17 de maio de 2014 • 11h00 TERRA
Do lado europeu, a grande resistência ao avanço das negociações provém principalmente do agronegócio francês e irlandês
A União Europeia se prepara para uma "dança das
cadeiras" na próxima semana, com a realização de processos eleitorais
que devem decidir a nova composição do Parlamento Europeu, assim como o
novo presidente da Comissão Europeia e o quadro executivo do bloco.
Enquanto isso, a diplomacia brasileira corre contra o tempo e busca
concluir uma proposta que avance as negociações para um acordo de livre
comércio entre UE e Mercosul antes de junho.
Entre os dias 22 e 25 de maio, os europeus vão às urnas
para escolher os eurodeputados. Em outubro, o Brasil se prepara para
eleger um novo presidente. Consultado pelo Terra, o
comissário europeu de Comércio, Karel de Gucht, reconhece que ambas as
regiões estarão com o foco nos processos eleitorais nas próximas semanas
e meses, mas que existe um “roteiro” para avançar baseado em um mandato
jurídico claro. “Foi acordado em Santiago do Chile em janeiro de 2013 e
reconfirmado em recente reunião dos principais negociadores em Bruxelas
com vista à troca de ofertas de acesso a mercados”, declara.
O presidente da associação EUBrasil em Bruxelas, Luigi Gambardella, avalia que não deve haver “empecilhos” para essa troca de propostas, mas também acredita que se for feita até junho poderia representar um grande impulso às negociações. “A Comissão Europeia trocará os comissários e alguns cargos de alto escalão em novembro.
O presidente da associação EUBrasil em Bruxelas, Luigi Gambardella, avalia que não deve haver “empecilhos” para essa troca de propostas, mas também acredita que se for feita até junho poderia representar um grande impulso às negociações. “A Comissão Europeia trocará os comissários e alguns cargos de alto escalão em novembro.
Porém os
técnicos que já trabalham dentro dos temas não são deslocados como regra
geral”, explica. “Sabemos que faltam apenas alguns pontos para que um
dos países do Mercosul consiga melhorar a oferta dele e aumentar a média
do bloco, uma vez que todos os demais parceiros já colocaram sobre a
mesa a liberalização de mais de 90% (do comércio), que é o mínimo
acordado com a UE”, revela Gambardella.
Diversos analistas em todos os países do Mercosul já destacaram as dificuldades para a Argentina em liberalizar mais de 80% de seu comércio, mas o chanceler brasileiro, Luiz Alberto Figueiredo, colocou panos quentes nas críticas na semana passada e afirmou que o país vizinho está fazendo um “enorme esforço”. “É um mito dizer que existe um atraso por causa da Argentina ou de um país X. É um esforço técnico muito complexo e que está em sua última fase”, defendeu o ministro.
Receio europeu
Do lado europeu, a grande resistência ao avanço das negociações provém principalmente do agronegócio francês e irlandês. Bernard Lannes, presidente da Coordenação Rural (CR) (segundo maior sindicato agrícola da França), reclama do silêncio da Comissão Europeia em torno à retomada de negociações com os Estados Unidos e com o Mercosul.
Diversos analistas em todos os países do Mercosul já destacaram as dificuldades para a Argentina em liberalizar mais de 80% de seu comércio, mas o chanceler brasileiro, Luiz Alberto Figueiredo, colocou panos quentes nas críticas na semana passada e afirmou que o país vizinho está fazendo um “enorme esforço”. “É um mito dizer que existe um atraso por causa da Argentina ou de um país X. É um esforço técnico muito complexo e que está em sua última fase”, defendeu o ministro.
Receio europeu
Do lado europeu, a grande resistência ao avanço das negociações provém principalmente do agronegócio francês e irlandês. Bernard Lannes, presidente da Coordenação Rural (CR) (segundo maior sindicato agrícola da França), reclama do silêncio da Comissão Europeia em torno à retomada de negociações com os Estados Unidos e com o Mercosul.
“O Brasil,
gigante agroalimentar, e a Argentina, terão tudo a ganhar com tal
acordo”, exalta em artigo publicado nesta quinta-feira. “Esses países
não tem sequer as mesmas normas que a UE em matéria de utilização de
pesticidas e de organismos geneticamente modificados (OGM)”, protesta.
Já
os irlandeses manifestaram preocupação com o possível aumento da
importação de carnes do Mercosul. Para a Associação de Fazendeiros
Irlandeses (Ifa), o acordo de livre comércio fechado entre UE e Canadá
em outubro do ano passado já prejudicou muito o setor agrícola europeu e
não deveria se repetir com EUA e a América do Sul. Sobre o Brasil, o
secretário geral da Ifa, Pat Smith, ressalta que o preço da carne
brasileira é 50% menor do que na Europa.
Por outro lado, as associações baseadas em Bruxelas para
cooperação internacional apresentam a mesma face da moeda com mais
otimismo. “O setor agroalimentar brasileiro é muito competitivo e poderá
permitir um comércio mais equilibrado entre os blocos.
As exportações
da UE estão concentradas em produtos de maior valor como azeite, vinhos,
malte e outras bebidas. Com o possível acordo, os produtos
agroalimentares da UE também terão mais cota de mercado brasileiro e por
consequência do Mercosul”, afirma o presidente da EUBrasil.
Arnaldo Abruzzini, secretário-geral da Eurochambres,
associação de comércio que reúne cerca de 20 milhões de empresas na UE,
também pondera que existe complementaridade e que ambos blocos devem
buscar uma situação em que todos ganham. “Ao considerar que a UE
recentemente conseguiu reformar internamente sua Política Agrícola Comum
(Pac), fico confiante de que a Europa também pode avançar deste lado
das negociações (com o Mercosul)”, conclui.
Prestes a terminar o mandato de comissário europeu de
Comércio, De Gucht também defende a continuidade da abertura do comércio
internacional sobretudo em tempos de crise. “Nenhum país nunca se
desenvolveu com fronteiras fechadas: economias abertas crescem mais
rapidamente e tornam-se mais competitivas. Especialmente em tempos de
crescimento lento em casa e as políticas orçamentais rigorosas, o
comércio é uma maneira muito eficiente em termos de custo para
impulsionar o crescimento”, argumenta.
Fim do Mercosul?
Dentro do Brasil, uma das maiores críticas ao avanço das negociações com a UE veio do ex-alto representante-geral do Mercosul, o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, que vaticinou em artigo publicado em abril que um acordo entre a UE e o Mercosul seria o “início do fim” do bloco do cone sul.
Fim do Mercosul?
Dentro do Brasil, uma das maiores críticas ao avanço das negociações com a UE veio do ex-alto representante-geral do Mercosul, o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, que vaticinou em artigo publicado em abril que um acordo entre a UE e o Mercosul seria o “início do fim” do bloco do cone sul.
Entre vários pontos, ele indica que como a tarifa média de
4% para produtos industriais na UE é muito mais baixa do que a tarifa
média aplicada no Mercosul, de cerca de 12%, a União Europeia teria, no
caso de uma eliminação recíproca de 90% das tarifas, uma vantagem muito
maior do que o Brasil.
“E o atual déficit brasileiro no comércio de
produtos industriais com a Europa, que já é significativo e crônico, se
agravaria ainda mais, mesmo com o período de desgravação de quinze
anos”, opinou.
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