domingo, 23 de março de 2014

O PT e a Educação


Se tem um tema vital para o futuro do país em que o Governo Petista faz uma gestão desastrosa e dá pouquíssima importância, este tema é a Educação. Especialmente a educação de base, aquela que leva nossas crianças a terem noções mínimas de leitura, interpretação e operações matemáticas, sem as quais todo o resto do processo educativo estará sempre prejudicado pelo preenchimento de lacunas vindas do passado.

Não é só o PT que não liga para a Educação. O Brasil, em geral, mostra-se pouco interessado pelo tema. 

Uma pesquisa rápida pelas páginas de jornais, revistas e resumos dos telejornais mostram o quanto a Educação chama menos atenção do que obras de infra-estrutura, políticas econômicas, elocubrações eleitorais ( com 19 meses de antecedência! ) e, em alguns casos, até mesmo do que ações cotidianas de novos prefeitos de metrópoles. Só que é importante tratar do PT pois o partido tem a hegemonia das pautas públicas brasileiras e deveria sim agir para mudar esta realidade. 

Grandes lideranças políticas se tornam históricas não por apenas responderem às demandas do clamor popular ou dos grandes grupos de pressão, mas por liderarem processos de melhorias que se tornam definitivos e irreversíveis.
É inevitável relembrar que, para o PT, o partido é mais importante do que a Educação. 

Isto ficou claro quando, em meio ao incêndio moral causadao pelo Mensalão, Tarso Genro, então Ministro da Educação, abdicou do importantíssimo Ministério para socorrer ao partido. Com pouco mais de 3 anos no Ministério e sem resultados importantes,Tarso Genro assumiu seu partido dizendo ter uma missão “histórica” de “resgate do partido”. 

Inadmissível, uma vergonha. Mas não para os petistas, não para Tarso Genro e, como não dizer, não para o povo do Rio Grande do Sul, que mais tarde o elegeu Governador e não para a opinião pública nacional, que no geral deu pouca atenção para a atitude.


A saída de Tarso Genro levou ao Ministério o até então desconhecido Fernando Haddad, que de imediato caiu nas graças de Lula. Com pouco tempo no Ministério Haddad já começou a ser cotado como potencial candidato a suceder Lula dentro do PT, partido que tem um processo de escolha de candidatos único e muito famoso, o do “O Lula escolhe”. 


O tempo fez com que Dilma Rousseff, como Ministra da Casa Civil, chamasse mais atenção, conseguisse mais destaque e conquistasse o eleitorado interno do PT (Lula), tornando-se a escolhida.


Dilma Rousseff, por não ter os vícios bravateiros de Lula quanto à importância dos estudos, poderia ser um recomeço, uma chance de melhoria, quem sabe a escolha de um rumo para o tema. 


Mas que nada: Já no seu primeiro mês de Governo Dilma reuniu-se com Fernando Haddad, mantido Ministro da Educação, para tratar puramente da futura campanha eleitoral para a Prefeitura de São Paulo. Pesquise-se os arquivos de jornal da época e não se encontrará uma linha sequer sobre medidas relativas à Educação como um todo e à educação de base em especial. 

Mesmo no site do Ministério da Educação, há apenas menções rápidas e insossas sobre os encontros, deixando claro que nada de relevante à pasta foi tratado. Ainda pior: No primeiro mês do novo Governo o Ministro tinha já férias agendadas e somente não a usufruiu pois foi pego por um dos muitos escândalos relativos a organização de provas nacionais em sua gestão.

Curiosidade: A crise do SiSU no início da gestão Dilma-Haddad na Educação foi fartamente noticiada nos grandes sites nacionais de notícias, mas na Folha, maior jornal do país, só ganhou nota quando o Ministro começou a “reagir” ao caso e após cancelar suas férias no dia 22/01.

Compare-se por exemplo com a cobertura do portal O GLobo: Dia 18/01 Dia 19/01 aqui e aqui , dia 20/01  e dia 21/01 aqui e aqui


Lógico que para quem considera a superação de uma crise de corrupção dentro do partido mais importante do que seguir o trabalho de condução da Educação do seu país, é coisa pouca manter em um novo Governo um Ministro da Educação com prazo curto de validade e cujo maior objetivo seria blindá-lo de crises com vistas a outro projeto partidário: a tomada de poder na maior cidade do país. 


 Quando em nome deste mesmo projeto de poder o mais popular ex-presidente da República do país, de forma humilhante, teve que ir à casa de um político com vasto currículo nas mais diversas esferas da Justiça Brasileira e mundial, já pouca gente ligou. 


E muito menos ao custo desta eleição ( um Ministério para a política popular da cidade que foi preterida, uma Secretaria na nova administração para um comunista com histórico de agressão a uma ex-mulher, a promessa de Ministério ao Chalita e o loteamento malufista na pasta da Habitação são os casos mais visíveis ).


Para não dizer que este Governo nada fez em termos de Educação, ele fez sim. E, como quase tudo feito, as medidas adotadas e de destaque têm como virtude principal o “gasto do dinheiro”. 


Sim, Educação é um gasto que nossa civilização considera necessário, um tema que deve sim ter especial atenção dos Governos e portanto ter recursos. O problema é quando se tem um Governo cujas políticas todas se baseiam no fornecimento de bolsas. 

A grande base das políticas deste Governo é “ter recursos” e gastá-los. Na pasta da Educação, as Bolsas consagraram um modelo eficiente para que mais pessoas se formassem em faculdades e também serviu muito bem aos grandes empresários do setor, que já abrem seus cursos com vistas à quantidade de bolsistas que conseguirão. 


É um negócio que já nasce pronto para o sucesso: Você tem de um lado uma enorme população de jovens e não-diplomados e também muitos recursos para fazê-los estudar. Já a qualidade dos cursos superiores no Brasil, é sabido de todos, não pára de cair. Um levantamento sobre doações de empresários da educação nas últimas eleições torna claro o quanto a educação superior tornou-se um bom negócio e fator político.


O outro problema da adoção destas políticas é que elas criam um círculo político vicioso: Por gerarem dividendos eleitorais imediatos ( cada bolsista é um fiel eleitor em potencial, cada faculdade apta a ter sua “garantia de consumidores” graças aos bolsistas é potencial financiador ), elas acentuam a perda de foco ao grande xis da questão educacional brasileira que é melhorar o Ensino Fundamental. 

O que foi feito para melhoria do Ensino Fundamental? Nem mesmo os mais fiéis buldogues governistas têm esta resposta na ponta da língua. 

Também dificilmente um jornalista que cobre ações do Governo as terá. Já sobre  programas de bolsas todos sabem pois eles  sempre vão parar nos horários eleitorais, e por terem potencial eleitoral ganham  manchetes de jornais, fechando assim um círculo inescapável.


Os resultados, que não se refletem nas urnas, são coisas como:
  • Posição vexatória no Ranking mundial Pisa 2009  , que nos coloca ainda entre os piores do mundo
  • 37% dos municípios não atingem meta ridícula para o Ensino Fundamental em 2012
  • Em ranking de qualidade da Educação em 2012, ficamos em penúltimo lugar 
  • Em avaliação de proficiência em português, competindo com centenas de brasileiros, quem tira a melhor nota é uma …argentina
Como se não bastassem as vergonhas comparativas com o resto do mundo, tivemos recentemente o escândalo da falta de critérios na avaliação das redações do ENEM, prova que, na gestão petista, transformou-se de termômetro do aprendizado dos alunos em Vestibularzão.


Causa-me espanto que, dentre tantas falhas a apontar neste  decênio petista, os adversários não tornem os erros gritantes na pasta da Educação um ponto fundamental para minar o apoio popular que o partido possui. O PT tem domínio esmagador de preferências eleitorais entre os mais pobres, justamente aqueles que mais têm filhos na rede pública e que por isto estão mais propensos a pagar, no longo prazo, o preço da falta de estratégias e suporte.


É preciso quebrar o ciclo do descaso. Se os formadores de opinião e de políticas públicas consideram o Ensino Público, especialmente o Fundamental, tema de pouca importância, não devem todos os outros grupos de expressão política ser coniventes. Fazer barulho e Política com esses temas vitais é sim papel da Oposição e de quem mais estiver insatisfeito com este quadro. 

Quando menos, para despertar na população a capacidade de se indignar com aquilo que afeta a todos. Se o silêncio e a letargia servem para ocultar o tanto que o PT tem sido desleixado e medíocre, expôr e debater mais o tema servirá para livrar a massa brasileira de semelhante destino.

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