PMs mudam nome de operação e a lentidão continua. Enquanto isso, vítima de crime prende suspeito
Isa Stacciarini
isa.coelho@jornaldebrasilia.com.br
Tartaruga, legalidade, padrão ou até lesma são os nomes atribuídos ao movimento dos policiais militares para reivindicar aumento salarial.
Enquanto o Comando da Polícia Militar assegura que não existe mais lentidão nos trabalhos, os próprios policiais garantem que a operação tem continuidade.
O reflexo da atitude está nas ruas do DF, e parlamentares pedem a ajuda do Governo Federal para resolver a situação.
Mesmo depois do anúncio oficial do fim do movimento, um comerciante do Setor Sol Nascente esperou pela PM por três horas. Sem resposta da corporação, ele mesmo deteve o suspeito de uma tentativa de furto, amarrando-o. E a Polícia Civil também deixou de atendê-lo na primeira tentativa de registrar ocorrência.
O caso aconteceu em frente à casa de Willian Santos da Silva, 40 anos. No endereço também funciona a loja de refrigeração do comerciante. O empresário se preparava para colocar o Siena 1998 na garagem, quando, de repente, escutou um estouro.
“Um homem tinha quebrado o vidro para roubar o carro. Ele negou a autoria, mas não tinha mais ninguém perto. Eu o segurei e chamei a polícia. Liguei para a PM cinco vezes, esperei até as 3h e ninguém apareceu”, conta.
Não satisfeito, o comerciante foi atrás do homem e conseguiu encontrá-lo três quadras à frente. “Amarrei as mãos dele e o coloquei no carro. Fui para a 19ª DP (P Norte), mas quando cheguei lá, só tinha um agente de plantão. Ele disse que não tinha delegado ali e por isso a ocorrência não poderia ser registrada, nem o meliante seria preso”, diz.
Agente ajudou a pagar gasolina
Ainda na 19ª DP, Willian Santos pediu uma viatura para levar o suposto autor da tentativa de furto a outra unidade policial, mas a solicitação não foi atendida. “O agente recomendou que eu levasse o homem à 15ª DP (Ceilândia Centro). Eu falei que o meu carro estava com o combustível na reserva, e o policial ainda me deu R$ 5 para eu abastecer”, afirma.
Na 15ª DP, a ocorrência foi registrada e o homem, preso em flagrante. Depois dessa experiência, o comerciante duvida que a Operação Tartaruga tenha terminado.
“O governo e o Comando da PM não tinham dito que tudo voltou à normalidade? Precisei de atendimento e não foi deslocada nenhuma viatura. A população, infelizmente, só é reconhecida perto das eleições”, lamenta.
O comandante geral da PMDF, coronel Anderson de Moura, por sua vez, garante que a corporação está trabalhando normalmente e que o comando tem acompanhado o tempo de resposta dos atendimentos. “Não há nem policiais faltando ao serviço nem atitudes que comprovem uma lentidão”, diz.
Na noite de terça-feira, o comandante se reuniu com entidades representativas da polícia. “Ficou decidido que a polícia vai levar as reivindicações ao governo após a completa retomada da tranquilidade e paz social”, afirma.
Versão Oficial
O JBr. procurou o comandante-geral do 8º Batalhão de Polícia Militar (Ceilândia) para falar a respeito da tentativa de furto no Sol Nascente supostamente não atendida. O tenente coronel Juarez Madureira Júnior disse que não tinha conhecimento da ocorrência e por isso não poderia garantir o que teria acontecido. “Posso apenas garantir que toda ocorrência que chega, os policiais atendem dentro do padrão de normalidade da polícia”, assegura. O delegado regional de polícia oeste da PCDF, Adval Cardoso, esclarece que se houve resistência do agente plantonista da 19ª DP (P norte) em registrar a ocorrência ou prender o suspeito, ele pode ser punido por transgressão disciplinar grave por ato irresponsável. “A corregedoria da PCDF será provocada e vamos intimar a vítima para depoimento. Essa suposta atitude do agente é absurda”.
Debate chega ao Congresso Nacional
O comandante da Polícia Militar, Anderson de Moura, não
compareceu à audiência pública da bancada do DF no Congresso Nacional. A
reunião coordenada pelo deputado federal Luiz Pitiman (PSDB) discutiu a
segurança pública na capital. De acordo com a PMDF, o governo foi
representado pelo chefe da pasta de Segurança, Sandro Avelar.
Pitiman disse que o eco da ausência do comandante geral da PMDF e
do Corpo de Bombeiros, Júlio César dos Santos, precisava chegar ao
Palácio do Buriti. Isso porque, segundo ele, é necessário que haja a
abertura do diálogo entre as forças de segurança pública e o chefe do
executivo local. “Possivelmente os dois comandantes não vieram por
alguma determinação superior, e como cumpridores de ordem, eles faltaram
à audiência”, afirma.
Sandro Avelar defendeu as corporações. Segundo ele, não houve
qualquer determinação. “Nesse país, a segurança pública está além das
forças policiais, perpassa as políticas de saúde, educação, família e
até iluminação. É muito fácil elogiar a PM, pena que isso só costuma
acontecer em véspera de eleição”, defende. “Em ano eleitoral é fácil
erguer a bandeira da segurança pública e esboçar amor eterno. O problema
de segurança é de todos nós”.
Ponto de Vista
O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil no DF (OAB-DF),
Ibaneis Rocha, criticou a atitude do secretário de Segurança Pública em
justificar a redução dos índices de criminalidade por dados
estatísticos. Para ele, está explícito o sentimento de insegurança por
parte da sociedade.
“Não adianta mais dizer que a segurança pública anda
bem com base em números e comparando o DF com outras unidades
federativas do Brasil. Há um problema e um problema gravíssimo de
segurança”, disse.
Ibaneis Rocha completou, ainda, que o “comandante não apareceu à
audiência pois não tem respostas à sociedade”. Disse, ainda, que “ele e o
governador precisam dar esse retorno à sociedade civil.”
Crítica ao modo de cobrar
Durante o encontro, deputados e senadores, entre eles Cristovam
Buarque (PDT), Rodrigo Rollemberg (PSB) e Gim Argello (PMDB), discutiram
a Operação Tartaruga. Houve quem defendesse e também quem criticasse a
atitude dos PMs.
Os parlamentares Jaqueline Roriz (PMN-DF) e Izalci
Lucas (PSDB-DF) acharam justa a cobrança dos policiais pelo cumprimento
das 13 promessas de campanha do GDF. Outros defenderam melhorias para a
corporação, mas criticaram a atitude da polícia em fazer a Operação
Tartaruga, como foi o caso do deputado José Antônio Reguffe (PDT-DF).
Sequestro no Lago Sul
Na noite de segunda-feira, uma mulher de 52 anos foi alvo de um
sequestro relâmpago na QI 23 do Lago Sul. Ela chegava à casa de uma
amiga quando foi abordada por um homem armado. A servidora pública foi
obrigada a passar para o banco do passageiro e posteriormente o homem
exigiu que ela ficasse de bruços no banco de trás do I 30.
“Por volta
das 20h a vítima foi deixada no Jardim ABC, em Cidade Ocidental. Em
depoimento ela disse que o suspeito disse que devolveria o veículo em
dois dias. Ele teria informado que só usaria o carro para resolver
alguns negócios e depois abandonaria o automóvel perto de Formosa”,
explica o delegado-chefe da 10ª DP (Lago Sul).
DECISÃO JUDICIAL
Enquanto isso, a Operação Tartaruga parece longe do fim. O
presidente da Associação de Praças e Bombeiros Militares do DF (Aspra),
Manoel Sansão, disse que vai recorrer da decisão judicial que determina o
fim da Operação Tartaruga. “A expectativa é que a Justiça seja a favor
dos policiais e bombeiros. Essa é uma luta legal dos militares.”
Bancada quer apoio federal
Os parlamentares presentes na reunião no Congresso que tratou da
segurança pública do DF pretendem tentar buscar a ajuda do Governo
Federal para conseguir recursos e, assim, atender as exigências dos
policiais, dando fim aos protestos.
Em votação, senadores e deputados propuseram uma próxima audiência
pública com o Governo do Distrito Federal (GDF) para debater a
violência no DF. O presidente do PT-DF, Roberto Policarpo, procurou a
Secretaria de Governo e a chefia de gabinete do governador Agnelo. No
fim da reunião, o parlamentar recebeu o retorno do Executivo, que ainda
deve agendar um encontro.
Durante a reunião, o deputado Izalci Lucas (PSDB) fez críticas:
“Ninguém é obrigado a fazer acordo ou promessa. Mas se fez tem que
cumprir e sequer houve iniciativa do governo em resolver essa situação”,
disparou.
O secretário Sandro Avelar, por sua vez, admitiu que desde dezembro
os índices de criminalidade aumentaram no Distrito Federal, mas
ressaltou que o DF foi retirado do ranking das 50 cidades mais
violentas do mundo. “Das 16 cidades brasileiras no ranking, Aracaju teve
um índice de 34 mortes para cada 100 mil habitantes. Enquanto isso, o
DF teve 25 assassinatos para cada 100 mil habitantes”, defende.
Para Avelar, o problema de segurança pública ainda engloba a
legislação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), considerada
como branda por ele. E salienta o problema do uso de entorpecentes,
especialmente o crack, que vai além de uma tarefa da polícia. “O tráfico
é de competência das forças de segurança, mas o problema do usuário
de drogas é de responsabilidade de todos”, afirma.
Para o diretor-geral da Polícia Civil, Jorge Luiz Xavier, é
necessária uma modificação das leis.
“A taxa de 'morticídio' não vai ser
estancada com uma legislação que precisa ser corrigida com
honestidade”.
Polícia divulga foto de um dos suspeitos
A Polícia Civil divulgou a identidade de um dos supostos envolvidos
numa troca de tiros que resultou na morte de Pedro Henrique, de cinco
anos, no último domingo, na Estrutural.
Roberto Teixeira de Jesus, 28
anos, é o principal suspeito de ter atirado.
Ele já tem passagem pela
polícia e foi condenado por abusar sexualmente de um menino com
problemas mentais.
Após cumprir pena e sair da cadeia, Teixeira passou a ser chamado
de Jack, nome dado a um personagem violento do cinema.
Farto das
brincadeiras, ele teria prometido se vingar de quem assim o chamasse.
Mesmo com as ameaças, um morador da Estrutural o chamou pelo
apelido, e em seguida Teixeira teria dado um disparo de revólver para o
alto.
O rapaz correu para sua casa e relatou o ocorrido para o irmão de
16 anos, que armado foi tirar satisfações com Roberto. Depois de
discutirem, o menor e Teixeira iniciaram uma troca de tiros e uma das
balas acertou a cabeça Pedro Henrique. O enterro dele foi na manhã de
ontem, no cemitério de Taguatinga.
Caminhada
Motivada pelo crime que matou o menino na Estrutural, uma
caminhada-manifesto ocorrerá no próximo sábado, das 10h às 12h, saindo
da parada onde ocorreu o assassinato de Pedro (ao lado da Vila
Olímpica). A concentração será às 9h. A caminhada segue até a
Administração Regional da cidade.
Fonte: Da redação do Jornal de Brasília
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