terça-feira, 29 de abril de 2014
Milton
Pires
De
tudo que até hoje se escreveu a respeito da origem da filosofia,
nenhuma explicação pode ser mais marcante, mais completa e
verdadeira do que a que diz ter ela nascido da nossa capacidade de se
espantar.
Tão completa e abrangente, tão justa e simples parece
essa proposição que inevitável seria pensar ser possível sua
utilização em outras áreas do conhecimento. Nenhuma estranheza,
portanto, causaria a afirmação de que o nível de consciência
política de uma sociedade, sua capacidade de indignação e reação
tem a mesma fonte da indagação filosófica: o espanto.
Aceitos
os princípios acima, proponho agora uma inversão a ser aplicada,
pelo menos, no território da consciência política do brasileiro
mediano: afirmo ser o espanto, em determinados casos, a marca da
nossa ignorância, da nossa imaturidade e da nossa apatia.
No
último dia 26 de abril, Lula deu em Portugal declarações a uma
jornalista que grande repercussão causaram. Sem maiores preocupações
afirmou ter sido o julgamento da Ação Penal 470 “80% político e
20% jurídico” e disse ainda que que embora haja "companheiros
do PT presos, não se trata de gente da sua confiança".
Nenhum
interesse tenho aqui em discorrer sobre quem seja ou não da
“confiança” de Lula. A declaração só foi importante num único
sentido – na demonstração de indiferença, de superioridade e
arrogância com que o Partido dos Trabalhadores trata a base da
sustentação da “ordem e da paz pública” no Brasil: o Poder
Judiciário.
Mesmo assim, lembro mais uma vez ao leitor não ser
esse o ponto “nevrálgico” dessas linhas e resumo o que quero
apresentar na seguinte frase: “muito me espanta e decepciona o
espanto de todos os outros ao ouvir de Lula tais palavras”.
Nesses
outros a que me refiro incluo o próprio Supremo Tribunal Federal e
seus integrantes que agora, com ares de donzela chocada, repudiam as
declarações criminosas do ex-presidente da República fingindo não
saber que a característica fundamental da relação do PT com Estado
de Direito sempre foi a promiscuidade. Inúmeras foram as vezes em
que essa organização criminosa, disfarçada de partido político,
deixou claro seu respeito à Constituição nas situações que lhe
convém e sua indiferença e repúdio a tudo que reza a Lei quando
contrariados foram os seus interesses.
A
única e verdadeira lição a ser tirada sobre as declarações de
Lula é que divide-se a opinião pública em duas partes: uma
gigantesca e outra desprezível. Excluída a ínfima parcela de
gente que sabe que o PT não precisa de sigilo sobre o que gasta, mas
sobre aquilo que é, a outra (incluídos aí os juízes do STF) finge
o “espanto dos primeiros filósofos” e vem a público indignada
ou fingindo-se indignada com afirmações de pessoas que jamais deram
qualquer importância ao Estado de Direito.
Em
toda história do Brasil, não conheço episódio anterior em que um
ex-presidente da República, em declarações em território
estrangeiro, tenha feito pouco da justiça da Nação. Vindo de
alguém que se preocupa em não causar “constrangimento” à Fidel
Castro tocando no assunto dos prisioneiro políticos cubanos a
declaração de Lula é uma cusparada na cara do país, uma vergonha
para o STF e para todos os juízes brasileiros que agora, a exemplo
dos médicos e dos policiais, são ridicularizados perante o mundo.
Graças a Lula e ao PT o mundo hoje sabe que nossos médicos
“precisam ser mais humanos”, nossos policiais “menos violentos”
e que os nossos juízes precisam julgar “menos politicamente”.
A
desgraça, a maior tragédia de tudo o que descrevi é que Lula
continua em liberdade e seu partido, aproveitando-se de uma
democracia doente, disputando eleições. O PT a tudo atravessa
impávido, como aquele equilibrista de Nietzsche que, na corda bamba,
estava acima do bem e do mal.
No caso do Brasil é o Grande
Alcoólatra que segue se “equilibrando” acima da inocência e da
culpa; bêbados estamos todos nós..
Porto
Alegre, 29 de abril de 2014.
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