segunda-feira, 28 de abril de 2014

UMA AGONIA SEM FIM




 

O temor eleitoral do PT, especialmente do Palácio do Planalto diante das seguidas quedas de Dilma Rousseff  nas pesquisas eleitorais, levou a legenda (e a presidente) a adotar medidas acertadas.

Primeiro, o PT começou a pressionar o deputado André Vargas, 
enroladíssimo com o doleiro Alberto Youssef  (já preso) a renunciar o seu mandato por não ter saída: muito provavelmente o Conselho de Ética da Câmara irá cassá-lo.

Em segundo, entregou os pontos, deixou combater a CPI exclusiva da Petrobras, aprovada pela oposição no Senado, na medida em que a ministra do Supremo, Rosa Weber, concedeu uma liminar provisória favorável à oposição.
 

As duas decisões do partido, ambas oriundas do Palácio do Planalto a partir de aconselhamentos da assessoria de Dilma, têm sentido. Tanto ela como o partido estavam e estão sangrando na medida em que, diariamente, (sem aquela de dia sim, dia não) estão na mídia, diante do que está a acontecer com a principal empresa brasileira, símbolo maior que vem dos anos 50 do século passado. A Petrobras está rota. Perdeu dois terços do seu valor de venda e ainda continua caindo, mesmo com o pré-sal.
 
Já o deputado André Vargas está de tal maneira sujo e sem saída que passou a ser um estorvo para o partido em ano eleitoral. Por que passa a ser, ele próprio, uma demonstração das maracutaias praticadas por integrantes da legenda, distante de ser o que já foi, ou seja, ostentar a auréola de um partido limpo, diferenciado dos demais. Bastou chegar ao poder e tudo mudou. Assim, para evitar o pior, embora o pior já esteja instalado, o PT quer dele se livrar o mais rápido possível.
 
A não ser na época do mensalão, o Partido dos Trabalhadores não atravessa uma fase tão perniciosa, tão desgastante e, pior ainda, quando as eleições já estão visíveis, porque acontecem dentro de seis meses. O PT e Dilma Rousseff estão contra a parede, embora a presidente tenha colaborado para que o assunto Petrobras crescesse e tomasse um fôlego inusitado. Tudo começou com aquela nota em que ela, tentando se livrar, se afogou, escrevendo do próprio punho que recusava a responsabilidade sobre a compra da refinaria de Pasadena por não ter, à época, em mãos, quando presidia o Conselho  Deliberativo da petrolífera, informações sobre duas cláusulas perniciosas.
 
A partir daí aconteceram embaraços e tão-somente embaraços, sem ninguém se entender sobre o bilionário (em dólares) prejuízo da empresa-símbolo. A atual presidente da Petrobras, Graça Foster, diz que foi um péssimo negócio. O ex-presidente, José Sérgio Gabrielli, diz que foi um bom negócio para a época e que a presidente deve assumir a responsabilidade que lhe cabe. Dilma perde pontos nas pesquisas. Falar em mensaleiro, na época em que aconteceu o escândalo, no governo Lula, era uma coisa, porque os brasileiros não sabiam (hoje sabem) o que significava mensaleiro. 


Falar em Petrobras, porém, é tocar em um ícone brasileiro, o sonho do desenvolvimento, a tal ponto que ser petroleiro, trabalhar na empresa, era quase uma benção, era um fator de orgulho dos seus trabalhadores. Hoje, a estatal foi aparelhada pelo fisiologismo nefasto da política petista para agradar à base de sustentação do governo. Se alguém disser que nunca se ouviu fatos sobre corrupção como hoje acontece, não seria um exagero. O país está enlameado pela política rasteira em prejuízo da República. Não há a menor dúvida. É certo que a corrupção sempre acompanhou, lado a lado, os governos de Pindorama.
 
A propósito, somente a propósito sobre o que está acima escrito, o “ínclito” presidente do Senado, Renan Calheiros, em nota, avisou que recorrerá da decisão do Supremo, alegando a independência entre os três poderes. Afinadíssimo com quem estiver no poder, seja lá quem for, ele seguramente criará mais problemas para o Palácio do Planalto e para Dilma Rousseff. 


Os governistas podem – e devem – criar uma CPI para apurar o que aconteceu com os trens e o metrô paulistanos e, também, com os gastos estonteantes da refinaria Faria e Lima, em Pernambuco, na tentativa de alcançar os pré-candidatos Aécio Neves e Eduardo Campos. Assim como a oposição pode aparecer com uma CPI mista (Câmara e Senado) para aprofundar as investigações na petrolífera.
 
Enquanto isso, a presidente Dilma Rousseff não deve estar a dormir bem. Deve sonhar com pesquisas, com quedas monumentais e, no sonho, vê Lula à distância como a dizer que não tem nada com isso. Ora, ora. Cada poste tem seu dono.
 
 28 de abril de 2014
Coluna de Samuel Celestino publicada no jornal A Tarde 

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