O leitor Alex me mandou uma ótima pergunta após meu post anterior, onde iniciei a série Aperitivos da Guerra Política. Segue o questionamento:
Fiz uma coisa que me gerou uma bruta indigestão mental. Estava em uma roda de emcimadomuristas, na maioria jovens sem base alguma política, totalmente guiados por sentimentos infantis como revolta e senso de manada mas com leve tendência direitista ou pelo menos antipetistas.
A conversa se prolongou e quando li este post percebi que usei à exaustão as técnicas de lavagem cerebral à lá MKUltra. Ao término vi na minha frente um monte de gente recheado de sentimentos que antes não possuíam. No início me senti bem propagando e angariando seguidores, mas depois fui me sentindo mal e cada vez pior por começar a me sentir um manipulador parecido com esses esquerdistas. Me senti como um criador de idiotas úteis direitistas, já que eles não foram expostos a muito mais do que informações direcionadas e bem trabalhadas com fins de mudança de pensamento.
Sinto que não dei a eles nenhum subsídio para um diálogo interno psíquico que os levasse a uma análise profunda de suas escolhas futuras. Me senti mal com tudo isso, pois dentro de mim o que nos diferencia desses canalhas esquerdistas é justamente a moral dos nossos atos. Será que vale a pena usar armas tão poderosas nessa luta? Será que para um bem maior (na nossa concepção) vale criar um exército de idiotas úteis? Como achar um meio termo entre o ético e o necessário?
É excelente tratar este tipo de questionamento/objeção. É difícil ensinar métodos úteis quando não tratamos possíveis dilemas como esse.
Porém, vejo um equívoco no uso do termo idiota útil. Um idiota útil é alguém convencido a lutar por uma causa que no fundo é contra seus interesses. Como exemplo, temos as feministas e os gayzistas, que lutam dia e noite para implementar um regime de extrema-esquerda. O problema é que quando os líderes da extrema-esquerda chegarem ao poder vão descartar ambos os grupos que os apoiaram. Logo, estes dois movimentos são compostos de idiotas úteis.
Porém, quando usamos qualquer recurso retórico para convencer alguém a fazer o que é benéfico a ele, não estamos criando idiotas úteis, mas fornecendo âncoras mentais para alguém fazer aquilo que já quer.
Um exemplo claro é quando um médico diz que “o comportamento X vai te matar”. Pode até ser um excesso ou mesmo um truque de ênfase, mas o importante é que alguém estará obtendo recursos psicológicos para fazer aquilo que quer.
Imagine, por exemplo, um coach de gerentes de projetos. Suponha que durante uma sessão de coaching ele diga que “um Gerente de Projetos desejando ser um PMP sempre pensa em X”. Com certeza é um recurso retórico. Mas que só atende aqueles a quem queremos beneficiar. Um livro de Kim Heldman (que usei há mais de 10 anos, quando eu me preparava para a certificação PMP) falava sobre o Código de Ética do PMI. Em seguida, ao ilustrar um dos pontos, ela escreveu: “E, pensando bem, passar um tempo detrás das grades não é bom para a carreira de ninguém”.
Um recurso retórico, com certeza. Muitos leitores riem. E aprendem muito! E passam na prova! Não há idiotas úteis aqui.
O que quero dizer é que um método psicológico não é imoral pelo seu funcionamento, mas pela deslealdade em relação aos nossos interlocutores que se beneficiarão destas âncoras mentais que estamos fornecendo-lhes.
O problema moral não está na retórica, mas na honestidade de nossa mensagem em relação àqueles que estão ao nosso lado. Sim, pois em um debate político temos pessoas que estão ao nosso lado, assim como neutros e, é claro, os oponentes.
No caso da guerra política contra a esquerda, não há problema moral algum em usar todos os bons métodos de propaganda e comunicação eficaz. O discurso da direita, em geral, é baseado na busca honesta de soluções para a manutenção da vida em sociedade. Ao contrário, o discurso da esquerda é arquitetado do início ao fim para enganar incautos. Essa é uma das maiores diferenças morais entre a direita e a esquerda, e é exatamente por isso que nós e eles estamos em pólos opostos.
Quando eu sugiro que assimilemos todos os métodos políticos da esquerda, significa que todas as armas usadas pelos esquerdistas para mentir devem ser usadas por nós para transmitir a verdade. Se usarmos o arsenal da guerra política enquanto falamos verdades que precisam ser transmitidas e internalizadas, eu chego a dizer que estamos executando um imperativo moral.
Sei que pode ser forte o que vou dizer agora, mas é um assunto que já abordei em um livro guardado na gaveta (e que será retrabalhado no futuro) – um livro prometido sobre ceticismo político, que eu escrevi em 2002 e a ser revisado talvez ainda este ano, antes que eu comece a pensar sobre sua publicação. Se nós temos uma verdade em mãos enquanto nos defrontarmos contra um desonesto, e este desonesto faz uso de recursos políticos para transmitir suas mentiras, nós passamos a ser coniventes com a mentira ao não usarmos os mesmos recursos políticos para propagarmos nossa verdade.
Ou seja, a partir do momento em que sabemos comunicar nossa mensagem adequadamente (por aprendermos os macetes da comunicação política), mas não usamos estes recursos, passamos a dizer automaticamente para nós mesmos que “tudo bem que nosso adversário conquiste pontos enquanto falsifica a realidade, mesmo que eu tenha recursos para impedi-lo”. Aí, cientes dessa constatação, teremos que criar racionalizações para justificar por que não agimos para impedir que monstruosidades morais imperassem.
Se nos conscientizarmos de que usar métodos moralmente neutros (como todas as técnicas de propaganda e as demais armas da guerra política) para propagar verdade é um imperativo moral, chego a dizer que alcançamos mais uma constatação incômoda: se eu não passar as mensagens honestas que tenho para transmitir com os recursos políticos que aprendi, estarei sendo, então, um mentiroso.
Ainda em relação ao texto anterior, podemos tratar alguns pontos por esse princípio acima. Veja só três itens, a título de exemplo:
- Se eu estou em um ambiente de guerra política e meu instinto de sobrevivência diz que sempre tenho que ter convicção de poder vencer embates “abertos”, estarei enganando os outros ao dizer que “já perdi” – ou seja, a confiança na vitória não é uma “mentira”, mas uma verdade biológica, para muitos
- Se eu não usar os rótulos adequados para demonstrar a monstruosidade moral de quem defende impunidade de menores, genocídios, escravidão e censura, estarei enganando minha audiência na suavização indevida de termos para tratar verdadeiros monstros como “apenas pessoas enganadas”
- Se eu não disser que há um abismo moral entre nossas propostas e as bizarrices esquerdistas, estou deixando de comunicar a verdade à minha audiência e enganando-os a respeito do verdadeiro estatuto moral do pensamento esquerdista
Em suma, devemos nos sentir culpados quando deixamos de usar as técnicas da guerra política. Isso por que ao mesmo tempo em que temos recursos para fazer com que nossa verdade prospere sobre as mentiras dos esquerdistas, passaríamos a assistir passivamente as sujeiras do oponente reinarem.
Aí sim deveríamos ter um baita peso na consciência. Pelo mesmo princípio, quando passamos a dominar a arte da guerra política e efetivamente usamos esse tipo de comunicação para ajudar aqueles que estão ao nosso lado e aos neutros (e pode ter certeza que se conseguirmos sucesso, eles nos agradecerão), devemos enfim colocar a cabeça no travesseiro e dormir com a sensação do dever cumprido.
Ao Alex: você tem apenas motivos para saber que cumpriu seu dever. E teria motivos para se sentir culpado se não tivesse usado os recursos que aprendeu ao estudar a guerra política.
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