| 16 Maio 2014 Midia Sem Mascara
A
potência emergente foi tomada de assalto pelo crime organizado, tanto
nos últimos andares do poder, no grande mundo, quanto no submundo.
De
vez em quando me vem à lembrança a figura do Lula oferecendo o Brasil
para sediar a Copa de 2014 com aquele ar de Moisés malandro levando o
povo à terra prometida. Entre os anos de 2003 e 2007, o governo
brasileiro suou o topete para alcançar o espetacular objetivo. Sempre
fui contra.
Antes
da Copa da África do Sul, a propósito do "Let it be! (Pois que seja!)"
com que o bispo Desmond Tutu respondeu aos jornalistas que lhe
perguntaram se os estádios sul-africanos não se transformariam em
elefantes brancos, eu escrevi: "A FIFA impõe aos países eleitos para
acolher seu empreendimento exigências que só se cumprem despejando
bilhões de dólares nos seus cofres, nas betoneiras das construtoras e
nos altos fornos das siderúrgicas. Se fosse bom negócio, não faltariam
empreendedores interessados em bancar a festa porque sobra no mundo
dinheiro com tesão para o crescei e multiplicai-vos".
Contudo,
os delírios de grandeza e a notória imprudência do líder máximo do
petismo nacional mobilizaram a opinião pública que aceitou a Copa como
um dos símbolos símbolos do Brasil potência emergente. A maior parte do
povo brasileiro, do mesmo modo como espera o último dia de qualquer
prazo para fazer o que deve, esperou o último ano anterior ao evento
para perceber o descompasso entre o oneroso Brasil da FIFA, para inglês
ver, e o carente Brasil dos brasileiros. E aí, alguns pularam,
irresponsavelmente, do oito para os oitocentos: "Não vai ter Copa!".
Como não vai ter Copa? Vai ter, sim, e não serão alguns milhares de
meliantes presunçosos que vão impedir a realização do evento. A estas
alturas, com o pouco de vergonha que nos reste na cara, faremos a Copa.
O
que me traz novamente ao tema é o fato de que Lula quis fazer uma
borboleta e produziu um morcego. Os espaços que nestes dias a mídia do
resto do mundo dedica ao Brasil, em vez de exibir as maravilhas
nacionais como sonhava o Lula, estão tomados por severas admoestações
aos viajantes sobre os riscos de vir ao nosso país. Nosso cotidiano,
descobrem, é assustador. A potência emergente foi tomada de assalto pelo
crime organizado, tanto nos últimos andares do poder, no grande mundo,
quanto no submundo. (Não por acaso, A Tomada do Brasil é o título do meu
próximo livro). Basta-nos assistir os noticiosos do horário noturno
para nos depararmos com cenas que ora lembram ocorrências de países em
guerra, ora nos nivelam com as mais atrasadas republiquetas da África
Subsaariana.
Se
Lula, se Dilma, se o petismo dominante pretenderam transformar a Copa
numa excelente oportunidade para o marketing pessoal, político e - até
mesmo - nacional, seus burros empacaram dentro d'água. Foi mal, para
dizer como a gurizada destes tempos. A atualidade brasileira, a
violência e a insegurança de nossas ruas fazem lembrar o que Eça de
Queirós escreveu numa crônica de 1871 quando se falava, em Lisboa, sobre
os turistas que viriam à terrinha com a construção de uma ferrovia
ligando Portugal à Espanha. Escreveu então o mestre lusitano: "A
companhia dos caminhos de ferro, com intenções amáveis e civilizadoras,
nos coloca em embaraços terríveis: nós não estamos em condições de
receber visitas".
Não
estamos, mesmo. Mas agora, quem pariu a Copa que a embale. Que
apresente e justifique ao mundo, aos nossos visitantes, o Brasil real, a
insegurança das nossas ruas, a violência do cotidiano nacional, nossa
incapacidade de cumprir prazos, a limitação monoglota de nossos
aeroportos, hotéis, restaurantes e táxis e as muitas tentativas de
passar-lhes a perna a que estarão sujeitos. É o lamentável Brasil de
2014.
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