades: tanto o pedido de extradição
como o pedido para que a Justiça italiana abra um processo pelos crimes
do mensalão. As duas são implausíveis, embora não impossíveis. Há, no
entanto, uma terceira, que deixo como sugestão se as outras duas
falharem: pedir que a Justiça italiana reconheça ao menos os efeitos
civis da condenação, o que implicaria o sequestro de bens eventualmente
adquiridos na Itália e o confisco de sua rica aposentadoria caso
continue a ser enviada para a Itália.
PS – O
governo brasileiro está chamando a prisão de “operação conjunta” com a
polícia italiana. Se a PF participou, foi no monitoramento de Pizzolato,
com eventuais ações de inteligência.
Foram os italianos que prenderam o
ex-diretor de marketing do Banco do Brasil, em razão do crime cometido
na Itália.
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