sexta-feira, 2 de maio de 2014

Estratégia de Esquerda: Crença no homem




De todas as estratégias da esquerda, essa é a que mais gera confusão. Pois geralmente podemos falar que esquerdistas quase sempre não acreditam em Deus, mas possuem crença no homem. Ao passo que religiosos acreditam em Deus (obviamente) mas raramente possuem crença no homem.  E isso sempre requer uma explicação adicional.

O termo “crença no homem” não foi criado por mim. Vários autores como Chesterton e John Gray já falaram disso.

Antes de tudo, deve-se entender que “crença no homem” é diferente de “crença na existência do homem”. Considerando este último caso, seria estúpido dizer que homens não existem. Eu sei que existem mais de 6 bilhões de homens (entenda por humanos, portanto não faço diferenciação entre homens e mulheres) no planeta Terra. Portanto, que fique bem claro: praticamente todos, com exceção dos delirantes absolutos, acreditam que seres humanos existem.

Desta forma, sigamos com a análise da “crença no homem”. (E não da “crença na existência do homem”, que está fora de cogitação)


O termo “crença no homem”, por sua vez, deve ser ampliado para explicar o que ele realmente significa:  


Crença na idéia de que o homem, poderá por sua ação, através da razão, empatia e/ou ciência (ou qualquer outro atributo usado para simular âncoras positivas) eliminar as contingências humanas, como luta por auto-preservação, territorialismo, gregarismo e busca pelo poder, para então criar um cenário na Terra em que um grupo específico de homens (estes “iluminados”) protegeriam a humanidade como um todo, com justiça para todos e amplificação da felicidade global.


Quer dizer, estes “iluminados” (seriam os anjos em Terra) que comandariam esse processo, em direção a “novo mundo”, já não teriam mais as contingências humanas. Eles não estariam lá por poder e manutenção de sua auto-preservação, mas sim olhando pelo “bem maior”.

O curioso é que se observarmos a espécie humana, sabemos que aqueles que se dedicaram desta forma 100% altruísta pelos outros dificilmente são os principais lutadores pelo poder. Exemplos incluem pessoas como Madre Teresa de Calcutá e Jesus Cristo, que optaram pela vida simples. E, antes de tudo, sabemos que pessoas que chegam nesse nível de auto-doação são exceções à regra dos seres humanos. São pontos fora da curva.
Entre os lutadores pelo poder, os líderes das principais nações, não temos tais demonstrações de “altruísmo 100%”. Temos, por todas as evidências até o momento, a noção de que para eles o que importa é o poder, o que é explicado, como já disse, pelo darwinismo.

Os fatos nos mostram o seguinte: se dermos poder a grupos, para que estes CONDUZAM a sociedade para o “mundo melhor”, o que teremos na verdade é a presença de totalitarismos, que, após implementados, irão ignorar as promessas feitas, pois a conquista de poder já foi obtida.

Este tipo de constatação é uma coisa óbvia para todas as pessoas não doutrinadas em qualquer uma das formas de esquerdismo. É algo que lembramos quando povoamos nossa mente com as frases que nossas mães nos diziam, na infância: “Filho, não confie em estranhos”. Pessoas normais tendem a ter isso em mente com bastante facilidade. (Note que eu não disse que APENAS os esquerdistas podem cair nessa confiança. Na verdade alguns de direita também podem cair. Mas, pelo fato do pensamento de direita ser bastante cético em termos políticos, a chance diminui. Já este tipo de crença é essencial para todo tipo de esquerdista funcional)

Como eu já abordei a questão no passado, farei uma auto-citação:
Imagine um sujeito que quer sair com uma garota que é apaixonada por histórias de vampiros. Ela conhece decor e salteado todos os livros da série Crepúsculo. Ele tem a seguinte idéia: “que tal fingir que sou um vampiro, e convencê-la de que tenho mais poder que os outros homens, sendo capaz até de entrar na mente dela e viver para sempre?” Mas temos um problema. Se ele disser isso a ela, provavelmente ele será motivo de chacota, e o truque não vai funcionar. Ele pode resolver isso com uma estratégia. Pedir para 2 amigos se relacionarem com a garota, e trocarem informações com ela sobre a EXISTÊNCIA DE FATO de vampiros. Obviamente, terão que usar truques de sugestão, engodos, retórica, etc. O objetivo é fazê-la acreditar que VAMPIROS EXISTEM. Depois desse trabalho feito (e é um árduo trabalho), ele agora chega e vai tentar conquistá-la, aí com uma possibilidade factual, simulando ser um vampiro. Nesse caso também temos duas alegações: (1) eu sou um vampiro, e por isso tenho mais poder que os outros homens que você conhece, e sou capaz de te proteger mais, (2) vampiros existem. Novamente, (2) é a alegação de suporte para que talvez seja possível implementar a alegação (1).
Levando isso para a questão da Dinâmica Social política no uso do discurso de esquerda:
Para que esquerdistas beneficiários obtenham o poder, através de estados inchados, é preciso de uma sequência de alegações também. Observem: (1) Eu, como líder [pode ser Chavez, Lula, Mao, Pol Pot, Obama] cuidarei de todos vocês, e criarei a justiça social, através da ação do estado, eliminando vários sofrimentos, (2) Alguns seres humanos realmente não estão interessados em poder, e se dedicam, como se fossem cópias da Madre Teresa de Calcutá, de forma totalmente altruísta ao tomar conta desses estados, (3) Isso é cada vez mais possível, pois o ser humano está ficando cada vez mais “altruísta/empático”. A sequência de alegações é bem lógica: (3) dá sustentação para (2), que por sua vez dá sustentação para (1). Caso a sequência reversa de aceite, de (3) para (1), não tenha sido questionada, o líder de esquerda que for mais esperto e de boa retórica vai obter o poder tranquilamente, pois já obteve a autoridade moral.
Ou seja, a estratégia de “crença no homem” serve para a manutenção, na mente de todos os esquerdistas funcionais, de que o ser humano PODE criar esse cenário de “correção da sociedade” ou “correção da humanidade”, pois é possível que alguns humanos (especialmente os “iluminados”) tenham esse tipo de comportamento.

Toda a crença no homem é, portanto, uma CRENÇA DE SUPORTE, para que a implementação de sistemas baseados em estados totalitários e/ou inchados seja feita com maior facilidade.

De todos os perfis da esquerda, o humanista é aquele com maior foco na implantação da crença no homem (mas não podemos deixar de lado outras formas como progressismo e marxismo, é claro). Já forneci um exemplo recente no caso do texto de Steven Pinker, com a rotina da “Nova Empatia” (farei um verbete para ela em breve), que visa justamente implementar uma forma de crença no homem, o que não passa de uma variação das trucagens de Rousseau e Hegel no passado.

Livros como “Cachorros de Palha”, de John Gray, ajudam a desmontar tal tipo de crença no homem, mas sempre devemos ter muito cuidado, pois é uma das crenças mais propagadas atualmente. E, caso aceita, permitirá que as crenças seguintes sejam implantadas mais facilmente.


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