Venezuela VEJA
Em entrevista coletiva, herdeiro de Chávez ameaça 'castigar' responsáveis, volta a criticar os EUA e revela engodo da proposta para diálogo ao dizer que não aceita condições para conversar com a oposição
Maduro durante entrevista coletiva
(AFP)
Em entrevista coletiva nesta sexta-feira, ele afirmou que “todos os casos de pessoas mortas, assassinadas, todos esses casos são de responsabilidade da violência guarimbera", usando o termo chavista para designar as barricadas que se tornaram uma das principais formas de manifestação em várias cidades do país, incluindo a capital Caracas.
"Todos os casos, do primeiro até o último. Todos eles são imputáveis ao golpe de estado que está se desenrolando na Venezuela”.
Demonstrando insegurança na cadeira presidencial, o herdeiro político de Maduro tem avançado na repressão aos manifestantes, que há mais de um mês vão às ruas reclamar dos problemas econômicos, como escassez de produtos básicos e alta inflação, da criminalidade e da falta de liberdade.
O presidente já convocou publicamente as milícias para agir contra os estudantes. Homens armados agem com o aval da cúpula chavista e disparam contra os jovens. Muitos também são alvo de tortura depois de detidos.
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Tudo isso, é claro, é ignorado pelo presidente ao falar sobre os protestos.
“Os autores materiais e intelectuais das mortes, todos, serão castigados”, ameaçou Maduro, segundo o El Nacional, acrescentando que mais de 1.500 pessoas foram detidas e 105 permanecem atrás das grades, algumas delas, disse, "por terem cometido homicídio".
Outros 21 detidos são guardas e policiais que “cometeram abuso ou excessos”, admitiu o presidente sem deixar de fazer a seguinte ponderação: “a ordem do Executivo é que o uso da força deve corresponder a nossas obrigações constitucionais de defesa do direito dos cidadãos à paz”.
Estados Unidos – Usando a velha retórica chavista, Maduro também insistiu em apontar a mira para o inimigo externo do governo venezuelano.
“O que aconteceu revelou a real natureza da política do Departamento de Estado americano. É evidente o intervencionismo desesperado dos Estados Unidos.
Se eles Tivessem êxito e derrotassem nosso governo, teria início o pior período de instabilidade econômica em 200 anos na América Latina.
Desestabilizar e reverter a Revolução Bolivariana teria graves consequências”, salientou o homem que dá continuidade às políticas econômicas que estão levando a Venezuela ao abismo.
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Ontem, em audiência na Comissão de Assuntos Exteriores da Câmara, o secretário de Estado americano, John Kerry, disse que os EUA estão comprometidos "em encontrar uma forma para conseguir que o governo Maduro dialogue com seus cidadãos e detenha esta campanha de terror contra seu próprio povo”.
Na quarta, em outra audiência com congressistas, ele havia mencionado a possibilidade de impor sanções à Venezuela, ponderando, contudo, que “a economia já está bastante frágil” e que sanções comerciais poderiam prejudicar não só o governo, mas também a população mais pobre.
Em resposta, o chanceler venezuelano Elías Jaua baixou o nível e chamou secretário americano de “assassino”.
“O denunciamos como assassino do povo venezuelano, senhor Kerry. Não baixaremos o tom a nenhum império enquanto vocês não ordenarem seus lacaios na Venezuela que parem com a violência contra o povo”.
Falsos diálogos – Por fim, Maduro mostrou o quão vazias são suas propostas de diálogos com a oposição. Nas últimas semanas o governo tem usado a recusa da oposição em se reunir como um atestado de que os adversários do chavismo não são democráticos.
“Não aceitaremos condições por nada desse mundo para conversar”, declarou, em referência a uma série de cinco pontos que a coalizão opositora Mesa da Unidade Democrática apresentou como condição para sentar-se à mesa com o governo.
Entre eles estão a libertação do dirigente opositor Leopoldo López e investigações independentes sobre a repressão às manifestações.
Entre outros pontos abordados na entrevista, Maduro disse, evitando usar a palavra "aumento", que o governo ainda tem a intenção de "adaptar" o preço da gasolina subsidiada vendida no país.
"Em um momento dado, faremos um sistema para adaptar o preço da gasolina e começar a cobrá-la. Não é aumentá-la, é começar a cobrá-la".
No país, um litro do combustível custa o equivalente a 3 centavos de real.
As vítimas dos protestos na Venezuela
Venezuela: a herança maldita de Chávez
Hugo Chávez chegou ao poder na Venezuela em fevereiro de 1999 e, ao longo de catorze anos, criou gigantescos desequilíbrios econômicos, acabou com a independência das instituições e deixou um legado problemático para seu sucessor, Nicolás Maduro.
Confira:
Criminalidade alta
A criminalidade disparou na Venezuela ao longo dos 14 anos de governo Chávez.Em 1999, quando se elegeu, o país registrava cerca de 6 000 mortes por ano, a uma taxa de 25 por 100 000 habitantes, maior que a do Iraque e semelhante à do Brasil, que já é considerada elevada.
Segundo a ONG Observatório Venezuelano de Violência (OVV), em 2011, foram cometidos 20 000 assassinatos do país, em um índice de 67 homicídios por 100.000 habitantes.
Em 2013, foram mortas na Venezuela quase 25 000 pessoas, cinco vezes mais do que em 1998, quando Hugo Chávez foi eleito.
Apesar de rica em petróleo, a Venezuela é o país com a terceira maior taxa de homicídios do mundo, atrás de Honduras e El Salvador.
Entre as razões para tanto está a baixa proporção de criminosos presos. Enquanto no Brasil a média é de 274 presos para cada 100 000 habitantes, na Venezuela o índice está em 161.
De acordo com uma ONG que promove os direitos humanos na Venezuela, a Cofavic, em 96% dos casos de homicídio os responsáveis pelos crimes não são condenados.
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