No
mercado financeiro, assim como no País, há pessoas simpáticas ao
movimento “volta Lula”, pois ele poderia trazer de volta o apoio do
Planalto ao tripé macroeconômico que garantiu estabilidade e confiança
durante o primeiro mandato petista: contas fiscais sadias, inflação
domesticada e taxa de câmbio com uma flutuação limpa.
Há razões para essa nostalgia? O economista Marcos Lisboa, o artífice
das microrreformas do primeiro Governo Lula e hoje uma voz respeitada
tanto na academia quanto nos mercados, coloca o dedo na ferida em artigo
publicado na Folha de São Paulo de hoje.
Mostrando a distinção entre os governos Lula I e Lula II, Lisboa nota
que, se o primeiro foi marcado por um discurso à esquerda combinado com
uma gestão econômica conservadora, no segundo, “sobretudo depois de
2008, optou-se por outro caminho, o resgate do projeto alternativo do
nacional desenvolvimentismo, intervencionista, protetor do capital
nacional e crescentemente antagonista do contraditório”. Esse projeto,
obviamente, foi levado adiante pela Presidente Dilma e agora mostra-se
exaurido.
A grande dúvida, diz Lisboa, “não é apenas a volta, mas a volta de
quem, seja como fiador ou candidato. O pragmático ou o
intervencionista?”...
Com Lula sendo visto como “a bala de prata” do PT para tentar se manter
no Poder, como disse ontem Marina Silva, este debate qualitativo é o
que realmente interessa hoje a quem tem que tomar decisões de
investimento que dependem do resultado eleitoral.
Dos escritórios da Faria Lima ao eixo Ipanema-Leblon, as reuniões dos
gestores profissionais nas últimas semanas têm sido todas iguais:
“Compramos um pouco de Petrobras, acreditando na derrota do PT, no fim
do aparelhamento, e numa política de preços mais realista? Ou compramos o
dólar para nos proteger do desânimo empresarial que adviria de um
segundo mandato de Dilma?” (E, claro, a dúvida que mais atormenta: “E se
ficarmos de fora e perdermos o barco, como vamos explicar isso aos
clientes?”)
Como se vê pelo artigo de Lisboa, as perguntas não são tão simples assim, e as respostas, virtualmente impossíveis.
Fonte: GERALDO SAMOR - revista Veja - 30/04/2014 - - 10:05:45
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