Em sua coluna
neste domingo no Estadão, o humorista Fábio Porchat condenou aqueles
que defendem “com unhas e dentes os partidos políticos”. Entendo seu
ponto. Como liberal, tampouco gosto dessa adesão partidária como uma
espécie de Fla x Flu, algo que soa meio ingênuo e coletivista.
Evandro Mesquita certa vez me disse que
não gostava dessa coisa de partido, pois preferia o inteiro. O
trocadilho é bom. Mas podemos realmente abrir mão dos partidos? A
sociedade não está, ela mesma, dividida em partes? O inteiro seria um
tanto totalitário, não? Porchat faz perguntas pertinentes, mas sua
intenção parece ser nitidamente jogar todos no mesmo saco podre. Diz
ele:
Como é
possível, em sã consciência, alguém, no Brasil, afirmar que determinado
partido é bom e que o outro é ruim? Que partido tem a ficha limpa? Que
partido não se envolveu em nenhum escândalo de corrupção? Que partido
defende realmente os interesses da população e não os próprios? Que
partido não faz alianças escusas pensando apenas em se manter no poder e
ganhar mais um minuto e meio no horário eleitoral gratuito? Que partido
é uma unanimidade, que, quando citado, recebe a aprovação da maioria?
Nenhum partido será perfeito, isso é
lógico em se tratando de seres humanos e política. No Brasil, então,
isso é ainda pior. Não custa lembrar que temos uma hegemonia de partidos
de esquerda, quase todos com social ou socialista no nome, e o único
que se assumia liberal preferiu mudar de nome (felizmente, para nós
liberais).
Também é verdade que todos tiveram
escândalos de corrupção, ao menos os maiores que chegaram de alguma
forma ao poder (e menores, como o PSOL, já tiveram escândalos mesmo
longe do poder). A maioria é fisiológica e defende interesses próprios.
Dito tudo isso, o que temos a ganhar ignorando distinções e condenando
todos como se fossem iguais?
Meu vizinho pode ser desonesto, trair a
esposa, e de vez em quando até entrar em algum esquema questionável. Mas
o outro pode ser um psicopata assassino. Quem eu estaria poupando se
simplesmente dissesse que “meus vizinhos são todos bandidos”? Não há
mais gradações?
Quando os políticos do PSDB e do DEM se
envolvem em escândalos, costumam ser expulsos do partido. Quando
petistas do mais alto escalão são condenados pelo STF e vão presos, o PT
os defende publicamente. Porchat realmente não nota a diferença? Será
que a Caixa o cegou?
Outro equívoco de Porchat é ignorar ou
fazer pouco caso da ameaça socialista. Ele adere ao discurso da moda,
que condena tanto a esquerda como a direita, que nega inclusive a
existência de tais conceitos, e ridiculariza quem ataca o comunismo em
pleno século 21:
A não ser
que seja uma extrema direita (burra) ou uma extrema esquerda (burra), o
resto é tudo uma grande salada. Eu entendo quando, lá trás, existia o
papo dos comunistas e tal, mas isso é um papo de União Soviética. Eu
tinha 6 anos quando caiu o Muro de Berlim. Hoje eu tenho 30 e o papo
continua, como se fosse possível.
Quando vejo
umas pessoas ainda mandando a clássica “vai pra Cuba”, eu penso: sério
isso? Alguém ainda ataca alguém assim? Pior, se existe esse “xingamento”
é porque alguém ainda acha que Cuba funcionou e é um exemplo a ser
seguido. Quê? Não existem mais dois lados da moeda, existem 300 lados.
Não sei em que mundo vive Porchat, mas no
meu Cuba ainda existe e goza de amplo apoio entre nossas esquerdas. A
própria presidente Dilma é só carinho com Fidel Castro, o mais cruel,
longevo e assassino ditador da América Latina. A Venezuela já é
socialista e por isso mesmo miserável, desigual ao extremo e violenta.
Mas vários brasileiros ainda pregam o bolivarianismo, e Lula grava
mensagem de apoio a Maduro.
O Muro de Berlim caiu há décadas, é
verdade. Mas muitos parecem não ter notado. Curiosamente, Porchat
prefere atacar os anticomunistas, como caricatos e congelados no tempo,
em vez de repudiar justamente aqueles que ainda acreditam no socialismo.
Por que? Será que a Caixa o cegou?
Por fim, Porchat deposita uma confiança boba e até perigosa no messianismo individual ao dizer:
Eu, Fábio,
tento focar nos candidatos. Até porque quando a culpa é desse ou
daquele, esse ou aquele vão presos. Quando a culpa é do partido, ninguém
sabe, ninguém viu, prendem um laranja qualquer e o partido continua
ali, firme, forte e com o bolso recheado. Por isso, prefiro acreditar
mais no político. Pouquinho só, mas dá pra se ter mais controle de um
político sozinho do que da junção de vários que formam a sua quadrilha.
Um bom candidato num partido péssimo:
quem vai se sobressair? O PT é uma seita organizada, há hierarquia, há
fidelidade aos “princípios” (no caso, tudo pelo poder e nada mais). Pode
um indivíduo louvável ser candidato pelo PT? Dá para ser um messias
salvador da Pátria independentemente de partidos? Eis uma ideia
perigosa, como sabemos…
Democracia representativa demanda
partidos sólidos, que representem ideias, ideologias, programas claros. O
voto deveria ter uma base programática maior. Se isso não ocorre no
Brasil, devemos lutar para que os partidos melhorem, ou até ajudar a
criar algum NOVO.
Não fazer como o Porchat e cuspir em todos como se fossem iguais e
depositar esperança em seres messiânicos acima de todos, da política,
dos partidos. Isso não funciona.
PS: Enquanto um partido NOVO e mais
decente não aparece, o certo, em minha opinião, é escolher o menos pior,
pois em política o bom é inimigo do razoável, e o voto nulo é amigo do
PT, simplesmente o pior partido de todos!
Rodrigo Constantino
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