segunda-feira, 28 de abril de 2014

O partido de Fábio Porchat







Em sua coluna neste domingo no Estadão, o humorista Fábio Porchat condenou aqueles que defendem “com unhas e dentes os partidos políticos”. Entendo seu ponto. Como liberal, tampouco gosto dessa adesão partidária como uma espécie de Fla x Flu, algo que soa meio ingênuo e coletivista.

Evandro Mesquita certa vez me disse que não gostava dessa coisa de partido, pois preferia o inteiro. O trocadilho é bom. Mas podemos realmente abrir mão dos partidos? A sociedade não está, ela mesma, dividida em partes? O inteiro seria um tanto totalitário, não? Porchat faz perguntas pertinentes, mas sua intenção parece ser nitidamente jogar todos no mesmo saco podre. Diz ele:


Como é possível, em sã consciência, alguém, no Brasil, afirmar que determinado partido é bom e que o outro é ruim? Que partido tem a ficha limpa? Que partido não se envolveu em nenhum escândalo de corrupção? Que partido defende realmente os interesses da população e não os próprios? Que partido não faz alianças escusas pensando apenas em se manter no poder e ganhar mais um minuto e meio no horário eleitoral gratuito? Que partido é uma unanimidade, que, quando citado, recebe a aprovação da maioria?


Nenhum partido será perfeito, isso é lógico em se tratando de seres humanos e política. No Brasil, então, isso é ainda pior. Não custa lembrar que temos uma hegemonia de partidos de esquerda, quase todos com social ou socialista no nome, e o único que se assumia liberal preferiu mudar de nome (felizmente, para nós liberais).


Também é verdade que todos tiveram escândalos de corrupção, ao menos os maiores que chegaram de alguma forma ao poder (e menores, como o PSOL, já tiveram escândalos mesmo longe do poder). A maioria é fisiológica e defende interesses próprios. Dito tudo isso, o que temos a ganhar ignorando distinções e condenando todos como se fossem iguais?


Meu vizinho pode ser desonesto, trair a esposa, e de vez em quando até entrar em algum esquema questionável. Mas o outro pode ser um psicopata assassino. Quem eu estaria poupando se simplesmente dissesse que “meus vizinhos são todos bandidos”? Não há mais gradações?


Quando os políticos do PSDB e do DEM se envolvem em escândalos, costumam ser expulsos do partido. Quando petistas do mais alto escalão são condenados pelo STF e vão presos, o PT os defende publicamente. Porchat realmente não nota a diferença? Será que a Caixa o cegou?


Outro equívoco de Porchat é ignorar ou fazer pouco caso da ameaça socialista. Ele adere ao discurso da moda, que condena tanto a esquerda como a direita, que nega inclusive a existência de tais conceitos, e ridiculariza quem ataca o comunismo em pleno século 21:


A não ser que seja uma extrema direita (burra) ou uma extrema esquerda (burra), o resto é tudo uma grande salada. Eu entendo quando, lá trás, existia o papo dos comunistas e tal, mas isso é um papo de União Soviética. Eu tinha 6 anos quando caiu o Muro de Berlim. Hoje eu tenho 30 e o papo continua, como se fosse possível.

Quando vejo umas pessoas ainda mandando a clássica “vai pra Cuba”, eu penso: sério isso? Alguém ainda ataca alguém assim? Pior, se existe esse “xingamento” é porque alguém ainda acha que Cuba funcionou e é um exemplo a ser seguido. Quê? Não existem mais dois lados da moeda, existem 300 lados.

Não sei em que mundo vive Porchat, mas no meu Cuba ainda existe e goza de amplo apoio entre nossas esquerdas. A própria presidente Dilma é só carinho com Fidel Castro, o mais cruel, longevo e assassino ditador da América Latina. A Venezuela já é socialista e por isso mesmo miserável, desigual ao extremo e violenta. Mas vários brasileiros ainda pregam o bolivarianismo, e Lula grava mensagem de apoio a Maduro.

O Muro de Berlim caiu há décadas, é verdade. Mas muitos parecem não ter notado. Curiosamente, Porchat prefere atacar os anticomunistas, como caricatos e congelados no tempo, em vez de repudiar justamente aqueles que ainda acreditam no socialismo. Por que? Será que a Caixa o cegou?
Por fim, Porchat deposita uma confiança boba e até perigosa no messianismo individual ao dizer:

Eu, Fábio, tento focar nos candidatos. Até porque quando a culpa é desse ou daquele, esse ou aquele vão presos. Quando a culpa é do partido, ninguém sabe, ninguém viu, prendem um laranja qualquer e o partido continua ali, firme, forte e com o bolso recheado. Por isso, prefiro acreditar mais no político. Pouquinho só, mas dá pra se ter mais controle de um político sozinho do que da junção de vários que formam a sua quadrilha.

Um bom candidato num partido péssimo: quem vai se sobressair? O PT é uma seita organizada, há hierarquia, há fidelidade aos “princípios” (no caso, tudo pelo poder e nada mais). Pode um indivíduo louvável ser candidato pelo PT? Dá para ser um messias salvador da Pátria independentemente de partidos? Eis uma ideia perigosa, como sabemos…

Democracia representativa demanda partidos sólidos, que representem ideias, ideologias, programas claros. O voto deveria ter uma base programática maior. Se isso não ocorre no Brasil, devemos lutar para que os partidos melhorem, ou até ajudar a criar algum NOVO. Não fazer como o Porchat e cuspir em todos como se fossem iguais e depositar esperança em seres messiânicos acima de todos, da política, dos partidos. Isso não funciona.

PS: Enquanto um partido NOVO e mais decente não aparece, o certo, em minha opinião, é escolher o menos pior, pois em política o bom é inimigo do razoável, e o voto nulo é amigo do PT, simplesmente o pior partido de todos!


Rodrigo Constantino

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