quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Que bicho é esse, polícia?



PMs mudam nome de operação e a lentidão continua. Enquanto isso, vítima de crime prende suspeito

Isa Stacciarini
isa.coelho@jornaldebrasilia.com.br

 

Tartaruga, legalidade, padrão ou até lesma são os nomes atribuídos ao movimento dos policiais militares para reivindicar aumento salarial. 

Enquanto o Comando da Polícia Militar  assegura  que não existe mais lentidão nos trabalhos, os próprios policiais   garantem que   a operação tem continuidade.  

O reflexo da atitude está nas ruas do DF, e parlamentares pedem a ajuda do Governo Federal para  resolver a situação.

Mesmo depois do anúncio  oficial do fim do movimento, um comerciante do Setor   Sol Nascente esperou pela PM por três horas. Sem resposta da corporação, ele mesmo deteve o suspeito de uma tentativa de furto, amarrando-o. E a Polícia Civil também deixou de atendê-lo na primeira tentativa de registrar ocorrência.

O caso aconteceu   em frente à casa de Willian Santos da Silva,   40 anos. No endereço também funciona a loja de refrigeração do comerciante. O empresário se preparava para colocar o Siena   1998 na garagem, quando, de repente,    escutou um estouro.

“Um homem tinha quebrado o vidro para roubar o carro. Ele negou a autoria, mas não tinha mais ninguém perto. Eu o segurei e chamei a polícia. Liguei para a PM cinco vezes, esperei até as 3h e ninguém apareceu”, conta.  

Não satisfeito, o comerciante foi atrás do homem e conseguiu encontrá-lo três quadras à frente. “Amarrei as mãos dele  e o coloquei no   carro. Fui para a 19ª DP (P Norte), mas quando cheguei lá,  só tinha um agente de plantão. Ele disse que não tinha delegado ali e por isso a ocorrência não poderia ser registrada,  nem o meliante   seria preso”, diz.

Agente ajudou a pagar gasolina

Ainda na 19ª DP, Willian Santos  pediu uma viatura para levar o suposto autor da tentativa de furto a outra unidade policial, mas a solicitação não foi atendida. “O agente    recomendou que eu levasse o homem   à 15ª DP (Ceilândia Centro). Eu   falei que o meu carro estava com o combustível na reserva, e o policial ainda me deu R$ 5 para eu abastecer”, afirma. 

Na 15ª DP,  a ocorrência foi registrada e o homem, preso em flagrante. Depois dessa experiência, o comerciante duvida que a Operação Tartaruga tenha  terminado.

“O governo e  o Comando da PM não tinham dito que tudo voltou à normalidade? Precisei de atendimento e não foi deslocada nenhuma viatura. A população, infelizmente, só é reconhecida perto das eleições”, lamenta.

O comandante geral da PMDF, coronel Anderson de Moura, por sua vez, garante que a corporação está trabalhando normalmente e que   o comando tem acompanhado o tempo de resposta dos atendimentos. “Não há nem policiais  faltando ao serviço   nem atitudes que comprovem uma lentidão”, diz.

Na noite de terça-feira, o comandante se reuniu com entidades representativas da polícia. “Ficou decidido que a polícia vai levar as reivindicações ao governo após a completa retomada da tranquilidade e paz social”, afirma.

Versão Oficial

O JBr. procurou o comandante-geral do 8º Batalhão de Polícia Militar (Ceilândia) para falar a respeito da tentativa de furto no Sol Nascente supostamente não atendida. O tenente coronel Juarez Madureira Júnior disse que não tinha conhecimento da ocorrência e por isso não poderia garantir o que  teria acontecido. “Posso apenas garantir que toda ocorrência que chega, os policiais atendem dentro do padrão de normalidade da polícia”, assegura.  O delegado regional de polícia oeste da PCDF, Adval Cardoso, esclarece que se houve resistência do agente plantonista da 19ª DP (P norte) em registrar a ocorrência ou prender o suspeito, ele pode ser punido por transgressão disciplinar grave por ato irresponsável. “A corregedoria da PCDF será provocada e vamos intimar a vítima para depoimento. Essa suposta atitude do agente é absurda”.

Debate chega ao Congresso Nacional
 O comandante da Polícia Militar, Anderson de Moura,  não compareceu  à audiência pública da bancada do DF no Congresso Nacional. A reunião coordenada pelo deputado federal Luiz Pitiman (PSDB) discutiu a segurança pública na capital. De acordo com a PMDF, o governo foi   representado pelo chefe da pasta de Segurança, Sandro Avelar.
Pitiman disse que o eco da ausência do comandante geral da PMDF e do Corpo de Bombeiros, Júlio César dos Santos, precisava chegar ao Palácio do Buriti. Isso porque, segundo ele, é necessário que haja a abertura do diálogo entre as forças de segurança pública e o chefe do executivo local. “Possivelmente os dois comandantes não vieram por alguma determinação superior, e como cumpridores de ordem, eles faltaram à audiência”, afirma.
Sandro Avelar defendeu as corporações. Segundo ele, não houve qualquer determinação. “Nesse país, a segurança pública está além das forças policiais,   perpassa as políticas de saúde, educação, família e até iluminação. É muito fácil elogiar a PM, pena que isso só costuma acontecer em véspera de eleição”, defende. “Em ano eleitoral é fácil erguer a bandeira da segurança pública e esboçar amor eterno. O problema de segurança é de todos nós”.
Ponto de Vista
 O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil no DF (OAB-DF), Ibaneis Rocha, criticou a atitude do secretário de Segurança Pública em justificar a redução dos índices de criminalidade por dados estatísticos. Para ele, está explícito o sentimento de insegurança por parte da sociedade. 
“Não adianta mais dizer que a segurança pública anda bem com base em números e comparando o DF com outras unidades federativas do Brasil. Há um problema e um problema gravíssimo de segurança”, disse. 
Ibaneis Rocha completou, ainda, que o “comandante não apareceu à audiência pois não tem respostas à sociedade”. Disse, ainda, que “ele e o governador precisam dar esse retorno à sociedade civil.”
Crítica ao modo de cobrar
Durante o encontro, deputados e senadores, entre eles  Cristovam Buarque (PDT), Rodrigo Rollemberg (PSB) e Gim Argello (PMDB), discutiram a Operação Tartaruga. Houve quem defendesse e também quem criticasse a atitude dos PMs.  
Os parlamentares Jaqueline Roriz (PMN-DF) e Izalci Lucas (PSDB-DF) acharam justa a cobrança dos policiais pelo cumprimento das 13 promessas de campanha do GDF. Outros defenderam melhorias para a corporação, mas criticaram a atitude da polícia em fazer a Operação Tartaruga, como foi o caso do deputado José Antônio Reguffe (PDT-DF).
Sequestro no Lago Sul
Na noite de segunda-feira, uma mulher de 52 anos foi alvo de um sequestro relâmpago na QI 23 do Lago Sul. Ela chegava à casa de uma amiga quando foi abordada por um homem armado. A servidora pública foi obrigada a passar para o banco do passageiro e posteriormente o homem exigiu que ela ficasse de bruços no banco de trás do I 30. 
“Por volta das 20h a vítima foi deixada no Jardim ABC, em Cidade Ocidental. Em depoimento ela disse que o suspeito disse que devolveria o veículo em dois dias. Ele teria informado que só usaria o carro para resolver alguns negócios e depois abandonaria o automóvel perto de Formosa”, explica o delegado-chefe da 10ª DP (Lago Sul). 
DECISÃO JUDICIAL
Enquanto isso, a Operação Tartaruga parece longe do fim. O presidente da Associação de Praças e Bombeiros Militares do DF (Aspra), Manoel Sansão, disse que vai recorrer da decisão judicial que determina o fim da Operação Tartaruga. “A expectativa é que a Justiça seja a favor dos policiais e bombeiros. Essa é uma luta legal dos militares.”
Bancada quer apoio federal
Os parlamentares presentes na reunião no Congresso que tratou da segurança pública do DF pretendem tentar buscar a ajuda do Governo Federal para conseguir recursos e, assim,   atender as exigências dos policiais, dando fim aos protestos.  
Em votação,  senadores e deputados propuseram uma próxima audiência pública com o Governo do Distrito Federal (GDF) para debater a violência no DF. O presidente do PT-DF, Roberto Policarpo, procurou a Secretaria de Governo e a chefia de gabinete do governador Agnelo. No fim da reunião, o parlamentar recebeu o retorno do Executivo, que ainda deve agendar um encontro.
Durante a reunião, o deputado Izalci Lucas (PSDB) fez críticas:  “Ninguém é obrigado a fazer acordo ou promessa. Mas se fez tem que cumprir e sequer houve iniciativa do governo em resolver essa situação”, disparou.
O secretário Sandro Avelar, por sua vez, admitiu que desde dezembro os índices de criminalidade aumentaram no Distrito Federal, mas  ressaltou que o DF foi retirado do ranking das 50 cidades mais violentas do mundo. “Das 16 cidades brasileiras no ranking, Aracaju teve um índice de 34 mortes para cada 100 mil habitantes. Enquanto isso, o DF teve 25 assassinatos  para cada 100 mil   habitantes”, defende. 
Para Avelar, o problema de segurança pública ainda engloba a legislação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), considerada como branda por ele. E salienta o problema do uso de entorpecentes, especialmente o crack, que vai além de uma tarefa da polícia. “O tráfico   é de competência das forças de segurança, mas o problema do usuário de drogas é de responsabilidade de todos”, afirma.
Para o diretor-geral da Polícia Civil, Jorge Luiz Xavier,  é necessária uma modificação das leis. 
“A taxa de 'morticídio' não vai ser estancada com uma legislação que precisa ser corrigida com honestidade”.
Polícia divulga foto de um dos suspeitos
A Polícia Civil divulgou a identidade de um dos supostos envolvidos numa troca de tiros que resultou na morte de Pedro Henrique, de cinco anos, no último domingo, na Estrutural. 
Roberto Teixeira de Jesus, 28 anos, é o principal suspeito de ter atirado. 
Ele já tem passagem pela polícia e foi condenado  por abusar sexualmente de um menino com problemas mentais.
Após cumprir pena e sair da cadeia, Teixeira passou a ser chamado  de Jack, nome dado a um personagem violento do cinema. 
Farto das brincadeiras, ele teria prometido se vingar de quem assim o chamasse.
Mesmo com as ameaças, um morador da Estrutural o chamou pelo apelido, e em seguida Teixeira  teria dado um disparo de revólver para o alto. 
O rapaz correu para sua casa e relatou o ocorrido para o irmão de 16 anos, que armado foi tirar satisfações com Roberto. Depois de discutirem, o menor e Teixeira iniciaram uma troca de tiros e uma das balas acertou a cabeça Pedro Henrique. O enterro dele foi na manhã de ontem, no cemitério de Taguatinga.
Caminhada
Motivada pelo crime que matou o menino na Estrutural, uma caminhada-manifesto ocorrerá no próximo sábado, das 10h às 12h, saindo da parada onde ocorreu o assassinato de Pedro (ao lado da Vila Olímpica). A concentração será às 9h. A caminhada segue até a Administração Regional da cidade.
Fonte: Da redação do Jornal de Brasília

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